"Quero ver mamãe; voltar pra casa", diz criança levada pelo pai há três meses em Salvador; mulher acusa ex de não devolver filho
A entrevista exclusiva com Catharina, na íntegra, será publicada em breve no youtube.com/originaisaratuon
"Quero ver mamãe; quero voltar pra casa". Entre o choro infantil, essas foram as palavras do filho de Catharina Galvão, pouco antes de completar três anos. No vídeo, obtido com exclusividade pelo Aratu On, a jovem, de 23, conversa com a criança por videochamada, um dos raros momentos que conseguiu ao longo de três meses que está sem vê-lo.
"Você quer ver a mamãe? Oh, meu amor, é só um tempinho... daqui a pouco você volta, eu prometo", responde Catharina. Veja abaixo:
O desespero de Catharina começou no dia 18 de abril, quando a criança deveria voltar para a casa dela após um fim de semana com o pai, o advogado Paulo Roberto de Aguiar Valente Junior, de 38 anos. Porém, o pequeno não retornou e, nesta segunda-feira (19/7), ela decidiu expor a situação. “Não queria chegar a esse ponto de exposição, para preservar o meu filho, mas aguentei até o último minuto e pra mim chega”, escreveu nas redes sociais.
“A guarda unilateral é minha. Ele só tinha direito à visita, mas, desde o início, se apossou ilegalmente do meu filho”, disse Catharina ao Aratu On. “Tenho medida protetiva contra ele, então não falo com ele, meu contato era com o avô paterno. A gente [família dela] pediu para que ele devolvesse a criança, mas ele me acusou de maus-tratos, o que obviamente não conseguiu provar, porque é mentira”, acrescentou. “Só que ele tem feito alienação parental com meu filho, diz que [o menino] não quer voltar para casa, que está me negando, e que quando houvesse uma decisão do juiz ele iria obedecer”.
Contudo, Paulo burlou a decisão, ou melhor, as decisões, segundo Catharina. “Antes disso, fizemos um acordo, homologado na Justiça, de que as visitas do meu filho à casa dele seriam feitas apenas com supervisão de acompanhante. Contratamos pessoas só para isso, mas, depois de um tempo, desconfiamos que ele estava ficando sozinho”, disse. “Resolvemos seguir o avô, que vinha buscá-lo, com a acompanhante, e descobrimos que ele a deixava em uma estação de metrô (vídeo abaixo), e depois meu filho ia ‘sozinho’ para a casa do pai. Na volta, ele pegava a funcionária no metrô novamente e trazia os dois pra casa”, explicou a jovem.
Quando a família de Catharina descobriu isso, contratou outra pessoa, com quem ocorreu o mesmo, e depois outra acompanhante. Essa última foi quem ouviu, e contou à mãe do garoto que o pai e o avô estariam planejando não devolvê-lo. “Ela mandou mensagem pra gente, foi um desespero, mas Paulo ameaçou dar queixa dela, dizendo que ela não deveria expor a intimidade dele. Ela ficou com muito medo”. A funcionária foi mandada embora e o pai não entregou a criança.
BUSCA E MULTA DE MIL REAIS POR DIA
Catharina disse que sempre pedia notícias do filho, mas raramente conseguia. “Só quando ele [Paulo] queria, mandava um ‘ele está bem’”. Foi aí, então, que a família da mãe tentou medidas mais sérias, e no período do São João saiu um despacho judicial de busca e apreensão. Na ação, o juiz determina que a busca pelo menino seja cumprida com “a presença de força policial”. Há também uma multa de descumprimento de R$ 1 mil por dia. “Acho que ele pensa que está acima da lei”, disse a mãe, destacando que Paulo Roberto é advogado: “não é um leigo”.
“A gente tentou cumprir [o despacho] com o oficial de Justiça, foi lá, mas ele não apareceu, nem atendeu ao telefone. Hoje [nesta segunda-feira, 19 de julho], a gente tentou de novo, com autorização da força policial. Esperamos encontrar ele para poder chamar a polícia, fomos em todos os endereços possíveis e não encontrou. Também tentamos contatar o pai dele, que ficou de retornar e não retornou, não atendeu mais o telefone”.
