A PÍLULA: Por que anticoncepcional para homens foi interrompido e mulheres seguem usando?
A PÍLULA: Por que anticoncepcional para homens foi interrompido e mulheres seguem usando?
A ciência chegou perto de comercializar um anticoncepcional masculino de alta eficácia ? 96% dos 320 indivíduos com relação monogâmica estável responderam bem ao método – mas após 4% dos participantes relatarem efeitos colaterais ?intoleráveis? como depressão, alteração do humor, variação da libido, acne e ganho de peso, os pesquisadores decidiram interromper os testes.
No entanto, quando o assunto é a mulher, o discurso é outro. Comercializada desde 1957, a pílula anticoncepcional feminina foi fundamental na emancipação feminina e na revolução sexual. Porém, as altas dosagens e a sobrecarga de hormônios têm efeitos tão desagradáveis quanto nos homens. O histórico do medicamento na mulher vai de conseqüências consideradas leves, tais como aumento de peso, queda da libido, aumento de pelos e dores mamárias, até a proliferação de cistos e nódulos pelo corpo, além de AVC e trombose.
Laila Tainan, de 21 anos, conta que durante os dois anos contínuos usando o contraceptivo sentia dores no seio e teve um quadro intenso de retenção de líquido. Na época, Laila namorava e seu parceiro não gostava de usar camisinha. Por isto, não pensou em deixar de tomar o medicamento. Após o término do relação, procurou uma ginecologista e descobriu um nódulo de tamanho significante no seio esquerdo. ?Foi horrível, pensei logo em câncer. Foi aí que parei de vez com o anticoncepcional, a primeira coisa que o médico indicou?. O resultado do exame deu benigno, foi quando a jovem prometeu para si mesma que nunca mais tomaria hormônios. Mesmo depois da cirurgia, Laila ainda sente dores no local do procedimento.
Com Márcia Maria, de 34 anos, os problemas com os hormônios sintéticos foram maiores. Após episódios seguidos de dores na panturrilha, Márcia foi para a emergência de uma unidade hospitalar, onde passou por diversos exames. Um deles, ultrassom doppler, diagnosticou trombose venosa. Um coágulo sanguíneo que costuma se formar nas veias profundas da parte inferior da perna ou do braço e que pode bloquear o retorno de sangue venoso (rico em gás carbônico), devido ao uso do contraceptivo. Por conta disso, sua ginecologista medicou uma dosagem específica de remédios que auxiliam na coagulação por tempo indeterminado. ?A primeira coisa que ela me mandou fazer foi parar com a pílula, disse que caso eu não parasse, poderia morrer?, completa.
O uso constante do remédio por quase dez anos fez com que Josie Sodi, de 26 anos, apresentasse fortes reações à pílula. Mesmo após tanto tempo tomando o mesmo medicamento, Josie ficou dez meses menstruando sem parar. Decidiu, então, procurar uma ginecologista que mudou a dosagem para um contraceptivo mais leve, o que não foi suficiente. Com o novo remédio, Josie sofreu o mesmo efeito colateral que duraram seis meses, quando decidiu parar de vez com o uso.
Confira depoimento de Larissa Xavier, de 22 anos, que também sofreu com os efeitos da pílula e suspendeu o uso da pílula com apoio de sua ginecologista:
OUTRO LADO
A ginecologista e obstetra, Ana Maria Terêncio, afirma que nem todos os sintomas têm ligação com o anticoncepcional. ?Não podemos esquecer que o medicamento cumpre seu principal papel: evitar a concepção. A mulher ganhou muito com a pílula, até porque os efeitos colaterais têm como ser evitados ou amenizados?. Para Ana Maria, parte dos problemas que o contraceptivo acarreta se dá pelo uso não orientado, já que muitas mulheres não procuram um profissional antes.
A ginecologista pontua ainda alguns motivos extra anticonceptivo que também podem ser a causa dos efeitos colaterais. ?Os nódulos nos seios, por exemplo, podem ser um histórico de câncer de mama na família. A falta de libido já foi relatada no meu consultório por mulheres que nem fazem uso do medicamento, e muitas vezes fazem parte dos sintomas da endometriose. Trombose também tem ligação com genética, além do possível uso de outros medicamentos. A menstruação ininterrupta, por sua vez, pode ter em sua causa o próprio distúrbio hormonal. É injusto atribuir tudo à pílula?. E conclui: ?é preciso levar em conta o histórico familiar de saúde e o da própria pessoa, além da situação atual da mulher. Alguém acima dos 35 anos, por exemplo, a melhor indicação é um contraceptivo a base de progesterona. Em todos os casos, o paciente deverá procurar um profissional?.
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