Com sinais de degradação, cartão postal de Salvador pede socorro; conheça a história do bambuzal do aeroporto
Falhas nos encontros das plantações de bambus, e grandes pontos de devastação nas margens do bambuzal tiram o brilho de uma paisagem que ganhou fama no mundo inteiro.
Um dos mais bonitos cartões postais de Salvador corre o risco de, muito em breve, sair de cena! Famosíssimo pela beleza natural, o túnel formado pelo bambuzal na via que dá acesso ao aeroporto internacional da capital baiana perde, a cada dia, a beleza e o encanto de quem passa pelo local.
As ogivas contínuas de uma vegetação singular, que sempre chamaram a atenção dos soteropolitanos e de todos que visitam a cidade, começam a deixar de existir em alguns pontos do corredor gótico, que dá as boas-vindas e se despede dos turistas que passam pela “Boa Terra”.
Sinais de maus tratos com a vegetação podem ser observados ao longo da via: a Avenida Tenente Frederico Gustavo dos Santos. Nos dois sentidos, a degradação é percebida. Quem entra ou sai de Salvador acompanha, na rápida passagem, um desprezo que parece ter tomado conta do cartão postal.
Falhas nos encontros das plantações de bambus, e grandes pontos de devastação nas margens do bambuzal tiram o brilho de uma paisagem que ganhou fama no mundo inteiro. Além da beleza que se perde, ganha-se o risco de acidentes no local. Não tem sido raras, as vezes que alguns galhos secos acabam caindo sobre a pista, podendo atingir um veículo ou machucar um pedestre.
Profissional da área de turismo, Daiane de Vasconcellos é funcionária de uma locadora de veículos da redondeza e convive, diariamente, com a situação. “Em dias de chuva, sempre fico apreensiva. É muito recorrente perceber que os motoristas precisam reduzir a velocidade e ter ainda mais prudência ao passar pela região, pois encontramos galhos caídos que atrapalham a via e outros que ameaçam cair por falta de conservação”, ressaltou.
Taxista do aeroporto de Salvador, há 30 anos, Reginald Cohim lembra de já ter ouvido inúmeros elogios sobre a beleza do túnel de bambus. Contudo, revela que hoje fica triste com o que ouve. “Muitos passageiros comentam que não é mais a mesma coisa. O bambuzal está descuidado, degradado e abandonado. Alguém precisa tomar uma providência, antes que seja tarde demais”, disse.
PATRIMÔNIO NATURAL
Como alternativa de proteção para o local, algumas pessoas defendem o tombamento do bambuzal como patrimônio histórico natural. O antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) é uma delas. Ele considera a paisagem ecológica como uma das mais belas florestas do Brasil e do mundo.
“Aquele conjunto de centenas de varas de bambus é de uma espécie, extremamente, frágil, porque aos pés das touceiras têm muitas folhas secas e algumas hastes que morreram, de modo que uma ponta de cigarro pode queimar essa preciosidade”, alerta o ativista.
De acordo com Mott, é muito importante que o poder público faça uma vistoria para identificar quantas mudas existem, quais são os seus problemas, as necessidades de adubação e limpeza periódica para fazer a retirada do vegetal seco que se acumula no local. Sobretudo, ele adverte para a colocação de extintores de incêndio naquela área para evitar uma eventual destruição.
“O serviço de Bombeiros de Salvador tem que adotar uma solução para que jamais aconteça o que ocorreu com a Catedral de Paris e com o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Temos que preservar o nosso bambuzal com medidas práticas [...] Eu já viajei pelo mundo todo e nunca vi uma coisa tão maravilhosa!”, salientou Luiz Mott.
Para entender como aconteceu a formação do bucólico cartão postal de Salvador, nossa reportagem buscou informações com o historiador Roberto Pessoa. Segundo o professor e guia turístico, as arcadas de bambus estão presentes naquele local, desde a década de 1920.
Pessoa lembra que o nome da via, onde estão os vegetais, homenageia um piloto baiano, morto durante a Segunda Guerra Mundial. Existe uma versão histórica indicando que o bambuzal foi plantado para esconder os aviões da Força Aérea Brasileira de ataques inimigos. Isso não tem registro documental. O que se sabe, segundo o historiador, é que a plantação estava ali há mais tempo.
VEJA A ENTREVISTA:
RESPONSABILIDADES
Procurada pela nossa reportagem, a empresa responsável pela administração do aeroporto de Salvador, Vinci Airports, informou através de sua assessoria de comunicação que o bambuzal se encontra fora dos limites do sítio aeroportuário e fica numa via pública. Dessa forma, conclui que está sob jurisdição pública.
A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), ao ser questionada sobre o assunto comunicou, também, pela sua assessoria, que não tem responsabilidade sobre a área citada. Afirmou que a missão da companhia estadual está focada na realização de obras estruturantes nas áreas de mobilidade, macrodrenagem e encostas, educação e saúde.
Por fim, o município de Salvador, por meio da Secretaria de Manutenção, disse que a Seman realiza rotineiramente ações de mantenimento, preventivas e corretivas, na região denominada como bambuzal do Aeroporto, como a retirada das hastes que apresentam indicativo de queda e coleta de vegetais tombados. Acrescentou que o trato cultural faz parte de um estudo para desenvolvimento de projeto, que deverá ser concebido em conjunto com outros órgãos da Prefeitura de Salvador, visando a requalificação deste espaço tão simbólico para nossa cidade, com ações de paisagismo, replantio e possível correção do solo.
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