Dia da Favela: potências de Salvador levam moda periférica para o mundo
Mais da metade dos 170 bairros de Salvador são periféricos e abrigam diferentes talentos que atuam com moda
A expressão passou a ser utilizada também como uma forma de separar estas regiões/bairros de outros locais da cidade. Com o passar do tempo, termos como 'comunidade' e 'periferia' foram utilizados para diminuir estes estigmas. Em Salvador, apesar dos altos índices de violência e insegurança que cercam os bairros periféricos da cidade, os moradores destas regiões fogem dos estereótipos por meio de uma série de estratégias, incluindo a arte e a moda.
Mais da metade dos 170 bairros de Salvador são periféricos e abrigam diferentes talentos que atuam com moda. Um dos destaques é a modelo Dandara Raimunda, de 17 anos, que mora no bairro de Paripe, no Subúrbio Ferroviário. "É muito importante estar nesse meio porque, morando em periferia - onde geralmente subestimam os moradores -, eu mostro para quem vive lá que também podemos realizar nossos sonhos e que somos fortes", afirma.
Foto: Reprodução | Instagram @carolfyp
Dandara, que iniciou a carreira de modelo há pouco mais de um ano, carrega feitos marcantes: em junho, conquistou o segundo lugar no concurso Beleza Black Bahia e, agora em novembro, desfilou pela primeira vez na passarela do Afro Fashion Day.
Contrariando a realidade do bairro onde mora, que foi considerado um dos mais violentos da capital baiana no primeiro semestre de 2024 - segundo dados do Instituto Fogo Cruzado (IFC) -, a modelo ressalta a importância da visibilidade que traz para quem mora na comunidade.
"Desfilei na passarela do 'Afro', mostrando pra todo mundo que podemos sim. Espero realizar mais sonhos, e mostrar para o pessoal que não consegue acreditar neles mesmos, porque não nos permitiram acreditar que podemos", completa Dandara.
TENDÊNCIAS
Camisas de time, sandália Kenner e roupas 'street wear' (estilo urbano) foram algumas das tendências de moda que viralizaram entre os principais criadores de conteúdo de moda, como a carioca Malu Borges, que adotou a camisa do Vasco para eventos.
[caption id="attachment_396670" align="alignnone" width="710"] Foto: reprodução | TikTok- @maluborges[/caption]
Apesar desses elementos estarem em 'alta' agora, grande parte dessas peças de roupa já faziam parte do estilo e identidade de grande parte dos moradores dos bairros populares de Salvador. "Piriguete é um estilo periférico: o short jeans, a kenner ou a havaiana, a argola e o top são a forma como andamos diariamente pelas ruas das periferias de Salvador", explica a cientista social Tisy Reis, que é empreendedora da marca Piriguete Chique.
Tisy, que mora no bairro de Mata Escura, criou a marca não só para ter uma renda extra, mas também para ressignificar o termo 'piriguete'. "Escolhi 'Piriguete Chique' pois fazia muito sentido: piriguete é um termo criado na periferia de Salvador e, mesmo usado de forma pejorativa, eu pensei que fosse minha chance de ressignificar o nome que, tantas vezes, já tive como adjetivo. Escolhi e comecei pelas argolas, até chegar na costura de biquínis e o upcycling (técnica para reutilizar materiais que seriam descartados)", disse.
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A cientista social também explica que a moda é uma ferramenta para se expressar dentro da sociedade. "Eu acredito que o estilo já diz muito quem você é, então a moda me ajuda a expressar quem eu sou. A moda precisa estar a serviço da minha personalidade e não o contrário, eu não preciso usar tudo que entra na moda, eu uso a moda para dizer quem eu sou e eu sou piriguete; e a Piri é a materialização da minha personalidade adolescente", afirma.
Nas peças, a dona da Piriguete Chique busca valorizar os elementos culturais da capital baiana, como as cores do Olodum e as argolas inspiradas na religião de matiz africana.
[caption id="attachment_397232" align="alignnone" width="821"] Nathalia Luz (@pretaluz) vestindo Meninos Rei, argolas- @piriguetechique/ Stephanie Silva (@sthe_oficial0), argolas- @piriguetechique[/caption]
"Eu fui cristã protestante por muito tempo e, durante a adolescência, meu sonho era ser piriguete, usar roupa curta, argolas e brincos grandes. Com o tempo, eu fui me afastando dessa religião e me peguei apaixonada por tudo que envolvia a cidade. Todo esse amor reverbera nas peças que eu crio, a transparência nas peças que deixa o corpo mais nu, o biquíni fio dental, as peças bem chamativas que fazem referência aos orixás", conta.
A empreendedora é dona de uma das muitas marcas que nasceram nas periferias de Salvador. Em destaque, vale citar a Dendezeiro, que surgiu na Cidade Baixa e conquistou as passarelas do São Paulo Fashion Week (SPFW), além de parcerias com a C&A e Converse.
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Já a Salctiy, criada em 2021, é uma marca de roupa originada no bairro de Pernambués, focada em levar o estilo de rua conectado com a perspectiva do soteropolitano. No lançamento mais recente, a Salcity lançou a coleção 'Pernambucity', focada em trazer as vivências dos moradores da região, para além da violência. Em agosto de 2024, Pernambués esteve entre os cincos bairros mais violentos da cidade, registrando 4 tiroteios, 2 mortos e 1 ferido, segundo os dados do Instituto Fogo Cruzado.
"Dentro de todo o panorama de limitação e falta de perspectiva que uma grande parcela da periferia vive, se faz jovens resilientes, fortes, criativos, e determinados que acreditam que a arte pode mudar tudo", ressalta a marca.
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