Mar revolto em Salvador: perigo de mortes e possibilidade de cancelamento dos passeios de lancha "instagramáveis"
De acordo com dados do Salvamar, até a última segunda-feira (26/7), foram registradas 336 ocorrências em 2021.
Henri Erique Bacelar, de 16 anos;
Edmundo de Oliveira Neto, 18 anos;
Sidnei Santana Mota Junior, 19 anos;
A pouca idade poderia ser a singularidade que uniu estes três jovens. Infelizmente, não é. O trio teve precocemente a vida ceifada após se afogarem em praias de Salvador. Por ironia do destino, Henri e Sidnei desapareceram nas praias de Piatã e Rua K, respectivamente, no último domingo (25/7), justamente na data em que as Nações Unidas celebraram o primeiro Dia Mundial de Prevenção do Afogamento.
Dados de 2019 mostram que 236 mil pessoas morrem por ano por conta deste tipo de asfixia. Os afogamentos são a terceira causa de morte acidental e representam quase 8% do total de mortes globais. Cerca de 90% das mortes acontecem em países de rendas baixa e média, sendo a região oeste do Pacífico a mais afetada. Para alertar a população, a ONU lançou, inclusive, uma cartilha com dicas e orientações.
De acordo com dados do Salvamar, até segunda-feira (26/7), foram registradas 336 ocorrências em 2021. Deste total, cinco vítimas fatais. As últimas três mortes: Henri, Sidnei e Edmundo. Piatã lidera a triste estatística com dois óbitos.
No paradísiaco reduto de costa, há escondida uma armadilha fatal: a corrente de retorno. É o movimento marítimo de água no sentido do mar aberto, transversal à praia. Ele é formado pelo excesso de água empilhada pelas ondas sobre a praia que retorna atravessando a arrebentação e escavando canais na areia. O movimento é muito rápido e acaba se estendendo até 100 metros para dentro do mar.
Identificar essas áreas requer treinamento. Na praia, surfistas experientes e guarda-vidas conseguem visualizá-las com mais facilidade. Para os banhistas em geral, é bom ficar de olho justamente nas regiões onde não há ondas quebrando e, consequentemente, menos espuma. Isso pode indicar uma área com corrente de retorno, pois como elas formam valas na areia, as ondas não chegam a quebrar, em função da maior profundidade.
O Aratu On conversou com o coordenador da Salvamar, Helenilton Gonçalves, sobre os perigos do banho de mar nesta época do ano. Segundo ele, há uma grande incidência de corrente de retorno em Piatã e, por isso, as pessoas devem respeitar as sinalizações na praia, como as bandeiras que apontam áreas mais perigosas.
"A gente pede que sempre que chegar à praia, procure um profissional especializado, um salva-vidas, e veja se pode tomar um banho seguro", diz. Em seguida, ele dá dicas de como se livrar da corrente de retorno. "A corrente de retorno, a recomendação principal é nunca nadar contra ela. Procure se deslocar em sentido lateral".
O Salvamar conta com cerca de 240 profissionais, que trabalham desde a praia do Jardim de Alah até Ipitanga. Eles atuam na prevenção de acidentes e prestam socorro em casos de afogamento. Quem também atua no combate à tais incidentes é o 13º Grupamento de Bombeiros Militares. O Cabo Vandic Maltez também conversou com o Aratu On.
Corpo de Bombeiros alerta para o risco de afogamentos nas praias de Salvador. pic.twitter.com/zxLT2sJLPj
— Aratu On (de 🏠) (@aratuonline) July 29, 2021
LANCHAS
Quem, também, precisa ficar sempre em alerta por conta das condições climáticas são as empresas de Chrarter - aluguel de lanchas e veleiros, por exemplo -. Febre entre muitas pessoas que desembolsam dinheiro para curtir (e, muitas vezes, filmar) um passeio na Baía de Todos os Santos, os grupos precisam de responsabilidade.
A sócia propretária da @lanchasalvador, uma das empresas mais renomados deste serviço na capital baiana, Chris Medeiros, ressaltou a importância de observar diariamente o clima.
