SÓ RUÍNAS: Por risco de queda de casarão, Salvador tem rua interditada há mais de 15 anos
SÓ RUÍNAS: Por risco de queda de casarão, Salvador tem rua interditada há mais de 15 anos
?Eu moro aqui há mais de 30 anos e a situação desse sobrado e dessa rua interditada já tem uns quinze anos. Isso, porque os ônibus não podem passar por causa da trepidação?
O relato acima é da bibliotecária e moradora do bairro do Barbalho, em Salvador, Rita Leal, de 57 anos. O sobrado, ao qual ela faz referência, é a ruína de um antigo casarão que fica em frente à sua casa, em uma transversal das ruas São José de Cima e São José de Baixo.
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As paredes do prédio, que mantém de pé, basicamente, apenas sua fachada, apresentam várias fissuras e risco iminente de desabamento. A via onde ele se encontra já foi de grande tráfego de veículos, mas por conta dessa situação, está há vários anos interditada.
O problema do casarão, segundo ela, agravou desde que o imóvel foi atingido por um incêndio. Dona Rita informou ao Aratu Online, que, na ocasião, o proprietário começou a demolir a edificação, mas teve sua ação impedida pela Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
?Ele foi obrigado a reconstruir aquela parede lá de cima que já havia sido derrubada?, disse, apontando para o prédio. Apesar do embargo da demolição, ela comenta que, até então, não houve uma atuação, por parte dos órgãos públicos, capaz de colocar ponto final no problema. Até hoje, foi feito, apenas, o escoramento com vigas metálicas.
?Quem vem sempre aqui é a Conder. Primeiro, eles colocaram contenção de madeira, mas a madeira começou a apodrecer. Depois, eles vieram e taparam as janelas e buracos, porque o casarão estava virando ponto de tráfico e uso de drogas?, informou a bibliotecária.
DEFICIENTES VISUAIS CONVIVEM COM O PERIGO
Se quem passa e vê o antigo prédio prestes a desabar fica amedrontado, deve ser difícil a situação das pessoas que não enxergam e caminham, frequentemente, pelo local sabendo que existe o perigo. Pois é, dando um maior grau de preocupação ao cenário, o Instituto de Cegos da Bahia (ICB) está localizado a poucos metros do tal casarão.
Dessa forma, é bastante comum encontrar deficientes visuais por ali. No momento da nossa reportagem, conseguimos um relato nada agradável de um cego. Paulo Henrique dos Reis, 38 anos, havia acabado de se machucar. Ele não foi atingido por pedaços da construção em ruína, mas tinha batido com a testa em uma das vigas de contenção e ficou com um leve hematoma.
Paulo Perdeu a visão desde os 10 anos de idade. Já foi aluno do ICB, mas atualmente é assistido pela área médica e seguia para uma consulta com o oftalmologista. ?Colocaram aquelas colunas de ferro pra segurar o casarão, mas a gente sempre tá se batendo?, ressaltou, acrescentando que faz o caminho há mais de 20 anos.
A professora de Braille do ICB, Silvânia Macedo, 42 anos, é também portadora de deficiência visual e lamenta que os transtornos aconteçam em um local que ela admite ter algum tipo de adaptação para os cegos.
?Nós utilizamos essa passagem aqui pela acessibilidade que ela tem. Sabemos dos riscos. Porém, é necessário que o poder público tome uma providência, porque tudo pode desabar a qualquer momento?, desabafou.
COMÉRCIO E ESCOLAS
Funcionários do Mercadinho Delta, que fica colado à ruína, convivem diariamente com o medo de um desabamento repentino da estrutura. Rosemary Bittencourt, que trabalha no estabelecimento, mostrou à nossa reportagem que as paredes do fundo e parte da lateral do casarão balançam, algumas vezes, e se caírem podem provocar uma verdadeira tragédia.
O aposentado Hamílton Rodrigues, de 61 anos, fazia compras no local e deu o seu depoimento. Morador da região há 16 anos, ele disse que no período da construção dos túneis da Via Expressa Baía de Todos os Santos, foi preciso reforçar o escoramento do antigo prédio para que não caísse. ?Inclusive, tem várias residências aqui com escoramentos internos?, informou.
Três unidades de ensino ? o IFBA, a Escola Municipal Terezinha Vaz, além de um colégio particular ? estão situadas no entorno do problema e parte dos estudantes dessas instituições transita pela área de risco, até mesmo, porque existe um ponto de ônibus que fica bem próximo ao casarão.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES
Em contato com a assessoria de comunicação da Conder, o Aratu Online foi informado que o único imóvel de responsabilidade do órgão, no Barbalho, é o de número 74, localizado na Rua São José de Cima. Segundo a Conder, ele será utilizado para a construção de unidades habitacionais para o servidor público. O projeto já foi elaborado e estão sendo buscados recursos para iniciar a produção das moradias. No momento, o imóvel encontra-se escorado. A informação, no entanto, não deixa claro se o casarão citado seria o mesmo tratado nesta matéria.
Também questionado sobre o assunto, o Iphan afirmou através de sua assessoria de comunicação que o imóvel não se encontra em área protegida pelo órgão. Consultado, o Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) disse que não há imóveis tombados no bairro do Barbalho.
Em nota, a Transalvador informou que cabe apenas esclarecer a situação de bloqueio da via, não sendo de sua competência falar sobre o risco de desabamento e providências nesse sentido. Conforme o órgão municipal, a via somente é bloqueada quando há risco de acidente, em razão da segurança das pessoas. No caso em questão, a Transalvador esclarece que deve ser provocada pelos interessados, para que acione a Defesa Civil e possa, em conjunto, avaliar a possibilidade de reabertura da via. Entretanto, a nota esclarece que o bloqueio da localidade citada não oferece qualquer impacto negativo ao tráfego.
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