OBSTRUÇÃO DE JUSTIÇA
Segundo uma das advogadas da jovem, Monica Santana, a atitude de Paulo Roberto é caracterizada como obstrução de Justiça. “Temos que aguardar o oficial informar no processo que não conseguiu cumprir o mandado de busca e apreensão do menor. Ele está - realmente - fugindo do oficial de Justiça”, explicou.
"RELACIONAMENTO ABUSIVO"
Catharina e Paulo se conheceram em 2017, então com 19 e 34 anos, e cerca de dois meses depois ela descobriu que estava grávida. Ela conta que os primeiros meses da gravidez foram tranquilos, mas, na reta final, começou a passar por algumas situações com ele e a família dele, principalmente com a ex-sogra. "A mãe dele queria controlar tudo o tempo todo e me desgastava, realmente. Já acordei com mensagem dela falando que o nome que escolhi para meu filho era horroroso, e na gravidez a gente está à flor da pele”, contou. “Isso começou a me afetar muito, até que eu pedi para ele conversar com a mãe dele sobre respeitar aquele momento".
Pouco antes da criança nascer, Catharina descobriu que precisaria fazer uma cesárea, porque havia pedido muito líquido amniótico, o que poderia comprometer a vida do filho. Ela pediu, então, para que Paulo conversasse com a mãe para que ela não fosse, a fim de evitar stress naquele momento. "Não porque eu não queria, mas porque eu não aguentava", disse. Porém, a vontade da jovem foi desrespeitada.
"Com menos de 24 horas de parto, eu estava amamentando e ela entrou gritando. Lembro que eu saltitava de tão nervosa. Depois descobri que tive um ataque de pânico", relatou.
Nos primeiros meses de vida do filho, ela morava com a mãe e o irmão, e as ameaças de Paulo, segundo Catharina, começaram cedo. "Porque ele queria que eu fosse morar com ele, senão faria da minha um inferno. O bebê não tinha nem um mês de nascido e teve um dia que minha mae precisou entrar no quarto para que ele parasse".
Ela, no entanto, foi morar com o pai da criança, pouco depois. "Ele criava uma situação que eu ficava contra a minha família. Fiquei sem falar com minha mãe e meu irmão por um ano e meio", afirmou. "Um relacionamento abusivo sempre é difícil. No puerpério, então... Mas eu não me dava conta. Foi a primeira vez que me envolvi com uma pessoa mais velha que eu, também", confessou. Ela disse que descobriu algumas traições dele, até que um dia o então companheiro chegou "alterado [bêbado]" em casa, e disse que lhe "daria um murro". "Eu fiquei com medo. Ele tinha 1,90m... Eu ia apagar na hora. O que ia acontecer com meu filho? Ele chegou a tentar, uma segunda vez, eu desviei e o soco pegou no armário da cozinha. Foi ali que eu despertei e decidi ir embora", completou.
RESPOSTA DO PAI
O Aratu On tentou entrar em contato com Paulo Roberto diversas vezes durante esta segunda-feira, sem sucesso. Contudo, o advogado compartilhou uma série de vídeos, no Instagram, rebatendo as acusações feitas por Catharina. Ele diz que não é foragido e que estava viajando para Mangue Seco, divisa entre Bahia e Sergipe, e que o filho teria ficado com os pais, em Salvador. Ele acusou Catharina de maus-tratos à criança.
"O que a mãe do meu filho não responde a ninguém, nem nos processos, é o porque meu filho narrou que foi queimado por ferro por ela. Além de outras situações, de mentiras, de alienação parental. Em abril, quando meu filho deveria passar o dia comigo, a mãe negou esse direito. E a babá que trabalhava na casa dela, funcionária dela, noticiou que era porque meu filho estava com marcas roxas no corpo e vomitando. Logo busquei a Derca (Delegacia Especializada de Repressão a Crime Contra Criança) e não permiti que meu filho retornasse", diz. "Deus sabe de todas as coisas e a verdade, tão cedo, aparecerá".
A publicação foi removida do Instagram.
MÃE NEGA MAUS-TRATOS
Por fim, Catharina disse que nunca maltratou o filho, e que o levou no pediatra um dia antes, "por coisa de Deus", e pode comprovar que a criança estava em perfeito estado. "A médica se supreendeu com o quanto ele estava bem e desenvolvido para a idade", disse ao Aratu On. "Se meu filho estava machucado, porque ele não conseguiu provar?".
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