Dia do Reggae: lacuna de 44 anos não separa Bob Marley de novas gerações

Bob Marley é ícone imortal da música jamaicana e figura central na difusão do reggae pelo mundo

Por Dinaldo dos Santos.

Neste domingo, 11 de maio, o Brasil celebra o Dia Nacional do Reggae, data que marca a morte de Bob Marley, ícone maior da música jamaicana e figura central na difusão do reggae pelo mundo.

Reconhecido não apenas como músico, mas também como ativista político e espiritual, Marley continua a influenciar gerações com sua mensagem de paz, igualdade e resistência.

Foto: Divulgação | bobmarley.com.br/fotos

Nascido em 6 de fevereiro de 1945, em Nine Mile, na Jamaica, Robert Nesta Marley iniciou sua trajetória musical ainda jovem, alcançando projeção internacional com o grupo The Wailers.

Sucessos como "No Woman, No Cry", "Redemption Song", "One Love" e "Get Up, Stand Up" se tornaram hinos globais e consolidaram o reggae como um gênero musical de impacto cultural e social profundo.

Com sua voz inconfundível e letras recheadas de protestos, Bob Marley deu ao reggae uma dimensão internacional, contribuindo para o reconhecimento da música jamaicana como patrimônio da humanidade pela UNESCO. 

Internacionalização do Reggae

Bob Marley é extremamente reconhecido por críticos e estudiosos como uma figura transformadora na música mundial, não apenas pelo seu papel central na difusão do reggae, mas também pela forma como incorporou mensagens de justiça social e espiritualidade nas suas canções.

Ao contrário do que muitos pensam, Marley não é o inventor do reggae, mas é o nome de maior importância no movimento de difusão do som que explodiu na Jamaica. Em entrevista concedida à nossa reportagem, o jornalista e crítico musical paulista, Régis Tadeu, comentou essa história.

O especialista disse que, na verdade, Bob Marley não é o criador. Ele explicou que o reggae é uma derivação harmônica e melódica de um ritmo chamado rocksteady, que era a música pop jamaicana, e tinha uma grande influência do R&B e da soul music dos anos 1960.

Regis Tadeu é jornalista e crítico musical. Foto: Acervo Pessoal

"Quando o rocksteady começou a ser tocado num andamento mais lento e cadenciado, aí se denomina de reggae. O Bob Marley não inventou, mas sem dúvida alguma, foi o artista que internacionalizou o reggae", explicou.

Bob Marley, acrescentou o crítico, levou o ritmo para fora da fronteira jamaicana e caribenha, graças a um contrato assinado com a gravadora inglesa, Island, que projetou o nome dele para todo o mundo. 

De acordo com o especialista, Bob foi abraçado pelo dono da gravadora, o produtor musical Chris Thomas, que, ao ter contato com a música do jamaicano, ficou enlouquecido com o que ouviu. 

Este produtor, certamente, tinha muita autoridade para entender o que é bom. Ao longo da carreira, Thomas realizou trabalhos com The Beatles, Pink Floyd, Elton John, Paul McCartney (solo), e os Pretenders; além de ter produzidos álbuns inovadores para os Sex Pistols e INXS.

“O grande mérito de Bob Marley, além, evidentemente, do som dele que era, absolutamente, sensacional e as canções eram ótimas, é ter sido o artista que internacionalizou o reggae”, reforçou Tadeu.

Como consequência desse processo, Régis destacou que o momento favorável à expansão do ritmo permitiu a popularização, também, de nomes como os de Peter Tosh e Jimmy Cliff, além de outros artistas talentosos que surgiram naquele contexto. 

Atualmente, a influência de Marley continua viva em muitos gêneros musicais, incluindo hip-hop, pop, e rock. Artistas de todo o mundo, volta e meia, citam o astro do reggae como uma inspiração tanto musical quanto ideológica.

Isso, segundo o especialista, é fruto do olhar centralizado no astro à frente desse movimento. “A própria mitificação do Bob Marley fez com que o reggae se mantivesse relevante até hoje e, até mesmo, sendo usado na música pop”, avaliou. 

