SEM PREVISÃO: Palco de tragédia há dois anos, Marotinho foi abandonado à própria sorte
SEM PREVISÃO: Palco de tragédia há dois anos, Marotinho foi abandonado à própria sorte
Se a morte, frequentemente associada a grandes tragédias e holocaustos particulares, é o último grau de sofrimento, apenas uma condição pode piorá-la: morrer em vão.
Joice Bispo Ribeiro Reis, Jonatan Bispo Reis, Geraldina de Cunha Bispo Reis e Adriano Bispo Pereira foram soterrados por uma encosta traiçoeira em 27 de abril de 2015 no Marotinho, localidade do bairro de Bom Juá, próximo à BR-324. Eram todos da mesma família. A forte chuva moveu a lama declive abaixo, arrastando pessoas, móveis e casas para uma vala comum da catástrofe, precedida pelo esquecimento.
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Estamos às vésperas desta tragédia completar dois anos. Neste 22 de março chove forte em Salvador e o Marotinho está abandonado à própria sorte e degredo. Nenhuma obra de contenção foi iniciada na região. Uma lona preta cobre a encosta que soterrou quatro naquele fatídico dia — meses depois, outros dois não resistiram aos ferimentos e engrossaram a fúnebre estatística.
Numa dimensão mais profunda, a lona preta pode ser interpretada como um sinal de luto aos que partiram. Remete também a um corpo, estendido em via pública, aguardando o resgate do rabecão. Está ali inerte, pelo fim do leniente descaso.
EXPLICAÇÕES
Em nota, a Defesa Civil diz que a Prefeitura aguarda “liberação dos recursos federais” para dar início às obras. Esta é a mesma justificativa dada a um ano. A única intervenção no momento é a troca de lona para evitar pontos de água e criatórios do mosquito aedes aegypti.
No momento, a prefeitura se gaba do investimento feito na encosta do Barro Branco. Foram investidos mais de R$ 8 milhões de recursos próprios na contenção de lá. Exatamente no mesmo dia da tragédia do Marotinho, 11 morreram na comunidade do Alto do Peru.
Prática comum na política, o ato de cobrir um santo, para descobrir outro é uma assertiva cruel quando se fala de vítimas das chuvas. Quando inaugurada, a obra deve proteger o Barro Branco. Já a lona que “cobre” o Marotinho apenas ressalta a vergonha por trás da tragédia.
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*Publicada originalmente às 11h16