Não há título maior que representar a própria quebrada
Em qualquer periferia do Brasil, sonhar em se tornar jogador profissional faz parte do imaginário das crianças de forma indissociável. Mais do que o mero desejo de viver do esporte mais popular do planeta, esse é um sonho que representa o anseio de garantir um futuro melhor para a própria família e, muitas vezes, para a comunidade como um todo.
Basta ver exemplos de estrelas atuais que cresceram em alguma favela brasileira. Vinícius Júnior, craque do Real Madrid, saiu da periferia de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e tem um instituto que realiza diversos trabalhos sociais. O atacante Richarlison, nascido no Espírito Santo, também faz esforços para ajudar no desenvolvimento de sua terra. Enfim, a lista é imensa.
Um dos fatores que explica a motivação desses jogadores, na minha opinião, é o famoso diploma de realidade. Eles saíram de regiões em que viveram todo tipo de dificuldade, e certamente ainda têm parentes e amigos que continuam vivendo por lá. Quando a gente entende certas dores, por já ter passado por elas, é impossível fechar os olhos e fingir que não as vê.
Há algumas semanas, eu e alguns parceiros de comunidades de Salvador demos início ao projeto Mini Craque da Comunidade. A ideia é a seguinte: juntamos 12 times com garotos de até 15 anos para um torneio realizado em seis semanas. Ao final, nós iremos nos reunir com alguns olheiros convidados para eleger os três jogadores que mais se destacaram, que receberão o título que dá nome à iniciativa.
Serão os mini craques de suas respectivas comunidades. Além da mera competição e da diversão, meu objetivo é correr atrás de oportunidades para que esses garotos possam explorar seus talentos e se desenvolvam para, quem sabe, realizarem o sonho de jogar futebol profissional um dia. Na prática, aliás, todos os meninos irão tirar algo positivo dessa experiência, porque é nítido o comprometimento deles com o projeto e o espírito esportivo que todos estão compartilhando.
No momento em que escrevo esta coluna, estamos na metade do torneio que integra o Mini Craque da Comunidade, a Copa São José, cujas partidas são realizadas no Dique do Cabrito. A esta altura do campeonato, alguns times já têm mais pontos que outros, mas a dedicação de cada garoto segue a mesma, independentemente de como o seu time começou.
Entre todos eles, há uma frase muito repetida, quase como um mantra: representar a favela. No fim das contas, é disso que se trata. É óbvio que cada um deles quer ganhar todos os jogos e, no fim, receber o título de mini craque da comunidade. Mas, acima disso, há um desejo genuíno de dar orgulho às pessoas da sua comunidade, seja dentro ou fora de campo.
Nesse sentido, eu acredito que o grande legado que já estamos deixando com esse projeto é que cada garoto tem, mais do que nunca, a vontade de representar o seu povo, a sua quebrada. Estou na torcida por todos, para que possam realizar o sonho de ser jogador e brilhar nos gramados mais importantes do mundo. O nosso objetivo principal, no entanto, é mostrar que não há conquista maior do que representar a própria comunidade, seja como for.
Assim como as Eleições Mirins, outra iniciativa que realizamos com nossas crianças, o Mini Craque da Comunidade compartilha do mesmo objetivo, apesar de ir por outro caminho. São projetos que estimulam o envolvimento das crianças com a comunidade e criam um enorme senso de pertencimento. Projetos que as fazem pensar: "eu tenho muito orgulho do lugar de onde vim e vou lutar por um futuro melhor para os meus".
Estou encantada com a participação das crianças no Mini Craque da Comunidade. Está lindo de ver e, embora eu ainda não possa dar muitos detalhes, antecipo que os três selecionados terão acesso a oportunidades muito especiais. E já antecipo também que, para que possamos contemplar cada vez mais meninos, iremos promover outras edições futuramente. Para que todos sintam como é gratificante contribuir com a comunidade e possam levar isso por toda a vida.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.
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