Jovem baiana é reconhecida por projeto de apoio a atletas de baixa renda
De Salvador, Giovana Lacerda, de 17 anos, fundou associação que foi reconhecida por projeto que oferece suporte a jovens esportistas de baixa renda
Por Juana Castro.
Do exemplo que começou em casa à vontade de transformar o mundo por meio do esporte. Aos 17 anos, a estudante e atleta soteropolitana Giovana Lacerda acaba de ser reconhecida como Jovem Transformadora 2025 pela Ashoka, maior rede global de apoio a iniciativas sociais lideradas por jovens. O reconhecimento veio pelo trabalho desenvolvido à frente da Associação de Apoio à Saúde do Atleta (AASA), projeto pioneiro criado por ela para oferecer suporte médico, nutricional e educacional a atletas de baixa renda.
O anúncio foi feito durante o Festival LED, no Rio de Janeiro (foto acima), onde Giovana apresentou a AASA ao lado de outros jovens líderes da Rede Ashoka. “Foi uma emoção muito grande, porque quando a gente é jovem, vê muitas realidades que quer mudar, não se conforma e pensa, muitas vezes, que está sozinho”, declarou. “O sentimento principal de ser jovem transformadora é saber que eu faço parte de um coletivo, de uma união porque, muitas vezes, é uma luta muito solitária.”
Esporte e impacto social na vida de jovens atletas de baixa renda
O despertar para o ativismo começou cedo. Aos 12 anos, Giovana passou a correr inspirada na própria mãe, a médica endocrinologista Ana Claudia Ramalho, diabética que sempre utilizou a corrida como aliada da saúde. “Minha mãe tem 45 anos, sem nenhuma sequela grave, justamente por conta do esporte. Quando comecei a correr, vi que era mais do que saúde ou bem-estar, era superação”, relata.
Aos 13 anos, chegou a correr 30 quilômetros em um treino. A prática esportiva, no entanto, revelou também realidades duras. Nos treinos na Pista de Pituaçu, em Salvador, presenciou atletas que percorriam longas distâncias em jejum, enfrentando dificuldades para chegar aos treinos - às vezes, a pé, antes do amanhecer. “Imagina o potencial desses atletas! Mesmo passando mal durante o treino, muitos chegavam parelhos a atletas com estrutura. Me indignou que eles não tivessem mais condições para se empenharem ainda mais.”
Foi essa "indignação" que levou à fundação da AASA, em 2024. “O esporte não era só questão de saúde, nem de bem-estar, mas uma questão de sobrevivência e de melhora de condição de vida, do ponto de vista econômico para várias pessoas”, afirma. A associação foi criada inicialmente com apoio de dois colegas atletas e, desde então, vem ampliando sua atuação.
Ações diretas e alcance crescente entre atletas de baixa renda
Hoje, a AASA já impactou entre 250 e 300 atletas diretamente, e cerca de 7 mil pessoas pelas redes sociais (@aasa.atleta). As ações incluem palestras educativas, produção de vídeos sobre alimentação acessível, distribuição de materiais esportivos e doações de itens básicos.
“Nosso objetivo é mostrar que, com o que o atleta já tem em casa, é possível montar uma alimentação saudável. Mostramos, por exemplo, como medir proteína no frango usando a própria mão, como se fosse uma ‘régua natural’”, explica. “A gente foi dando essas informações e recebemos uma doação bem grande da Nutrimaster, que nos encorajou bastante.”
Outra ferramenta utilizada pela associação é o podcast “Caminho de Areia”, disponível em plataformas como Spotify e YouTube, com histórias inspiradoras de atletas baianos. Giovana ressalta que as ações são conduzidas, preferencialmente, por profissionais com trajetórias semelhantes às dos beneficiários.
“A gente acredita muito que o jovem precisa ter uma referência que venha de um cenário parecido com o qual esse atleta veio”, explica.
Rede de voluntários e novos planos
A AASA conta atualmente com cinco voluntários fixos e busca ampliar seu alcance por meio de um novo programa de embaixadores. “Queremos que qualquer jovem atleta possa fazer parte, criando um projeto em nível de bairro ou cidade”, conta Giovana. “Quando ele se inscrever no formulário, já pode indicar quais atividades tem interesse de replicar e vamos direcionando esse embaixador a conseguir um profissional, por exemplo, para uma palestra.”
A associação também mantém um programa de conexão com profissionais de saúde, principalmente nutricionistas. “Entre abril e maio, uma nutricionista fez grupos nos quais apresentava os componentes da alimentação de um atleta e depois elaborava planos alimentares personalizados”, relata. “Tudo é válido para a transformação. A gente quer que a pessoa não se sinta sozinha, desconectada de toda uma rede.”
“Qualquer jovem pode contribuir de diversas maneiras, até de repassar uma mensagem ou divulgar as ações no Instagram”, convida. “Às vezes, a própria existência já transforma outras pessoas.”
Família, escola e persistência
Além de dirigir a AASA, Giovana cursa o 3º ano do ensino médio e segue competindo em corridas de longa distância - em 2024, completou duas meias maratonas. “Gosto muito de fazer o trabalho da associação. Me faz muito bem. Sempre estou fazendo uma iniciativa aqui, ali, nem que seja postar um vídeo, porque não quero deixar esse projeto morrer de jeito nenhum, porque é algo realmente transformador.”
O esporte é parte essencial da rotina da família. Seu irmão mais novo, Pedro Ramalho Lacerda, de 13 anos, é nadador e voltou premiado da Copa Pacífico, no Equador. “Medalhou lá e tudo!”, orgulha-se. “Tenho essa vivência muito forte, mesmo, do esporte aqui em casa.”
Para Giovana, a valorização do atletismo é uma vitória pessoal e coletiva. “Até antes de ser Jovem Transformadora da Ashoka, o atletismo era uma área pouco valorizada. Quando a gente pensa em esporte no Brasil, é sempre futebol. Fico feliz com essa valorização, porque acredito que pode mudar a vida de muitas pessoas.”
Acompanhe mais o trabalho da AASA no Instagram.
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