Cultura

Fim das festas privadas de São João? Organizador do 'TicoMia' fala sobre resistência em meio a cancelamentos

Raul Dourado cita dificuldades no setor de eventos

Por Juana Castro

Fim das festas privadas de São João? Organizador do 'TicoMia' fala sobre resistência em meio a cancelamentosReprodução/Instagram (@forroticomiaoficial)/Agência Luz

Era só passar o Carnaval para que grupos de amigos - em diferentes pontos de Salvador - já começassem a se organizar, com antecedência, para o São João. No início dos anos 2000, ou mesmo na primeira metade da segunda década deste século XXI, as festas juninas privadas, com artistas do momento e regadas de bebida à vontade, eram destinos disputados.


Cruz das Almas, Amargosa, Jequié, Senhor do Bonfim... Todas elas (mas não só) eram conhecidas por atraírem, nesse período, visitantes baianos e de fora do estado para curtir festas como o Forró do Bosque, Forró do Piu-Piu, Forró da Margarida e o Sfrega, respectivamente. Era comum, por exemplo, ver concentrações de vans e ônibus "bate-volta" na capital, rumo ao interior, exclusivamente para tais eventos.


Mas, nos últimos anos, as festas particulares perderam força. O Forró da Margarida, em Jequié, por exemplo, fez sua última edição em 2015. Outras, como o Piu-Piu (Amargosa) e o Bosque (Cruz das Almas), sentiram os efeitos da pandemia de Covid-19 e não são realizadas desde 2022.


O Piu-Piu 2023 chegou a ser anunciado, mas foi cancelado a um mês do evento. À época, um comunicado foi compartilhado nas redes sociais: "A produção precisará dar uma pausa no evento e aproveita para agradecer ao público, a todos os parceiros e às bandas. O Forró do Piu-Piu retornará em 2024, com uma festa ainda mais bonita, completa e trazendo toda a energia do São João". O retorno, porém, não ocorreu.


O Sfrega (Senhor do Bonfim) realizou edição em 2023, mas o mesmo não acontecerá este ano. No último mês de abril, o empresário Paulinho Sfrega, fundador do evento, escreveu no Instagram que era "hora de embarcar em uma nova jornada de reinvenção", e agradeceu a todos que fizeram parte da festa ao longo de 24 anos.


No comunicado oficial do evento, disse que há, no momento, um "desafio único" o qual a organização lutou "incansavelmente" para reverter, "sêm exito": "as principais atrações que sempre nos encantaram estão comprometidas com outras agendas, contratadas pelas prefeituras do Nordeste inteiro para os festejos juninos".


"Apesar desse obstáculo, não perdemos a esperança. Olhamos para frente com determinação, sabendo que nossa história de sucesso é apenas o começo. Enquanto aguardamos ansiosasmente por melhores momentos, estamos explorando todas as possibilidades para trazer de volta o Sfrega em 2025, renovado e ainda mais incrível", diz ainda o texto. Veja aqui.


RESISTÊNCIA


Na contramão dos ciclos encerrados, o TicoMia, em Ibicuí, a cerca de 460 km de Salvador, é praticamente a única grande festa de São João privada realizada este ano, na Bahia. O evento - que surgiu há 37 anos - acontece neste sábado (22/6) com as seguintes atrações: Batista Lima, Eric Land, Tarcísio do Acordeon, Dorgival Dantas, Xand Avião, Luan Estilizado, Lordão e Otávio Mateus.


Para entender mais sobre a festa, as dificuldades e o fato de resistir em meio a tantos cancelamentos, o Aratu On conversou com o empresário Raul Dourado, um dos organizadores do TicoMia, que acredita que não existe um fato isolado responsável pelos fins das festas.


"Acho que evento, de uma forma geral, tornou-se algo que está sendo muito difícil de fazer, por questões financeiras, principalmente, e isso é atribuído a outros fatores. Acho que o mercado de eventos, de uma forma geral, está enfrentando uma uma crise. Me arrisco a dizer que uma das maiores da história. E há um investimento muito alto dos eventos públicos, principalmente este ano, por se tratar de um ano político [de eleições]", diz Dourado.


Ele pontua que fazer evento, hoje em dia, está muito caro, o que inclui custos com fornecedores, atrações, e impostos. "Por conta do setor público, as bandas acabaram aumentando demasiadamente os valores. Bandas que pagamos R$ 180 mil, ano passado, este ano estavam a R$ 300 mil. Os preços dos fornecedores, também (sonorização, iluminação, gerador, segurança) subiram muito e você não consegue passar esse aumento para o cliente no valor do ingresso, senão a festa fica inviável. Acho que tudo isso reunido veio ocasionando os cancelamentos", acrescenta.


Quando questionado sobre como o TicoMia vem conseguindo se manter, ele destaca que a festa, desde o seu surgimento, "vem construindo um conceito que as pessoas abraçaram, que é o da valorização da cultura, da tradição do forró e do São João do Nordeste":


"A gente sempre apostou muito nisso. Inclusive, muitas vezes, a gente foi até criticado, porque as pessoas buscam bandas maiores, cantores sertanejos e até de axé, pagode, e a gente nunca foi muito para esse lado comercial. Sempre apostamos muito na tradição, mesmo que, às vezes, remando contra a maré".


O foco, ainda de acordo com o empresário, é a qualidade do evento de forma geral, e não apenas as atrações. "É o cliente chegar e ser bem atendido, ter um produto de qualidade, uma cerveja gelada, uma carne gostosa, um acarajé bom, um licor bom... A gente sempre preza por esses detalhes porque, no final das contas, é o que faz a diferença", frisa.


[caption id="attachment_345400" align="alignnone" width="700"] Foto: Reprodução/Instagram[/caption]

Dourado analisa ainda que, atualmente, há grandes shows gratuitos nas cidades, nessa época, o que também impacta na menor procura de festas fechadas. "Hoje você tem shows muito melhores na praça pública. A pessoa pensa 'por que vou no evento privado, pagar R$ 500 para ver o show de tal banda, sendo que posso ver o mesmo show na praça pública?'. É preciso ter um diferencial, para que as pessoas tenham vontade de ir ao evento pelo que ele vai proporcionar de experiência, diversão e qualidade do serviço", continua.


O empresário revela também que o TicoMia não tem uma receita grande em relação a patrocínio. "Basicamente, nosso único patrocinador deste ano é a Ambev, com a Brahma", cita. Mas a maior parte da receita, afirma, é da própria venda de ingressos. "A expecativa de público total (pagantes e cortesias) é em torno de 14 mil pessoas", conclui.


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