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Além do 7 de Setembro: Aratu On Explica as 'independências do Brasil'

A Bahia celebra o 2 de Julho, mas outros territórios também travaram lutas importantes no processo da independêcia do país

Por Juana Castro

Além do 7 de Setembro: Aratu On Explica as 'independências do Brasil'Quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo | disponível no Google Arts & Culture

"E então, no dia 7 de setembro de 1822, às margens do Rio Ipiranga, Dom Pedro I ergueu a espada e gritou: 'independência ou morte!'. Pronto. O Brasil estava independente."


Essa é a história mais contada, mas... será que foi assim mesmo? Quem é baiano celebra o 2 de Julho, Dia da Independência do Brasil na Bahia, comemorando a expulsão das tropas portuguesas, nessa data, em 1823. Porém, outros territórios, como Pará e Maranhão, também travaram lutas importantes, ainda que pouco conhecidas, no mesmo ano.


Para saber mais sobre esses movimentos, a reportagem conversou com o professor de História da Bahia, Murilo Mello, também produtor de conteúdo histórico digital (@murilomellohistoria). Então, preste atenção, porque neste 7 de Setembro, o Aratu On Explica as "independências do Brasil".


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FAMÍLIA REAL

Para contextualizar, a Independência do Brasil começou com a vinda da Família Real, em 1808. "Quando a gente ainda era colônia, desde 1500, a gente se via como uma continuidade de Portugal. Quem morava aqui se sentia um português que morava longe da colônia e isso perdurou por 300 anos", explica o professor.


Com a Família Real fugindo do líder francês Napoleão Bonaparte, aconteceu uma série de modificações no Brasil, que f0i elevado à categoria de reino unido, além da abertura dos portos. "Quase uma independência", diz Murilo.


Em 1820, quem ficou em Portugal - porque não conseguiu vir com a Família Real para o Brasil - ficou "ressentido" pelo fato de essas mudanças não terem sido processadas no país europeu e indagavam a "liberdade" que o então "reino do Brasil" passou a ter. Chegaram a fazer a "Revolução do Porto", na cidade portuguesa de mesmo nome, e exigiram o retorno da Família, além da perda de "regalias" que o Brasil ganhou com Dom João VI. Sob a ameaça de perder a coroa, o monarca volta à Europa, em 1821.


RECOLONIZAÇÃO

"Os brasileiros daqui ficaram contentes com a Revolução do Porto, pois não sabiam do verdadeiro interesse de recolonizar o Brasil", explica Murilo. Como o países era um reino unido desde 1815, deputados brasileiros viajaram a Portugal para participar das assembleias. Dentre eles, estavam os baianos Paulino de Souza e o Cipriano Barata, que voltaram ao Brasil com a informação de que os portugueses queriam a recolonização.


Com a Revolução do Porto e as insatisfações vindas de Portugal, começou o movimento de independência. "Esse sentimento não era forte, antes", pontua o professor. "Vieram pessoas de Santos, do Rio de Janeiro... aqui na Bahia tinham muitos intelectuais, porque era onde circulava o dinheiro, e começaram a formar essa ideia nova do que era o Brasil, juntando as antigas capitanias", destaca.


DISPUTAS NAS CAPITANIAS

Parte da elite da época, que almejava essa união, precisava, então, convencer representantes de cada unidade - que hoje seriam os estados - a fazer parte desse país novo. Essa movimentação começou no Rio de Janeiro, mas algumas províncias, antigas capitanias, não aceitaram. Por isso, ocorreram lutas no Pará e na região da Cisplatina (atual Uruguai), por exemplo. "O norte do Brasil sempre foi muito leal a Portugal e não queria fazer parte, de nenhuma maneira, dessa invenção que era o novo país", diz Murilo.


A coroa portuguesa enviou para a Bahia, então, o militar Inácio Luís Madeira de Melo para se tornar o governador de armas. "Muitos baianos ficaram a favor, porque o normal era continuar com Portugal, mas parte da elite viu que era melhor se separar, por causa das liberdades econômicas", explica o professor.


