Deputados evangélicos baianos aquecem polêmica e postam foto de beijo entre Mulher-Maravilha e Super-Homem; "sigo o que a Bíblia diz"
As postagens dos deputados e do jogador, no entanto, não se atêm ao fato de que a personagem dos quadrinhos não é considerada heterossexual pelos roteiristas
Instagram / @depsamuejluniorDeputados em processo de expulsão do PDT, o federal Alex Santana e o estadual Samuel Jr. entraram em mais uma polêmica na última quinta-feira (28/10), e deram prosseguimento à provocação que teve início após demissão, na quarta-feira (27/10), de Maurício Souza, do time de vôlei do Minas, após postagem homofóbica no Instagram.
Por meio do Instragram, os parlamentares, que são pastores ligados à Igreja Evangélica, compartilharam fotos em que o Super-Homem beija a Mulher-Maravilha – ambos são heróis dos quadrinhos da DC Comics -.
As postagens são uma defesa ao jogador de vôlei, que foi criticado e demitido do clube mineiro após, no Instagram, criticar um HQ que traz o filho do Super-Homen bissexual e beijando outro homem.
“O fato de respeitar outras opiniões não me obriga a concordar com elas. Eu sigo o que a Bíblia me diz, eu defendo o que está de acordo com a Bíblia. Não a homofobia, não ao preconceito, sim a liberdade de expressão inclusive a dos cristãos”, escreveu Santana.
“Esse é o padrão do super-herói que todos conhecemos. Um homem de família. Defendendo fracos e oprimidos. O herói que estão desenhando quer perverter os valores da família tradicional, condenando a heteronormatividade. Infelizmente só nos resta orar”, postou Samuel.
Em outra postagem, Samuel afirmou que “as forças das trevas têm se levantado com muita força contra o padrão divino para impor como normal aquilo que a Bíblia diz que é abominável”.
Ele ainda afirma que a heteronormatividade é um “padrão cristão, bíblico e biológico” que vem sendo “ combatida com muita força, sobretudo na cultura pop e nos produtos de mídia voltados para crianças e adolescentes”.
Após ser demitido, Maurício foi às redes sociais, reiterou a opinião, e postou imagem semelhante às que postaram os deputados baianos, para defender o que classifica como liberdade de opinião.
MULHER-MARAVILHA
As postagens dos deputados e do jogador, no entanto, não se atêm ao fato de que a personagem dos quadrinhos não é considerada heterossexual. O ex-roteirista do principal título da Mulher-Maravilha nos quadrinhos da DC, Greg Ruck, afirmou que a super-heróina é "queer", termo utilizado para pessoas que não se identifiquem como heterossexual.
Em entrevista em 2016 ao site "Comicosity" , o roteirista baseou sua resposta na sociedade utópica de Themyscira, a terra na qual vivem as amazonas de "Mulher-Maravilha" e que, segundo sua opinião, consiste entre outros aspectos na inclusão e na aceitação da diferença.
"Supõe-se que seja o paraíso. Você deve conseguir viver feliz. Você tem que poder -- em um contexto no qual uma pessoa possa viver feliz, e parte das necessidades para a felicidade seja ter um parceiro -- ter uma relação gratificante, romântica e sexual. E (em Themyscira) as únicas opções são mulheres", argumentou Rucka.
O roteirista indica que, neste cenário, as convenções sociais com as quais somos acostumados não existem. "Uma amazona não olha para outra e diz: 'Você é gay'. Não fazem isso. Esse conceito não existe", argumentou o roteirista, que, ao trabalhar a personagem com a ilustradora Nicola Scott, deu a entender que a super-heroína "obviamente" teve relações com mulheres no passado.
SAÍDA DO PDT
Embora estejam no PDT, partido tradicionalmente ligado à esquerda, Samuel e Alex têm se posicionado em favor do bolsonarismo. Atualmente, eles são especulados no PP, possível destino do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas que, na Bahia, apoia o governo Rui Costa
As especulações ganharam força após o presidente do partido no estado, Félix Jr., anunciar que a sigla deu início ao processo de expulsão de ambos por "infidelidade partidária".
"Demos início hoje ao processo de expulsão do PDT do deputado federal Alex Santana e do deputado estadual Samuel Araújo. O motivo: a infidelidade partidária explicitada na participação dos dois em atos, votações e postagens contrárias às decisões do partido", publicou o dirigente, no Twitter, em setembro.
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