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Sturaro e associação da PM comentam fala do secretário Mandarino sobre mortes de policiais; "não foi feliz na colocação"

Na última terça-feira (14/9), o juiz federal aposentado argumentou que "quanto mais policial na rua, mais o risco de morte acontece. É a única explicação que encontro". 

Por Jean Mendes

Sturaro e associação da PM comentam fala do secretário Mandarino sobre mortes de policiais; "não foi feliz na colocação"divulgação/SSP

A fala do secretário Ricardo Mandarino sobre o aumento da morte de policiais militares ainda repercute de forma negativa por quem faz parte da segurança pública da Bahia. Na última terça-feira (14/9), o juiz federal aposentado argumentou que "quanto mais policial na rua, mais o risco de morte acontece. É a única explicação que encontro". 


A reportagem do Aratu On ouviu, nesta quinta-feira (16/9), especialistas da área policial, que são unânimes: o titular da pasta não foi feliz na colocação. Para começar a explicação, o coronel da reserva e ex-comandante de Operações Policiais Militares, Humberto Sturaro, faz uma reflexão: "A palavra é metade de quem fala, metade de quem ouve". 


"Quando você fala que o número de policiais na rua, ele aumenta o risco, não é bem assim que nós enxergamos. O número alto de policiais na rua é pra evitar o risco. Então, por exemplo, naquela localidade que existe um policiamento ostensivo presente, você vê que ali não acontece homicídio. Os crimes de furto e roubo diminuem", sustenta.


"O que eu entendo que o dr. Mandarino quis dizer é o seguinte: na hora que nós, policiais militares, ocupamos um local de risco, dominado pelo tráfico, colocando a sociedade em perigo, a possibilidade de confronto existe", completa. Sturaro ressalta que a PM não é uma polícia de confronto e sim de prevenção, mas os tiroteios ocorrem. 


O coronel, que classifica o secretário Mandarino como "uma pessoa competente e extremamente humana", considera que o juiz "recebeu uma missão muito difícil, que foi substituir a gestão anterior". Antes do atual, a SSP era dirigida até janeiro, por quase 10 anos, pelo delegado da Polícia Federal Maurício Barbosa, afastado por ser investigado na Operação Faroeste. 


O oficial, porém, frisa: "com todo respeito, ele não foi muito feliz na colocação. Para falar sobre segurança pública, a gente precisa conhecer muito. Não só a estrutura do estado, mas as funções específicas da Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Técnica". O presidente da Associação de Praças da Polícia Militar (APPM), Roque Santos, concorda. 


"[Mandarino] foi muito infeliz nas falas dele. Demonstrou desconhecimento da PM e da população da Bahia. Segundo a ONU, para que o policial exerça sua função, tem que ser um para 350 pessoas. Sabemos que é difícil isso. A secretaria carece de estratégias para combater o crime. Precisa investir em tecnologias para que policiais não sejam expostos", ressalta. 


"É nesse ponto que o secretário mostra desconhecimento. Deveria ter no mínimo 130 mil policiais [na Bahia]. Hoje temos cerca de 34 mil. Não é realidade esse quantidade de policiais na rua. É preciso fazer investimento na contratação de policiais. Isso não é uma realidade que policiais morreram porque existe grande número na rua. Morreram porque têm compromisso com a sociedade", argumenta Santos.


Entre sábado (11/9) e segunda (13/9), foram executados os soldados Joanilson da Silva Amorim (Petrolina), Antonio Elias Matos Silva (Porto Seguro) e o tenente Mateus Grec (Cosme de Farias, em Salvador). "O melhor investimento que o estado pode fazer na Segurança Pública é a valorização do policial. Fazer com que ele se sinta valorizado e imprescindível", acrescenta Humberto. 


DEBATE SOBRE O CARGO


No mesmo dia em que o secretário da Segurança falou sobre a questão dos policiais, o coronel da PM Jorge Ubirajara fez um argumento para o governador Rui Costa.


"Qual é o critério que o governador usa para escolher o seu secretário de Segurança Pública?", perguntou o oficial para o executivo do estado. O questionamento do coronel teve um direcionamento: ele quis saber, o porquê, da não escolha de representantes da sua Corporação ou da Polícia Civil para assumir a gestão da Segurança Pública. 






Questionado sobre o episódio, o coronel Humberto Sturaro foi categórico. "O que Ubirajara falou é um sonho que todos nós temos. Um sonho de que a nossa gestão possa ser feita por pessoas que conheçam a nossa causa das Segurança Pública. De que forma? Conhecendo o estado, conhecendo os percalços, conhecendo as crises que nós passamos e conhecendo o ser humano que serve a ela, tanto o policial militar quanto o civil [...] Só que tudo tem local e hora!". 


A SSP da Bahia, tradicionalmente, não vem sendo comandada por agentes estaduais. Antes de Ricardo Mandarino, juiz federal aposentado, a pasta foi chefiada pelo delegado Maurício Barbosa entre 2010 e 2020. Antes, dois PFs também passaram pelo cargo: Paulo Bezerra e César Nunes.


O presidente da APPM reforça as palavras de Ubirajara e Sturaro. "Concordo com o coronel. Quem está preocupado com a segurança concorda. É necessário ter esse olhar técnico e profissional. Para o serviço, o nome tem que ser competente. Não estou julgando o secretário, mas ele demonstra que não tem conhecimento nessa área. Não se vê algum tipo de estratégia para combater o tráfico ou proteger o policial". 


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