Considerar piada Gusttavo Lima contra Lula é fatal pra Esquerda e pra Direita

Publicamente, os políticos vão continuar ironizando a possibilidade de o cantor Gusttavo Lima aderir a uma campanha eleitoral (e já com lugar na janela, concorrendo à presidência). Os marqueteiros também devem tratar com desdém, com pouco caso, ou fazendo alguma anedota de duplo sentido com as letras das músicas sertanejas do seu repertório. 

Só que, internamente, a pesquisa Genial Quaest divulgada na manhã desta segunda (28) provoca uma reviravolta em muitas estratégias que tinham sido traçadas para desenrolar apenas no ano que vem. 

Às 7h desta manhã, quando os dados começaram a ser divulgados, foi como um despertador estridente nos ouvidos de muita gente, apitando que esta semana, e as próximas, vão ser de muito mais trabalho do que já se esperava.

Nos bastidores, o agroboy tem mais apetite para disputar uma vaga ao Senado, por Goiás. E, mesmo que o sertanejo de peito inflado não se aventure a uma disputa eleitoral para o Planalto, tratar os números como piada vai custar caro para todos os lados. 

A pesquisa Genial Quaest divulgada na manhã desta segunda (28) provoca uma reviravolta em muitas estratégias. | Foto: Jose Cruz/Agência Brasil | Reprodução/Redes Sociais

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Cansaço

Ainda que o presidente lidere em todos os cenários, o que se lê nas entrelinhas é que grande parte do eleitorado enxerga o governo como sem marca e Lula, cansado. Não há outra explicação para o fato de o político mais conhecido do país, em terceiro mandato presidencial, com marcas importantes no ambiente doméstico e também no exterior, ter tamanha proximidade com um rapaz que, até outro dia, era reconhecido por bradar tchê tchê rere por aí.

Lima tem a imagem de jovem, de bem-sucedido, estranho ao ambiente geral da política, mas sem ser aquela imagem caricata do anti-político. A grande parcela de fãs o enxerga como dedicado, competente, só que aparentando leveza. O Embaixador está sempre de bem com a vida. E com nítidas preferências de direita.

Gusttavo Lima era apoiador do Governo Bolsonaro. | Foto: Twitter/X

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Abaixo, falamos melhor sobre isso. Antes, um resumo dos dados:

Lula – 30%;

Tarcísio de Freitas – 13%;

Gusttavo Lima – 12%; 

Pablo Marçal – 11%; 

Ciro Gomes (PDT) – 9%; 

Romeu Zema (Novo) – 3%; 

Ronaldo Caiado (União Brasil) – 3% 

Indecisos – 5%; 

Brancos, nulos ou que não vão votar – 14%.

Com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e sem Tarcísio:

Lula – 28%

Gusttavo Lima – 12%

Pablo Marçal – 12%

Eduardo Bolsonaro – 11%

Ciro Gomes – 10%

Romeu Zema – 5%

Ronaldo Caiado – 3%

Indecisos – 5%

Brancos, nulos ou que não vão votar – 14%. 

Cenário sem Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas:

Lula – 32%

Pablo Marçal – 14%

Gusttavo Lima – 13%

Ciro Gomes – 12%

Romeu Zema – 5%

Ronaldo Caiado – 4%

Indecisos – 4%

Brancos, nulos ou que não vão votar – 19%.

O nome de Bolsonaro, propositadamente, não foi incluído na pesquisa estimulada, por ser considerado inelegível. Na pesquisa espontânea, ele aparece empatado com Lula, com 9% das intenções. Gusttavo Lima e Pablo Marçal têm 1%. 

Cenários do segundo turno:

Lula 41% x 35% Gusttavo Lima

Lula 44% x 34% Eduardo Bolsonaro

Lula 44% x 34% Pablo Marçal

Lula 43% x 34% Tarcísio de Freitas

Lula 45% x 28% Romeu Zema

Lula 45% x 26% Ronaldo Caiado

A margem de erro é de um ponto percentual, e a consulta foi a 4.500 pessoas, com 16 anos ou mais, em todo o Brasil, entre 23 e 26 de janeiro.

Causas e Consequências

As implicações são muitas para os dois lados da política, sobretudo, considerando-se que a “candidatura” tem apenas um mês e jamais houve pronunciamento oficial a respeito. (uma indireta num palco ali, em outro aqui, entremeadas por goles generosos de whisky).

Implicações para a Esquerda:

Positivas:

Reafirmação da Base Eleitoral: A presença de um adversário como Gusttavo Lima pode mobilizar novamente a militância em torno de Lula, motivando os apoiadores, caso percebam que a eleição pode ser mais competitiva que o previsto. 

Centralidade do Debate: Pode colocar a agenda da esquerda no centro do debate, forçando uma discussão mais ampla sobre políticas sociais, econômicas e de inclusão, pontos-chaves do discurso progressista.

Negativas:

Desafio de Comunicação: A popularidade de Gusttavo Lima, que não é um político tradicional, pode complicar a estratégia de comunicação da esquerda. Um candidato com grande apelo popular, mas sem um histórico político claro pode atrair eleitores descontentes ou apáticos. Lima é uma tela em branco, que pode ser usada por algum grande artista, ops, estrategista do marketing político. 

Polarização: A figura de Gusttavo Lima pode trazer uma nova dimensão de polarização, não necessariamente ideológica, mas cultural. Muitos já percebem que a Direita está ganhando trincheiras na guerra cultural do Brasil, assim como dominou território nas redes sociais.

Implicações para a Direita:

Positivas:

Renovação do Quadro Político: A emergência de Gusttavo Lima como candidato competitivo pode ser vista como uma oportunidade para renovar o cenário político da direita, trazendo um nome novo que não está associado aos escândalos ou desgastes dos políticos tradicionais.

Ampliação do Eleitorado: Sua popularidade pode atrair um segmento mais amplo da população, incluindo aqueles que não se identificam com a política tradicional, potencialmente ampliando a base eleitoral da direita.

Negativas:

Falta de Experiência e Estrutura: Gusttavo Lima, sem experiência política, pode enfrentar dificuldades em formular políticas públicas ou em organizar uma campanha eficaz, o que pode ser um ponto fraco explorado pela esquerda.

Cizânia interna: A possível divisão de votos com a entrada de um nome tão inesperado pode fragmentar ainda mais o campo da direita, especialmente se outros candidatos conservadores decidirem não apoiar Lima, dividindo assim os votos de oposição a Lula. Bolsonaro, nitidamente irado, que o diga.

São esses apenas alguns dos novos elementos que foram colocados no tabuleiro nesta manhã e vão tirar o sono de muita gente nos próximos dias.

Ah, o nome dele é Nivaldo Batista. Gusttavo virou uma escolha de carreira. Sabe-se lá se vai realmente aparecer nas urnas eletrônicas em 2026.