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Banda Sepultura apresenta turnê de despedida na Concha e destaca relação com Salvador

Em entrevista ao Aratu On, o guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, falou sobre a decisão de parar, a relação da banda com Salvador e importância de se falar sobre a morte

Por Lucas Pereira

Banda Sepultura apresenta turnê de despedida na Concha e destaca relação com SalvadorApós 40 anos, o Sepultura encerrará as atividades em 2026. Foto: Instagram/@sepultura

Que Salvador é taxada como a cidade do Axé Music e do Pagodão, todo mundo tá cansado de saber, mas diversos outros gêneros musicais e ritmos arrastam multidões, e não é diferente com o rock e suas variadas vertentes. A prova é a relação entre o público baiano e a banda Sepultura, uma das maiores referências em metal, que tem apresentação marcada nesta quinta-feira (12), na Concha Acústica do TCA.


O show, que começa às 19h, integra a programação da turnê de despedida do grupo, que vai rodar os quatro cantos do planeta nos próximos dois anos. O Aratu On conversou com o guitarrista Andreas Kisser e, dentre os temas abordados, o músico falou sobre as razões para o término do Sepultura, a relação da banda com a Bahia e a ideia por trás da turnê.


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Hora de parar


Além de Andreas, responsável pelas guitarras, o Sepultura é composto por Derrick Green (vocais), Greyson Nekrutman (bateria) e Paulo Xisto Jr (baixo), que é o único membro remanescente da primeira formação da banda, em 1984. O término foi anunciado em dezembro de 2023, mesmo após o lançamento do disco “Quadra” (2020), que foi bem elogiado por fãs e crítica.


Da esquerda para a direita: Andreas, Greyson, Paulo e Derrick. Foto: Instagram @sepultura


Para Kisser, a escolha de parar no auge foi uma escolha pensada para encerrar as atividades da melhor maneira possível.


“Foi justamente pelo bom momento, o álibi de 40 anos, que é uma marca super importante. E, nesse tempo, a gente conseguiu se adaptar às mudanças tecnológicas, não somente [as alterações] na banda, em termos de músicos, empresários, gravadoras. Sempre nas mudanças, o Sepultura buscou o caminho do presente, dos elementos que a gente tinha em mãos, ao invés de tentar copiar coisas do passado. E é um privilégio poder parar no melhor momento, não precisa esperar briga, ou estar muito velho ou doentes para parar. É uma maneira fantástica de falar um 'tchau' e dar um agradecimento a todos os fãs que mantiveram essa banda relevante por tanto tempo”.


Considerada uma das maiores bandas do segmento metal de todo o planeta, é óbvio que o Sepultura, em seu encerramento, iria tocar em diversos países, seja novamente ou pela primeira vez, conforme brinca Andreas. “A gente não tem motivo nenhum para sair correndo. Ainda temos dois anos [de turnê] adiante, para ir em muitos lugares. A gente quer fazer o máximo possível", afirmou.


Ao todo, o Sepultura vendeu cerca de 20 milhões de cópias de seus álbuns em todo o mundo, especialmente os considerados clássicos como "Arise" (1991), "Chaos A.D." (1993) e "Roots" (1996). 


Celebrando a Vida Através da Morte


Batizada como “Celebrating Life Through Death” - em tradução livre, “Celebrando a Vida Através da Morte” -, a turnê de encerramento traz uma nova visão sobre a morte, tema que é recorrente nas canções de death metal. De acordo com o guitarrista, a turnê é a oportunidade de falar sobre um tema que não é tão debatido na sociedade, especialmente brasileira. 



“Respeitando a finitude, a gente tem um presente muito mais intenso, uma vida muito mais intensa. A gente vai fazer coisas agora e não vai deixar para amanhã. Para falar eu te amo, dar um abraço a um amigo ou resolver um problema com um parente distante, né? Você vai viver o momento, vai resolver as coisas enquanto você tá vivo. Então essa turnê tem muito a ver com esse sentimento também, sabe, de respeito a finitude”.



