LAVA JATO: Especialistas divergem sobre o impacto da condenação de Marcelo Odebrecht no cenário econômico
LAVA JATO: Especialistas divergem sobre o impacto da condenação de Marcelo Odebrecht no cenário econômico
A condenação de Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do país, nesta terça-feira (8/3), agitou os bastidores do poder. Preso desde julho de 2015, ele foi considerado culpado por crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa. O Aratu Online conversou com especialistas para avaliar as possíveis consequências da decisão, fruto das investigações promovidas pela Operação Lava Jato.
Na opinião do economista e professor universitário Gustavo Pessoti o impacto da condenação não pode ser superdimensionado. ?A situação econômica do país já é muito ruim há algum tempo. A previsão é de que o PIB sofra uma retração de 3,8% neste ano. Diante deste quadro, a condenação dele é algo pequeno. As empreiteiras estão sem produzir nada desde o ano passado. Esta medida não vai matar a empresa. Pelo contrário, pode apontar uma saída?.
Apesar disso, na avaliação do especialista, o setor da construção deve ser afetado. ?É um dos mais importantes do país, do ponto de vista econômico. A prisão dele é extremamente ruim neste aspecto, pois deve consolidar a paralisação das empresas?.
De acordo com Pessoti, é impossível avaliar o quadro do Brasil neste momento sem levar em conta o cenário de caos político que se apresenta. Segundo ele, a perda de governança, que é capacidade do gestor público de promover medidas que tirem o país da crise, é pior do que a crise de governabilidade, que pode ser definida como o binômio formado pelas alianças políticas e a credibilidade diante da opinião pública, fatores essenciais em um regime democrático.
?Não acredito em solução em curto prazo, mas você precisa reordenar esse quadro urgentemente. E não falo necessariamente de impeachment. Por exemplo: Cunha cai ou não cai? É preciso que as mudanças no cenário político aconteçam para que o país, de fato, avance?.
Já o economista André Coelho, também professor universitário, expõe uma opinião divergente. Ele avalia que a condenação do empresário ?impacta negativamente e reforça o processo? de depressão econômica do país.
Ainda conforme Coelho, o reforço dos mecanismos fiscais, que já está em curso, deve ser acentuado. ?Ele foi acusado de fazer parte de uma espécie de clube de partilha de licitações. A tendência é que todo esse processo seja revestido, o que deve diminuir a celeridade e afetar a economia?.
Ele aponta ainda que novas leis contra lavagem de dinheiro e que dificultem a circulação não fiscalizada de valores devem surgir como consequência da Lava Jato. ?Se o sangue da economia é o dinheiro circulando, este processo pode dificultar isso. Além disso, existe uma tendência de que a Receita Federal passe a registrar toda transação acima de R$ 2 mil no país, mais uma medida que pode restringir a economia?.
Em um quadro ?extremamente pessimista?, Coelho aponta que o índice de desemprego, que tem crescido desde o início da crise, pode aumentar ainda mais nos próximos meses após a condenação do empresário.
?O governo de Pernambuco, por exemplo, suspendeu contratos com a Odebrecht após as denúncias. Se isso vira moda, a Bahia seria um dos estados mais prejudicados. Já estamos vivendo um cenário de destruição da atividade econômica, que poderá se torna ainda mais grave para a Bahia e os soteropolitanos, sobretudo com a volta ao mercado de profissionais extremamente qualificados, que passariam a disputar empregos com o restante da população?, afirma.