Interior

Mulher trans denuncia PMs por agressão na Bahia; "me pegou pelo cabelo e disse: 'Volta, viado'"

A ocorrência aconteceu no dia do segundo turno das Eleições 2022, no último domingo, 30 de outubro, em Nazaré das Farinhas

Por Bruna Castelo Branco

Mulher trans denuncia PMs por agressão na Bahia; "me pegou pelo cabelo e disse: 'Volta, viado'"  Créditos da foto: Ramon Lisboa/TV Aratu


Nesta quinta-feira (3/11), uma mulher chamada Perla Andrade foi até a corregedoria da Polícia Militar denunciar ataques e agressões que diz ter sofrido por agentes da corporação. De acordo com ela, além de agressões físicas, os policiais a atacaram com palavras transfóbicas, dizendo, inclusive, que era para ela falar "o nome de homem" dela.


Além de ter sido agredida, Perla afirma que a PM também agrediu a mãe dela, de 75 anos, que tentou defender a filha durante a ação. A ocorrência aconteceu no dia do segundo turno das Eleições 2022, no último domingo, 30 de outubro, no município de Nazaré, no Recôncavo da Bahia.


Perla e a família estavam comemorando as Eleições na frente de casa quando foram abordados por policias do 14º Batalhão (BPM/Santo Antônio de Jesus). Inicialmente, como relata a vítima, a abordagem foi pacífica e foi solicitado apenas que Perla e os familiares baixassem o volume do som.


Os policiais, ainda de acordo com a vítima, saíram do local, mas voltaram agressivos. Em um vídeo, obtido pela reportagem do Grupo Aratu, dá para ver bate-bocas e agressões. Um homem chamado Thiago dos Santos e uma criança, de apenas quatro anos, sobrinhos de Perlla, também foram agredidos.


"Meu sobrinho disse: 'Hoje é dia de eleição, ninguém pode ir preso'. E foi o motivo de ele querer agredir o meu sobrinho. Eu entrei na frente e ele [um PM] começou a filmar. Meu sobrinho disse: 'Isso é uma palhaçada, estar filmando pai e mãe de família'. Minha mãe de 75 anos viu, encontrei ela com o meu sobrinho, ele [um PM] 'engarguelando' e batendo, deu um soco nela, ela caiu debaixo da viatura".


Perlla filmou toda a ação. Quando um agente notou que ela estava com o celular, ela conta que ele tirou o aparelho da mão dela, jogou no chão e pisou. "Me pegou pelo cabelo e disse: 'Volta, 'viado''. Arrancou o meu mega [mega hair], que nem eu sei onde foi voar o meu mega até hoje". A irmã de Perlla, Jorgiane dos Santos, e o filho dela, Thiago, foram levados para a delegacia.


Os policiais do 14º BPM negam as acusações. Por nota, a corporação disse que, durante rondas preventivas, os agentes encontraram um veículo "com som alto e uma grande quantidade de pessoas bloqueando a via, perturbando o andamento do pleito eleitoral, no bairro Alto do Cruzeiro, município de Nazaré, no final da tarde de domingo".


Segundo a polícia, neste momento, "dois homens" desacataram os agentes públicos e receberam voz de prisão - porém, não fica claro quais homens seriam esses -. "Não foram dois homens, fomos eu e meu filho. Quando tentaram pegar o meu filho, eu me joguei dentro da viatura", conta Jorgiane, que afirma que ela foi agredida novamente dentro da delegacia. "Puxaram meu cabelo e disseram que meu filho era meu macho, por isso que eu estava defendendo".




Em nota, a PM diz: "Momento em que populares iniciaram uma tentativa de retirar os detidos em posse da equipe, que utilizou a força de maneira progressiva e controlada de forma a se desvencilhar da multidão e conduzir os suspeitos. Os dois homens foram detidos e conduzidos à delegacia do município, onde a ocorrência foi registrada".


Sobre as denúncias de Perlla, a corporação informou que disponibiliza os canais de comunicação institucionais para recepcionar os relatos, "a exemplo do 0800 284 0011 (Ouvidoria) e o endereço da Corregedoria geral da corporação, localizada na Rua Amazonas, nº 13, Pituba". O sigilo da fonte, de acordo com a PM, é garantido.


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