Cônsul honorário do Japão recebe título de cidadão soteropolitano
Proposta do vereador Kel Torres (Republicanos) concede o título de cidadão soteropolitano a Roberto Mizushima, cônsul honorário do Japão em Salvador
Por Júlia Naomi.
*Informações atualizadas, com uma correção. Diferentemente do publicado inicialmente, o cônsul honorário do Japão em Salvador não é criador do 'Bon Odori', forma como o Festival da Cultura Japonesa de Salvador é conhecido popularmente. O Festival foi criado durante pela Associação Cultural Nipo-Brasileira de Salvador (ANISA), no período em que o homenageado era presidente.
A Câmara Municipal de Salvador concedeu o título de cidadão soteropolitano ao cônsul honorário de Salvador, na noite desta quarta-feira (8). A cidadania reconhece décadas de dedicação de Roberto Mizushima, 71, para fortalecer os laços entre Salvador e o Japão, tanto no campo cultural quanto nas relações institucionais. A proposta de homenagem é do vereador Kel Torres (Republicanos).
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Em seu discurso, o vereador Kel Torres destacou que “o título é mais do que um reconhecimento individual, é um gesto de gratidão ao trabalho incansável de Roberto Mizushima na construção de pontes entre povos e culturas”.
O diplomata nasceu em Tupã, cidade no interior de São Paulo, e se mudou para Salvador em 1981. "Encontrei uma cidade viva, acolhedora e pulsante. Salvador me recebeu de braços abertos, encerrando definitivamente o meu desejo inicial de retornar à minha cidade a natal, em São Paulo", declarou, em seu discurso de agradecimento pela honraria.
"Cheguei à Bahia um ano após ter me casado com a Sônia, minha companheira de vida e de todos os desafios. Foi aqui que construímos o nosso lar e vimos nascer e crescer nossos três filhos: Guilherme, Henrique e Marcelo, todos filhos desta terra. Eles representam uma ligação mais que verdadeira do amor que tenho por Salvador", continuou.

Os vínculos entre a Bahia e o Japão remontam o período entre 1953 e 1962, quando as primeiras famílias de imigrantes japoneses se instalaram nas cidades de Una, Ituberá e Mata de São João, devido a um acordo do governo do estado para impulsionar a agricultura na região.
Na capital baiana, a Associação Cultural Nipo-Brasileira de Salvador (ANISA) foi fundada em 1975. Desde então, preserva e difunde as tradições japonesas na cidade, promovendo intercâmbio cultural, esportivo e educacional. Roberto Mizushima presidiu a associação ao longo de 15 anos.
Durante sua gestão, em 2008, ano que marca o centenário da imigração japonesa no Brasil, a ANISA criou o Festival da Cultura Japonesa em Salvador, conhecido como 'Bon Odori'. O evento integra o calendário cultural oficial da capital baiana e se consolidou como o segundo maior de cultura japonesa do Brasil, atrás apenas do Festival do Japão, em São Paulo.

Quando o Festival da Cultura Japonesa foi criado, o Bon Odori, festa de origem budista, já era celebrado há 14 anos em Salvador, em um evento reservado às famílias de descendentes de japoneses associadas à ANISA. A proposta da organização, em 2008, foi tornar o evento um festival aberto ao público, com o acréscimo de mais elementos da diversidade cultural japonesa. Mesmo com as transformações, o Festival ficou popularmente conhecido pelo nome da tradição original. Em 2025, ocorreu a 17° edição do Festival da Cultura Japonesa e o 32° Bon Odori.
Roberto Mizushima lembra que o evento começou pequeno e considera que o crescimento se deve ao fato de que "a população baiana abraçou muito a cultura japonesa". De acordo com o atual presidente da ANISA, Naoto Shimizu, em 2025, a 17° edição do evento, que acontece no Parque de Exposições, alcançou um público de 110 mil pessoas.
Para Mizushima, o sentimento de alcançar tamanha proporção "é de muita alegria, porque esse número de 100 mil pessoas [sic] é impressionante. São Paulo, que é uma capital que tem 5 vezes a população daqui, tem um público do festival de 180 mil a 200 mil. Então a gente conseguiu divulgar um pouco mais a cultura japonesa", diz.
Outras contribuições homenageado com o título de cidadão de Salvador
Mizushima se destacou pelo fortalecimento dos laços culturais entre a comunidade nipo-baiana, Salvador e o Japão, além de impulsionar a economia regional com a instalação da empresa Sansuy do Nordeste, no polo petroquímico de Camaçari (BA), em 1981. Já em 1994, abriu sua própria empresa de contentores flexíveis, a Fujibag.
No âmbito esportivo, ele criou de um torneio de beisebol chamado Copa Fujibag, que até antes da pandemia de Covid-19, reunia equipes de diferentes estados e regiões do país para competir na capital baiana. Mizushima atuou como jogador e técnico do Anisa Troopers, um dos times da capital baiana.

Em entrevista ao Aratu On, em junho de 2025, ele conta que quando se mudou para Salvador, a Federação Cultural Nippo Brasileira da Bahia já promovia torneios de softball, uma forma simplificada do beisebol, entre as colônias japonesas.
Segundo ele, na década de 1990, quando transmissões de jogos de beisebol começaram a se tornar mais populares no Brasil, um grupo da Universidade Federal da Bahia começou a formar um time. Assim, descendentes de japoneses que já praticavam softball se juntaram a eles.
“Esse grupo cresceu e dez anos atrás, mais ou menos, eu comecei a fazer o torneio Fujibag, chamando equipes de fora, para incentivar o pessoal daqui. Vieram equipes de Manaus, de Recife, de Vitória do Espírito Santo e algum time de São Paulo”, conta.
Ele relata que Salvador chegou a ter quatro times de beisebol, formados por descendentes de japoneses, não descendentes e um time de cubanos, mas que o período pandêmico desmobilizou os treinos. As duas equipes restantes estão se unindo para formar um único time, com cerca de 15 pessoas.
Os jogos acontecem na Arena Shimizu, no bairro do Cassange. O local está sendo reformado e há previsão de realização de mais uma edição da Copa Fujibag em novembro.
Atuação como cônsul honorário do Japão em Salvador
Em 2022, Mizushima foi nomeado cônsul honorário do Japão em Salvador, cargo voluntário em que trabalha para a ampliação das relações de amizade entre a cidade e o país asiático. Em agosto de 2025, por exemplo, a vice-prefeita e secretária de turismo Ana Paula Matos (PDT), compartilhou uma foto ao lado de Mizushima em seu perfil no Instagram.
"Recebi aqui no gabinete, o Cônsul Honorário do Japão, Roberto Mizushima, para uma produtiva troca de ideias e projetos que fortaleçam o turismo e as ações culturais entre Brasil e Japão. Tratamos temas como irmanamento com cidades japonesas, divulgação de Salvador no Japão, práticas cidadãs e eventos esportivos em escolas municipais", escreveu a gestora.
Qual a origem do Bon Odori?
Bon Odori é o nome de uma dança que integra as manifestações culturais budistas no Japão. Tradicionalmente, faz parte de um festival chamado Obon. A festa, que homenageia os espíritos dos antepassados, é celebrada entre os meses de julho e agosto, durante o verão no hemisfério norte.

A dança Bon Odori ocorre em um círculo, no qual todos os participantes imitam os passos daqueles que lideram a fila de dançarinos, com gestos que remetem a atividades do cotidiano, como cavar, colher e pescar.
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