Bob Marley and The Wailers

Não dá para falar de Bob Marley sem dar o destaque merecido para um grupo de músicos extraordinários que fizeram parte de sua trajetória de sucesso.

O caminho de Bob até o estrelato internacional não foi trilhado sozinho. Grande parte de seu sucesso se deve à formação e evolução da banda The Wailers, que teve papel essencial tanto em sua carreira quanto na consolidação do reggae como gênero musical.

Formada originalmente em 1963, com o nome The Wailing Wailers, o grupo era composto por Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer. Juntos, eles misturavam influências do ska, R&B e do emergente som jamaicano que viria a se tornar o reggae.

Foto: Divulgação | bobmarley.com.br/fotos

Na década de 1970, os Wailers passaram por mudanças importantes. Com as saídas de Tosh e Bunny, Marley seguiu com o nome Bob Marley and The Wailers, acompanhado por músicos de apoio de altíssimo nível, incluindo os irmãos Aston Barrett (baixo) e Carlton Barrett (bateria), responsáveis por criar a base rítmica que se tornaria marca registrada do reggae.

Além disso, o grupo passou a contar com as vocalistas de apoio conhecidas como The I-Threes, entre elas Rita Marley, esposa de Bob.

O adeus ao 'rei' do reggae

Infelizmente, Bob Marley morreu precocemente em 11 de maio de 1981, aos 36 anos, vítima de um melanoma maligno que disseminou para o cérebro, pulmões e fígado.

O primeiro sinal de que algo estava errado surgiu em 1977, quando Marley lesionou o dedão do pé direito durante um jogo de futebol. O ferimento não sarava, o que levou a uma avaliação médica.

Marley foi então diagnosticado com a doença, um tipo de câncer mais comum em pessoas com pele escura que aparece frequentemente nas palmas das mãos, solas dos pés ou sob as unhas; locais menos expostos ao sol, o que dificulta um diagnóstico precoce.

Bob Marley com o pé enfaixado, ferida que originou o câncer. Foto: Divulgação | bobmarley.com.br/fotos

Os médicos recomendaram a amputação do dedo para prevenir a propagação da doença. No entanto, Marley decidiu não passar pela intervenção, citando razões espirituais ligadas à sua fé rastafári, que considera o corpo sagrado e inviolável. Em vez disso, optou por um enxerto de pele.

Apesar dos esforços médicos, incluindo tratamentos alternativos na Alemanha, Bob Marley faleceu em Miami, quando pretendia retornar para a Jamaica, deixando um legado eterno na música e na cultura mundial, que continua atravessando gerações.

Maranhão: alma do reggae no Brasil

Mesmo após 44 anos de sua morte, Bob Marley continua sendo uma figura emblemática da música mundial. No Brasil, seu legado encontra terreno fértil, especialmente no Maranhão, onde o reggae se tornou parte essencial da identidade cultural do local.

São Luís, capital maranhense, é conhecida como a "Jamaica brasileira", título conquistado pela intensa paixão de seu povo pelo ritmo jamaicano.

O impacto do cantor no estado nordestino começou a se intensificar nos anos 1980, quando o reggae foi abraçado pelas comunidades urbanas. A identificação com mensagens de resistência e igualdade social transformou o gênero em expressão autêntica do cotidiano maranhense.

O grupo maranhense Tribo de Jah e o cantor e compositor baiano Edson Gomes são exemplos de artistas nacionais que ajudaram a firmar essa conexão com a música de Bob, misturando elementos do reggae com a realidade brasileira.

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Museu do Reggae Maranhão. Reprodução de fotos

Hoje, o reggae é patrimônio cultural imaterial do Maranhão, e Bob Marley, mesmo vindo de longe, é reverenciado como um símbolo universal de luta e esperança.

Como meio de preservar e propagar a cultura do ritmo no estado, o Museu do Reggae Maranhão foi criado por membros do movimento, contando com o apoio de órgãos públicos do município e do estado.

O local oferece um acervo de informações a respeito do reggae, além de possuir uma exposição de fotografias, vídeos, discotecas e a radiola tradicional.

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