A temática foi pensada após Andreas vivenciar o luto da própria esposa, Patrícia Kisser, vítima de um câncer de cólon em 2022. “Eu tive a experiência da minha esposa, que faleceu de câncer há dois anos e meio, e todo esse processo da quimioterapia, do hospital, do cuidado paliativo, dos últimos momentos, naquele momento de escolha. Eu comecei a ter muitas dúvidas, em relação a ser cidadão brasileiro e lidar com esse tipo de situação. Porque as pessoas não falam de morte aqui no país, não falam de eutanásia, não fala de suicídio assistido, de cuidados paliativos. Então tem um monte de gente sofrendo, um monte de gente morrendo e as pessoas não sabem lidar muito com isso. E eu percebi que a gente precisa falar de morte”.


Patrícia e Andreas. Foto: Instagram


Apesar da perda causar dor, Kisser afirma que a morte é a "única certeza que a gente tem" e, como algo inevitável, não deveria ser temida, mas acolhida, afinal “a vida é isso, a vida é morte”, afirma, completando em seguida: “espero que a turnê do Sepultura também possa inspirar os nossos fãs a pelo menos pensarem no assunto e falar com seus familiares sobre isso, sabe. Tem muita gente sofrendo, não sabendo aonde buscar conforto. Onde buscar solução sobre problemas, através da medicinam do cuidado paliativo, principalmente”.


Sepultura e Salvador


Andreas e Paulo passando o som na Concha Acústica, em 1996. Foto: Facebook/Sepultura


Quando perguntado sobre a história da banda com Salvador, Andreas Kisser lembra de diversos episódios, a exemplo de apresentações em festivais, shows na Concha Acústica (palco da apresentação desta quinta-feira), além da proximidade com um famoso artista baiano.



“Salvador tem uma história sensacional com o Sepultura, desde o videoclipe da 'Roots' (1996), que a gente fez aí, a própria participação do Carlinhos Brown no álbum. Teve um Festival de Verão (2004) que caiu um temporal, foi um dos maiores shows que a gente fez. Todos os shows da Concha, o da turnê 'Arise', que foi transmitido pela TV e tá disponível no Youtube. Então tem muita coisa boa para lembrar”.



Membros do Sepultura e do Angra com Carlinhos Brown, no Carnaval de 2016. Foto: X @carlinhosbrown


Outro momento marcante na história do Sepultura que envolve Salvador e Carlinhos Brown foi a participação do grupo no Camarote Andante, durante o Carnaval de 2016. Na ocasião, o Cacique do Candeal reuniu Andreas, Paulo, Derrick e Eloy Casagrande - então baterista da banda, atualmente no Slipknot - com outro grupo famoso do rock, o Angra. Levando um som pesado e uma multidão de 'camisas pretas' para a Avenida, a participação marcou o guitarrista, que ainda deixou no ar uma nova participação na maior festa popular do planeta.


"Foi lindo, isso é maravilhoso, é Brasil, essa mistura, esse respeito às diferenças. O Carlinhos Brown é um cara maravilhoso, um artista nato, destemido de trazer coisas e elementos novos, assim como a gente. Espero, quem sabe, a gente tem mais dois anos pela frente, quem sabe não rola mais um", sugere o músico.


Apresentação


Os ingressos para o show desta quinta, na Concha Acústica, às 19h, estão nas últimas unidades e podem ser adquiridos apenas no site Bilheteria Digital, variando entre R$ 130 e R$ 260. No repertório da apresentação estão hits como "Ratamahatta", "Roots Bloody Roots", "Refuse/Resist", "Arise", além de "Kaiowas", canção em que o público também participa da apresentação subindo ao palco e tocando instrumentos de percussão.


O show na capital baiana, somado ao que acontecerá em Recife, no sábado (14), encerram as apresentações de 2024, algo “emblemático”, segundo Andreas.


“Salvador e Recife, os dois últimos shows do ano. Duas cidades muito importantes na nossa história e é muito emblemático terminar esse ano tão especial nessas cidades, que têm uma história muito linda com a gente”, finalizou o artista.


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