PERFIL: Surfando no discurso do “doido”, Isidorio alça voo e ganha salvo conduto contra público gay
PERFIL: Surfando no discurso do “doido”, Isidorio alça voo e ganha salvo conduto contra público gay
Loucura é um substantivo feminino, comumente utilizado para identificar pessoas que, de certa forma, adotam comportamentos que fogem ao senso comum ou às regras de convivência social. Normalmente vista com maus olhos, a palavra ganhou nova forma no cenário político baiano, quando o deputado estadual Sargento Isidorio (PDT), 54 anos, resolveu concorrer ao palácio Thomé de Souza.
Policial militar, pastor evangélico, ex-gay, político. São várias as palavras para definir Manoel Isidorio Santana Junior, ou o Pastor Sargento Isidorio. Inúmeras também são as polêmicas nas quais ele se envolveu durante os 12 anos de vida pública, desde quando foi eleito, em 2002, pela primeira vez à Assembleia Legislativa da Bahia, ainda pelo PT.
Ao transformar a sua suposta loucura em arma de marketing político, Isidorio conseguiu como resultado direto impulsionar a sua campanha mesmo diante de um cenário adverso. Entre os candidatos é apenas o quatro em tempo de TV, com apenas 50 segundos de inserção — fica atrás de ACM Neto (com 4 minutos e um segundo); Alice Portugal (com 2 minutos e 59 segundos) e Cláudio Silva (um minuto e 31 segundos).
Ainda assim, nas pesquisas de opinião pública, surpreende no terceiro lugar com 7% das intenções de voto do eleitorado. Próximo de Alice (PCdoB), “apenas” cinco pontos atrás, mas ainda bem distante de ACM Neto (DEM) — que tem 62 pontos de vantagem sobre o pedetista.
“No dia 14 de agosto de 2002, em Candeias, ninguém menos do que o atual prefeito disse: ‘aquele palhaço que está ali, aquele doido, [em referência a Isidorio] meu avó vai jogar na cova dos leões’. Ele me chamou de doido. Meu filho João Isidorio, ainda pequeno, quando me viu lacrimejando disse: Não fique assim não, painho. A gente vai fazer uma música. Se ele diz que o senhor é doido, nós vamos dizer que agora é a vez do doido”, conta o deputado, relembrando o processo de escolha do mote de sua campanha.
Além de impulsionar sua candidatura, a opção de se autodeclarar “doido” dá a Isidorio um hipotético salvo conduto para propagar discursos sem precisar enfrentar freios sociais. Sempre que é instado a falar sobre os LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros), por exemplo, amarra sua fala em lastros homofóbicos e de correção moralista.
“O gay e a lésbica que me conhecem, sabem que ninguém vai cuidar desses meninos alegres melhor do que eu. Agora, eu vou continuar dizendo que está errado”, diz. “Lugar de fazer sexo é no quarto, entre quatro paredes. Eles querem é fazer tudo em praça pública. Não pode”, diz.
Veja vídeo gravado pelo Aratu Online após participação na sabatina do Que Venha o Povo, na última quarta-feira (21/9).
Quando perguntado se prega ódio às minorias, ou se vê como uma pessoa preconceituosa, Isidorio assume uma postura vitimista. “Fui gay, queimei muito a rodinha. Mas, graças a Deus, estou curado há 23 anos. Não faço mais isso. Deus consegue curar”, pontua.
O pastor já se envolveu em outras polêmicas de cunho sexual. No mês de maio, o pastor publicou em suas redes sociais um vídeo em que aparece cheirando os órgãos genitais de sua mãe.
“Minha mãe, obrigado por não ser sapatão senão eu não tinha nascido”, disse, antes de completar: “tiram um ?atchim? de novo da xoxota mais santa deste mundo. [?] Ô que coisa bonita, foi por aqui que eu passei?, disse o deputado.
BOTIJÃO E CARRO ELÉTRICO
O povo que acompanha Isidorio parece ter mesma humildade daquele que planeja representá-los. Um grupo de cerca de 100 pessoas acompanha o candidato, que caminha pelas ruas do Centro com um carro de mão, em uma tarde de sol escaldante restando poucos dias para o fim da campanha. Sobre ele, um som elétrico e o botijão de gás, sua marca registrada.
Agitado, ele tenta controlar seus eleitores, que transitam entre os carros da Sete Portas, atravessam ruas, sobem ladeiras com destino a Brotas. Entre eles está Robson Reis da Conceição, 36 anos. Com um apito nas mãos, ele explica o voto, ao tempo em que tenta orientar o fluxo de carros na via pública:
“Escolhi Isidorio pelo apoio que ele dá a sociedade na área da dependência química. Tenho um familiar que esteve nessa vida e hoje não se encontra mais, graças a ele”, afirma.
A Fundação Dr Jesus, mantida por Isidorio no município de Candeias, funciona desde 1991. O espaço atende mais de 1.500 ex-usuários de drogas no intuito de afastá-los do vício. Em 2012, o espaço foi alvo de denúncia da Rádio Metrópole por supostos maus tratos que o pastor infligira aos jovens que descumprissem as regras de comportamento do lugar. Isidorio usaria um pedaço de madeira, batizado de “Tereza”, para aplicar castigos físicos aos desobedientes.
Á época, o deputado prometeu levar o caso à Justiça dizendo-se caluniado pela publicação. Além disso, amealhou um séquito de fiéis e os levou até a porta da rádio para protestar contra a reportagem.
Vice na chapa de Isidorio, Luiz Carlos Bassuma (PEN) é adepto da doutrina espírita e se posiciona abertamente contra o aborto. Por conta disso, em 2007, durante foi expulso do PT após divergência com uma tendência feminista da sigla.
“Essa é a campanha da criatividade, da chamada energia pura, da espontaneidade. A receptividade que a gente encontra nas ruas é algo monumental. A vitória dele [Isidorio] não se expressa nas pesquisas convencionais. Parte expressiva das pessoas que têm carinho por ele, não tem condições de manifestar isso em uma pesquisa eleitoral, mas as ruas manifestam isso”.
Para Bassuma, Isidorio tem a “espontaneidade” ao seu lado.”Isidorio reúne duas características que são raríssimas no mundo político. Ele é uma pessoa inteligentíssima e honesta. Por isso, ele está preparado para fazer um excelente governo”.
A caminhada, que a esta altura já havia alcançado o bairro de Matatu de Brotas, seguiu rumo ao seu destino. A esperança dos poucos abnegados que se juntaram a ela, é que estes passos conduzam o Pastor Sargento Isidorio Palácio Thomé de Souza.
Texto e vídeos: Diorgenes Xavier
Fotos: Divulgação
*Publicada originalmente às 6h