ONDA DO CRIME: BDM mantém organograma após cinco mortes de lideranças e 14 prisões
ONDA DO CRIME: BDM mantém organograma após cinco mortes de lideranças e 14 prisões
O Bonde do Maluco (BDM), facção criminosa criada em Salvador e responsável principalmente por tráfico de drogas e homicídios, levou um baque nos últimos dois meses. O balanço de uma força-tarefa que inclui as Polícias Civil, Federal e Militar aponta cinco mortes de lideranças, além de 14 prisões e apreensão de toneladas de drogas.
O estopim para a ação policial foi a morte do maior chefe operacional da quadrilha: Marcelo Batista dos Santos, conhecido como “Marreno”. Seu “reinado” acabou na noite de uma quarta-feira, 9 de agosto, quando o traficante passava pela BA-099 (Linha Verde), junto com o comparsa e motorista, Anselmo Nascimento Sena.
Segundo a Polícia Militar, ambos trocaram tiros com agentes do Comando do Policiamento Especializado e não resistiram aos ferimentos. Com “Marreno” e seu escudeiro, foram achados uma pistola ponto 40 e uma espingarda calibre 12, além de dois tabletes de maconha e munição. A polícia já sabia, mas o que os membros do Bonde do Maluco não imaginavam é que começava ali a mais eficaz reação das forças de segurança contra a organização.
O coordenador da força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP) é o major Marcelo Barreto. Para ele, mesmo depois das ‘baixas’, os criminosos já podem ter um novo chefe. “Já temos algumas hipóteses, até porque nunca deixamos de fazer esse acompanhamento com o intuito de realizar um trabalho direcionado”, explica.
Também integrante do força de segurança e principal responsável pelas investigações, o coordenador do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), Marcelo Sansão, ratifica a informação do oficial, mas acrescenta a importância de combater os bens e valores levantados com a movimentação do tráfico. “Ao mesmo tempo das prisões, fazemos a identificação do patrimônio, como no caso do líder da quadrilha, e pedimos o ‘sequestro'”, destaca.
Somente de “Marreno”, a polícia conseguiu apreender uma casa de luxo avaliada em R$ 3 milhões em Alagoas, além de carros, joias e dinheiro encontrados em várias contas bancárias.
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ORGANOGRAMA
O Bonde do Maluco foi criado dentro da Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, pelo assaltante de banco José Francisco Lumes, o “Zé de Lessa”. Alvo de diversas operações, inclusive no Mato Grosso do Sul, o criminoso está foragido e estampa há muito tempo o Baralho do Crime da SSP baiana.
Homem de confiança de “Zé”, “Marreno” também tinha pessoas em que podia confiar. A maioria delas foram achadas durante a operação “Balão Mágico”, desencadeada pouco mais de uma semana após a morte do chefe. No dia 18 de agosto, morre, também em confronto, Laelson Santana, o ?Galego?. Ela era responsável pelas decisões estratégicas do Bonde do Maluco. Naquele mesmo dia, outras dez pessoas foram presas na Bahia e em Sergipe.
Mariana Oliveira Costa, André Luís Bacelar de França, Geraldo Silva dos Santos, Wagner Bacelar Costa, Daniela Santos Canuto, Caio Vinícius Nascimento Santos e Maria Auxiliadora Bacelar Costa foram presos na Bahia. Já em Aracaju, os policiais capturaram Luís Henrique Oliveira de Freitas e Juliana Santos Teles da Silva. Todos tinham mandados em aberto. Já Sérgio de Jesus Lima também foi localizado por porte ilegal de arma e tráfico.
Os outros suspeitos de compor o bando, Emerson Teles de Almeida, 18 anos, e Josuel Pinheiro da Costa, também receberam a visita da polícia. O primeiro, inclusive, exercia papel importante na organização, armazenando drogas.
Em 9 de outubro, outros homens ligados diretamente a “Marreno” foram tirados de circulação. Dois deles também confrontaram equipes da Polícia Militar e morreram. Diego Ferreira Figueredo, mais conhecido como ?Açúcar?, e outro homem não identificado à época, saíam do aeroporto Luís Eduardo Magalhães quando foram surpreendidos. Diego saiu de São Paulo após Vinícius dos Santos Bacelar, conhecido como ?Fofão?, ser achado pela SSP.
“Vinícius e Diego eram responsáveis por tráfico de drogas e assaltos a banco. Assim como ‘Marreno’, tinham ligação com a liderança prática do grupo”, frisa o coordenador do Draco.
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TOQUES DE RECOLHER
Os integrantes do bando fizeram pelo menos dois grandes ataques após as baixas. O primeiro e mais forte deles aconteceu um dia depois da morte de “Marreno”em vários bairros da capital e cidades da Região Metropolitana. Na ocasião (10 de agosto), ônibus foram incendiados e a população, com medo, ficou acuada dentro de suas casas por pelo menos 24 horas.
Curiosamente, o outro ‘ataque’ foi registrado um mês após o primeiro, no dia 10 de outubro, no bairro do São Gonçalo do Retiro, reduto do traficante conhecido como “Açúcar”. Ônibus deixaram de circular e o comércio na região acabou fechado.
Quando acontece esse tipo de distúrbio, unidades especializadas da Polícia Militar são acionadas. O comandante e também membro da força-tarefa da SSP, coronel Humberto Sturaro, explica que as unidades são orientadas a reprimir principalmente o tráfico.
“Estamos atentos a tudo, principalmente às facções. Trabalhamos baseados na ‘mancha criminal’ e ocupamos áreas por meio da Patamo [Companhia Tático Móvel] para sufocar o tráfico”, conta.
Em todas as ações que resultaram em um ‘baque’ no Bonde do Maluco, unidades especializadas estavam presentes. “Nosso papel é cumprir os mandados pela capacidade diferenciada dos agentes”, acrescenta Sturaro.
PRÓXIMOS PASSOS
O delegado Marcelo Sansão e os oficiais da Polícia Militar, Barreto e Sturaro mantêm o mistério e não revelam o nome de quem poderia ter assumido a vaga deixada por “Marreno” após sua morte. No entanto, eles garantem que “as operações não vão parar”.
Questionado sobre a possibilidade de já existir uma expansão do Bonde do Maluco para outros Estados, o major Barreto não descarta a hipótese. “Tecnicamente, onde eles encontram pouca resistência, há a possibilidade de expansão”, conclui.
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*Publicada originalmente às 6h (19/10)