Essas pessoas que resistiram e não aceitaram Madeira de Melo se juntaram para expulsá-lo do solo baiano, junto com as tropas portuguesas. "Aí se inicia a nossa lendária guerra que culminou no 2 de Julho, que contou com várias batalhas - uma menor na Pituba, uma em Itapuã, uma pequena em Brotas, no Cabula, e tem a maior de todas em Pirajá", pontua Murilo.


ÚLTIMAS "INDEPENDÊNCIAS"


A Bahia tinha maior importância econômica e política, à época, até por Salvador ter sido a primeira capital por mais de 200 anos. Assim, as independências do Maranhão e do Pará - estados que fazem divisa - se configuraram batalhas menores do que o 2 de Julho, com poucos soltados, pouca munição e poucos mortos.


O então Grão Pará foi o último território a ficar independente, no dia 15 de agosto de 1823. Isso porque tinha mais proximidade, até geograficamente, com Lisboa que com o Rio de Janeiro. Para se ter uma ideia, a viagem de navio à cidade portuguesa durava um mês, enquanto que para a antiga capital do Brasil durava três meses.


BRIGUE PALHAÇO

No Pará, o massacre "Brigue Palhaço", que ocorreu entre 16 e 21 de outubro de 1823, 254 pessoas morreram. O "brigue" era uma embarcação inglesa, à vela. Naqueles dias, um brigue sob o comando do militar britânico John Pascoe Grenffel ancorou em Belém, seguindo ordens de Pedro I, com o objetivo de dominar o Pará.


A tripulação da embarcação prendeu 256 soldados das tropas de "segunda linha" da província, formadas majoritariamente por indígenas e mestiços. Eles não criaram muita resistência, mas esperavam diálogos por melhorias de carreira e se sentiram traídos quando isso não aconteceu. Logo, revoltaram-se.


Com isso, foram transferidos para o porão do brigue São José Diligente, mas a revolta continuou, inclusive com lutas internas. Os comandados de Grenffel, então jogaram cal no porão e fecharam a entrada, resultando na morte de 254 pessoas por sufocamento. Os rostos das vítimas ficaram brancos pelo cal, o que originou o nome do massacre.


HERÓI OU VILÃO? 

Segundo o professor Murilo Melo, é importante também salientar alguns nomes atuantes no processo de independência do Brasil, como o almirante escocês Lorde Thomas Cochrane, quem chamou de "mercenário" e "lobo do mar". Ele foi convocado por Pedro I para participar dessas guerras através do mar e, "apesar de tomar uma porrada aqui na Bahia, no início do governo de Madeira de Melo", ele foi bem-sucedido nas demais.


Segundo o estudioso, Cochrane tem uma história controversa. O escocês é visto por uns como herói, mas por outros como um pirata vilão. Ainda assim, junto com o militar francês Pedro Labatut, ajuda o Maranhão a se tornar independente de Portugal, no dia 28 de julho de 1823.


SEM BATALHAS

Cidades como o Rio de Janeiro, onde começou a movimentação da independência, e Santos, cuja elite acompanhou Dom Pedro no famoso Grito do Ipiranga, não tiveram batalhas e homens feridos como em outros locais. Os movimentos mais siginificativos, de acordo com o professor, foram na Bahia. Ele destaca, inclusive, cidades do Recôncavo Baiano, a exemplo de Maragojipe, Saubara e Cachoeira, que primeiro reconheceram Pedro I como príncipe regente e autoridade maior no Brasil, sem responder aos desejos portugueses.


"O 7 de Setembro não deveria ser considerado como a Independência do Brasil, em si. A independência se deu com guerras, sendo a principal aqui na Bahia, e ocorreu definitivamente com a assinatura do acordo de paz com Portugal, mediado pela Inglaterra, com o pagamento de dois milhões de libras esterlinas", afirma Murilo.


*Com informações do jornal O Globo 


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