Estudante denuncia professora de filosofia por "conteúdo esquerdista" e caso vai parar na policia em salvador; jovem se diz hostilizada
Segundo a Associação dos Professores Licenciados do Brasil (APLB), a educadora ficou abalada emocionalmente e precisou ser hospitalizada.
Uma professora de filosofia do Colégio Estadual Thales de Azevedo, em Salvador, foi intimada pela Polícia Civil para prestar esclarecimentos após um aluna registrar ocorrência alegando que ela ensinava "conteúdo esquerdista" em sala de aula. Entre os assuntos abordados, estariam questões de gênero, racismo, assédio, machismo e diversidade.
Segundo a Associação dos Professores Licenciados do Brasil (APLB), a educadora ficou abalada emocionalmente e precisou ser hospitalizada após receber a intimação para comparecer à Delegacia de Repressão a Crimes contra Crianças e Adolescentes (Dercca), onde foi registrada a ocorrência nesta última terça-feira (17/11).
A mãe da aluna relatou, de acordo com a Polícia Civil, que a filha teria sofrido constrangimento na escola. Disse ainda que, em decorrência de sua opinião política, a adolescente teria sido hostilizada por colegas e impedida de participar de atividades em grupo, sob consentimento da professora. As pessoas envolvidas estão sendo ouvidas.
Por meio de nota, o sindicato disse que seu departamento jurídico foi acionado por um grupo de professores e classificou a atitude de mãe e filha "inamistosas e de perseguição".
"A APLB-Sindicato vem a público manifestar sua solidariedade e apoio jurídico aos docentes da Escola Estadual Thales de Azevedo por tentativas de intimidação, coação e pressão psicológica por grupos de extrema direita que tentam cercear a livre expressão e tumultuar aulas e algumas atividades propostas pelos professores e professoras".
A entidade informou ainda que, em agosto, um grupo de estudantes e seus responsáveis emitiram uma nota atacando professores e palestrantes após um seminário online realizado pela escola.
Em outra ocasião, segundo o sindicato, a mãe da aluna que registrou a ocorrência invadiu o espaço de uma aula online de inglês para exigir explicações sobre a temática, que, para ela, seria inadequada por se tratar de feminismo.
O coordenador-geral da APLB, Rui Oliveira, esteve na escola nesta última quinta-feira (18/11) ao lado do representante jurídico do sindicato para apurar as denúncias. Para ele, é inadmissível a perseguição aos docentes.
"Infelizmente são ações de grupos ligados a pessoas de extrema direita, que desrespeitam e ferem a liberdade de cátedra. Não vamos permitir que isso aconteça. Vamos dar todo o apoio para a comunidade escolar do Thales de Azevedo, principalmente à professora que foi intimada, bem como disponibilizar nossos advogados para acompanhá-la no dia da audiência. Vamos continuar denunciando toda a forma de abuso e perseguição", afirmou.
A equipe gestora do colégio repudiou, por meio de nota, a intimação à professora da instituição por "ferir a liberdade de cátedra e autonomia pedagógica, princípios constitucionais fundamentais".
"Infelizmente, as alegações de que os conteúdos curriculares das ciências humanas são de cunho ‘esquerdista’ e os conteúdos de linguagens são de ‘doutrinação feminista’ têm provocado o enviesamento dos conhecimentos historicamente construídos e dos fenômenos sociais, em silenciamento dos docentes", diz a nota.