OPINIÃO: ‘Episódio Lapa’ antecipa campanha municipal e revela estratégias de ACM Neto e PT para outubro

Respaldado na popularidade dos institutos de pesquisa, o prefeito ACM Neto (DEM) jamais imaginaria ser confrontado durante a inauguração de um equipamento público com forte apelo à coletividade — como o ocorrido nesta terça-feira (29/3) na cerimônia de entrega da Estação da Lapa.

O simbolismo construído para o evento era muito forte. Hoje é comemorado o aniversário de 467 anos de Salvador. A Lapa é a maior estação de transbordo da cidade e foi inaugurada em 1982. À época ACM, o avô, governava a Bahia, pela segunda vez. Pela segunda vez de forma indireta.

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O prefeito pretendia casar estes dois fatos históricos, inseridos no imaginário coletivo dos soteropolitanos,  no intuito de amealhar novas imagens para exibir durante sua campanha à reeleição. Mas teve que mudar o propósito.

Durante o evento, em uma das raras vezes que isto ocorreu em três anos de mandato, ACM Neto foi surpreendido pelas vaias dos servidores municipais. Em greve, eles exigem novas bases de reajuste salarial. O democrata confrontou o coro e iniciou um discurso com frases fortes.

?Eu não tenho medo de grito nem de vaia?, iniciou. E prosseguiu: ?eu sei que tem gente que está com inveja, que tem gente que está desesperada. E sei mais ainda. Aqui hoje tem viúva do PT. Para vocês, viúvos e viúvas do PT, a minha resposta é trabalho com seriedade?, bradou, já aos berros e com a camisa encharcada pelo suor.

O episódio é o marco fundador das eleições municipais de Salvador em 2016 — que só começam oficialmente, após liberação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em agosto. O fato revela dois tipos de discursos que, fatalmente, serão empregados até o fim da eleição, em outubro.

Pela situação, a prefeitura vai apostar nas realizações de obras (Barra, Rio Vermelho, Lapa etc) como agenda positiva de sua campanha. Neste ponto vai lutar para manter o discurso nos limites da cidade. Por outro lado, ao apontar os erros dos adversários deve subir o tom e ‘federalizar’ a disputa. O PT, principal concorrente, está envolvido em denúncias de corrupção e enfrenta a crise do governo Dilma, ameaçada até de ser destituída do cargo.

Quando ACM Neto cita a expressão “viúvas do PT” deixa entrever duas intenções na fala. 1) Quer fazer acreditar que o PT está morto. 2) Na sua lógica, restou apenas os militantes (viúvas) que querem ‘melar’ sua candidatura.

OPOSIÇÃO

Do lado da oposição, o ‘Episódio Lapa’ também não vai passar incólume. O PT municipal tem amplo interesse de faturar no caso. A reeleição de Neto é tida como favas contadas pelos petistas mais negativos.

Os otimistas, no máximo, imaginam que será uma contenda com poucas chances de reverter, mas ainda assim possível. O discurso que tentam emplacar — aliás, vem tentando desde o início do mandato do prefeito — é provar que ACM Neto cumpre a genética familiar e tem seus lapsos irascíveis. Ou seja, a exemplo, do avô tem destempero que beira a truculência.

Os dois discursos foram trazidos à baila no mesmo evento. E devem se intensificar nos próximos dias. Num momento em que o país vive uma de suas polaridades políticas mais acirradas, e que a Bahia se divide entre duas lideranças de forte personalidade (prefeito ACM Neto x governador Rui Costa), a antecipação da campanha deve trazer outros episódios de igual natureza.

A explicação é fácil.

Basta parodiar um importante político americano, quando perguntado sobre as razões do mercado atuar de forma tão desigual na busca no lucro. Ele respondeu de forma simples: “É mercado, estúpido!”.

Em nosso caso, todas as futuras ações estarão justificadas numa livre adaptação:

“É outubro, estúpido.”