Foliões de primeira viagem falam sobre estreia no Carnaval

Foliões que nunca curtiram o Carnaval dizem por que 2025 será o ano de cair na folia

Por Anna Caroline Santiago.

Quando o calendário se alinha em fevereiro, Salvador se transforma em um palco aberto durante sete dias. Mesmo no berço da maior festa de rua do planeta, há quem nunca tenha vivido essa experiência. Porém, em 2025, a capital baiana vai ganhar três novos foliões, que decidiram quebrar a rotina e provar que “antes tarde do que nunca” para cair na folia.


Pré-Carnaval começou nesta semana em Salvador. Foto:  Lucas Moura – Secom PMS

Pré-Carnaval começou nesta semana em Salvador. Foto: Lucas Moura – Secom PMS




É de causar estranheza: soteropolitanos que nunca foram ao Carnaval, nem que seja para dizer “já fui e não gostei”. No estilo “o que vivem, o que comem”, o Aratu On conversou com três jovens que nunca caíram na folia antes e descobriu por que 2025 será o ano de tropeçar nos “olhos de gato” – os tachões de sinalização dos circuitos.


"Que não seja nada parecido com o Furdunço"


Salvador está em contagem regressiva para o Carnaval, e as festas que antecedem a folia já dão o tom do que está por vir. Enquanto soteropolitanos preparam as melhores fantasias, agregados desembarcam na capital. É o caso da social media Isabela Monteiro, de 23 anos, que chegou a Salvador há seis anos e nunca pisou em um circuito de Carnaval.


Natural da capital paulista, Isabela veio para Salvador em 2019 para estudar na Universidade Federal da Bahia (Ufba). “Nunca dei chance de passar o Carnaval aqui porque minha família mora em São Paulo, e as férias da faculdade sempre coincidiam com a festa”, explica. Durante os anos de faculdade, ela preferia alugar o apartamento onde morava, localizado no circuito Barra-Ondina, já que suas colegas de casa também viajavam.


“Nunca considerei realmente estar aqui no Carnaval, porque sempre foi um momento de estar com minha família”, conta. Mas, neste ano, algo mudou. “O que me fez mudar de ideia foi entender como a cidade gira em torno do Carnaval”, revela.


Isabela teve um gostinho da folia durante o Furdunço e o Fuzuê, no último final de semana. Apesar de ter ido inicialmente a trabalho, ela aproveitou para “curtir um pouquinho”. O Fuzuê, no sábado (22), foi uma experiência positiva. Já o Furdunço, no domingo, foi marcado por um furto e um ataque de pânico. “Foi uma das piores experiências da minha vida”, desabafa.


Segundo a publicitária, ela desejava conhecer a experiência de ver a banda BaianaSystem no Carnaval mas, infelizmente, não foi a melhor das vivências. "Fui, não gostei, mas mesmo assim quero experimentar outros carnavais e viver novas experiências na cidade", relatou.


BaianaSystem se apresentou no furdunço no último domingo. Foto: Alfredo Filho – SECOM

BaianaSystem se apresentou no furdunço no último domingo. Foto: Alfredo Filho – SECOM




Apesar do susto, Isabela não quer deixar que essa experiência negativa influencie sua visão sobre o Carnaval. “Estou tentando não deixar que o Furdunço estrague os outros dias”, diz. Agora, ela se prepara para os próximos dias, se alimentando bem e se exercitando “para não ficar doente”. Já foi alertada, inclusive, a evitar a pipoca de Bell Marques. Ela garante que quer aproveitar a festa novamente, desde que "não seja nada parecido com o Furdunço".


Trabalho como parte da folia


Diferente de Isabela, o estudante de jornalismo Lucas Soares, de 18 anos, tem motivos religiosos para nunca ter ido ao Carnaval. Criado em uma família cristã, ele passou a infância e adolescência no interior da Bahia – em Itamari, Jequié e Gandu –, o que também “atrasou” seu contato com a festa.


“Por onde vivi, não é muito comum, e pela questão religiosa, não convém ir a festas”, explica. A família também influenciou sua decisão. “Minha família não curte, acha um ambiente muito problemático, e eu também não sou muito fã de festas”, comenta.