"Antes de mais nada, é uma tristeza imensa a perda dos três jovens. Nossos sentimentos às famílias. No nosso caso, as condições climáticas que habilitam os passeios é uma atividade diária que empresas de Charter, Ferry Boat, Traslados e afins precisam colocar na sua rotina. Geralmente coordenada pelos boletins de navegação emitidos pelos órgãos oficiais, e em conjunto aos marinheiros e suas marinas. Tudo isso, logo nas primeiras horas da manhã".
Ainda segundo Chris, não sendo possível a navegação, o passeio é cancelado. "Reembolsamos o valor integral no ato, ou remarcamos em datas futuras de acordo com a programação dos nossos clientes e nosso calendário. Respeitar as condições climáticas é parte fundamental do negócio, ainda que haja reclamações e perda de receita da nossa parte", ressalta.
Já Felipe Vivas, à frente do @barcofascinacao, salienta que há, basicamente, dois cenários. "Não podemos comparar muito o cenário onde os jovens, lamentavelmente, morreram com os tradicionais locais de passeios de barco. Por quê? Pois, a maioria dos passeios são na parte de dentro da Baía de Todos os Santos, logo estamos abrigados. É muito mais fácil de ser navegar", explica.
Vivas, no entanto, esclarece que em caso atípicos, a segurança sempre é levada "em primeiro lugar". Estamos sempre atento às condições climáticas. Quando tem situação de tempo ruim, a tendência é reagendamento. Ainda assim, se a Capitania emitir sinais de não navegação, não operamos até que o sinal vermelho seja retirado. A prórpria Marinha tem um aplicativo que nos alertam", conta.
Em nota, a Marinha do Brasil por meio da Capitania dos Portos da Bahia reverbera o discurso. "Em situações de mau tempo, a CPBA recomenda que os praticantes de esportes náuticos em geral, embarcações de esporte e recreio e de pesca avaliem a necessidade de se fazer ao mar. Recomenda ainda que, as agências e condutores de embarcações de transporte marítimo de pessoal avaliem criteriosamente a conveniência de interrupção do serviço; e que sejam redobrados cuidados no fundeio e na amarração das embarcações, a fim de evitar que estas se soltem".
Por fim, faz o alerta aos banhistas em geral. "Com a chegada do inverno no hemisfério sul, as mudanças climáticas tornam-se frequentes. Portanto, os avisos de mau tempo passarão a ser rotineiros, aumentando a necessidade de observá-los.
RELEMBRE OS CASOS DE RECENTES DE AFOGAMENTOS EM SALVADOR
Henri Erique Bacelar, de 16 anos, desapareceu após entrar no mar da praia de Piatã, em Salvador, no último domingo (25/7). De acordo com familiares, ele estava acompanhado de outros dois primos, com idades que variam entre 16 e 18 anos.
Os três entraram na água para um mergulho e foram arrastados por uma corrente de retorno, segundo um salva-vidas que estava no local. Dois garotos foram resgatados, porém, Henri desapareceu no mar. O corpo dele foi encontrado na noite da última terça-feira (27/7), em Piatã.
No mesmo domingo (25/7), Sidnei Santana Mota Junior, de 19 anos, também foi vítima de afogamento na rua K, em Itapuã.
Já no dia 16, Edmundo de Oliveira Neto, desapareceu enquanto aprendia a surfar na praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Banhistas encontraram o corpo do jovem na Praia do Flamengo, uma semana depois.
DICAS
- Na dúvida, pergunte aos guarda-vidas onde há corrente de retorno.
- Ao cair em uma corrente de retorno, tente manter a calma e nadar em paralelo à praia, nunca contra ela.
- Respeite as sinalizações das condições do mar, evitando o banho com bandeira vermelha.
- Fique próximo das guaritas dos guarda-vidas.
- Respeite os apitos e as orientações dos guarda-vidas.
- Tome banho com água no máximo na altura da cintura.
- Crianças na água devem ter supervisão constante de um adulto.
- Não use boias ou flutuadores no mar.
- Evite a combinação álcool e mar.
- Nunca tente salvar alguém. Na maioria das vezes, você pode se tornar uma vítima também.
- Aja com precaução. Se mesmo assim alguém próximo se afogar, o melhor a fazer é buscar socorro junto aos guarda-vidas.
SERVIÇO
O Centro de Hidrografia da Marinha mantém todos os avisos de mau tempo em vigor no endereço eletrônico https://www.marinha.mil.br/chm/dados-do-smm-avisos-de-mau-tempo/avisos-de-mau-tempo
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