A relação de Lucas com o Carnaval é controversa. Ele admite que o “balançar de corpo” – como define – chama atenção, mas nunca se sentiu à vontade com a ideia de participar. “Muita festa, droga, sexo, muita gente reunida... É um local que eu tinha mais receio”, confessa.


Carnaval de Salvador começa nesta quinta-feira. Foto: Lucas Moura – Secom PMS

Carnaval de Salvador começa nesta quinta-feira. Foto: Lucas Moura – Secom PMS




No entanto, em 2025, Lucas decidiu dar uma chance à folia e, dessa vez, em um circuito que não é tão convencional como Barra-Ondina ou Campo Grande. O motivo? Um trabalho voluntário no Carnaval do Nordeste de Amaralina, um dos mais tradicionais carnavais de bairro de Salvador. “Sinto que vai ser uma boa experiência, começando pelo Nordeste de Amaralina. Provavelmente vou conhecer outros carnavais, como o da Barra ou do Pelourinho, em outros anos”, diz.


Para Lucas, o Carnaval do Nordeste de Amaralina será sua porta de entrada para a folia. “É um jeito mais tranquilo de começar”, reflete.


'Antes tarde do que nunca'


Ao contrário de Lucas e Isabela, que tiveram o trabalho como justificativa para estrear no Carnaval, o cantor e produtor musical Pedro Hit, de 29 anos, está prestes a viver uma experiência que, até então, só conhecia de longe.


Com uma mistura de expectativa, curiosidade e um certo receio, ele decidiu que 2025 será o ano de mergulhar de cabeça na folia. E não, ele não vai de camarote. “Eu quero é sentir o povo, o suor, a energia”, afirma.


Carnaval oficial começa na quinta-feira. Foto:  Lucas Moura – Secom PMS

Carnaval oficial começa na quinta-feira. Foto: Lucas Moura – Secom PMS




Aos 29 anos, divorciado e pai de um menino de 7 anos, ele está em um momento de vida em que quer experimentar coisas novas. “Tem muita coisa que eu não vivi ainda, e agora estou dando espaço para isso. O Carnaval é uma delas.”, conta.


Pedro, que nunca teve amigos muito fãs de Carnaval – “eles são mais de ficar em casa” –, sempre teve vontade de curtir a festa, mas esbarrava em dois obstáculos: a falta de companhia e a fama de violência que ronda a folia baiana.


“O marketing do Carnaval aqui é horrível. O que chega para gente é briga, pancadaria, assalto, roubo... A mídia mostra a realidade, e isso acaba afastando muita gente, inclusive a família. Minha mãe vê as notícias e já fica: ‘Não vai, não!’. É complicado”, conta, rindo.


Mas este ano, algo mudou. Pedro, que trabalha como produtor do cantor Daniel Vieira, teve um gostinho do Carnaval de cima de um trio elétrico durante o Furdunço, no domingo. “Você tá lá em cima, vendo a festa, o mar de gente, e dá mais vontade ainda de participar. Então decidi: vou viver essa experiência, seja ela boa ou ruim”, afirma.


Pedro não pretende pagar blocos ou camarotes. “Camarote é uma festa privada, e eu já vivencio isso quando faço shows. Pra mim, o Carnaval mesmo é o de rua, estar ali no meio da galera, atrás do trio, sentindo a energia”, explica. Ele ainda não sabe exatamente qual dia vai escolher para cair na folia, mas já tem certeza de que quer viver a experiência completa. “Quero conhecer gente nova, sentir o clima, ver como é.”


Carnaval de Salvador tem programação completa divulgada. Foto: Joka Gueiros – Secom

Carnaval de Salvador tem programação completa divulgada. Foto: Joka Gueiros – Secom




Pedro não sabe se essa será uma experiência única ou se vai virar hábito. “Pode ser que, nos próximos anos, eu escolha um ou dois dias para ir de novo. Quem sabe?”, reflete. 


O Carnaval de 2025 promete ser especial para esses três jovens, que representam uma parcela de baianos que, por diversos motivos, nunca viveram a folia momesca. Agora, com a decisão tomada, Isabela, Pedro e Lucas se preparam para se jogar na multidão - ou não -, curtir os trios elétricos, dançar ao som do axé e, finalmente, entender por que o Carnaval de Salvador é considerado a maior festa de rua do mundo.


Leia Mais: Carnaval: confira a programação completa dos circuitos da folia

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