'Melhor amigo' dos garis do Canela tem 3 anos e pediu festa do "caminhão do lixo"; conheça Louie
'Melhor amigo' dos garis do Canela tem 3 anos e pediu festa do "caminhão do lixo"; conheça Louie
- “Sou sim!”, responde Louie.
A conversa acima já é rotina na família Sampaio. De segunda a sábado, por volta das 19h, todos vão para a frente do prédio, no bairro do Canela, em Salvador, para esperar a turma do caminhão de lixo, ou, como prefere o pequeno Louie, de apenas três anos, “os amigões”.
Danilo é um deles. Segundo a mãe da criança, a contadora Andrea Mendonça, 38, o filho reconhece e identifica cada um dos profissionais, garis e motorista, por uma característica. “Danilo sempre faz esse cumprimento, William faz aniversário no mesmo dia que ele, Fábio dirige. Ele conhece todos!”.
Em conversa com o Aratu On, Andrea explicou que não sabe ao certo quando começou o encantamento de Louie pelo caminhão de lixo, mas acredita que o barulho e a movimentação do veículo que sempre o deixaram entretido, desde quando era “menorzinho”.
Depois, por volta de um ano de idade, da janela da casa da avó, Tânia, no primeiro andar de um edifício no bairro da Graça, ele começou a observar o trabalho dos garis. O primeiro contato com os profissionais, contudo, veio quando a família se mudou de bairro, no meio deste ano:
“Um dia ele deu tchau, mas não viram e ele chorou muito”, lembra Andrea. “Disse para ele, então, falar com os garis. Aí ele chamava: ‘amigão!’, ‘amigo!’... e começaram a responder. Desse dia em diante, os garis passaram a procurar por Louie assim que chegavam na rua. Quando ele ouve o barulho do caminhão, também, já quer descer”, diverte-se a mãe.
A amizade foi crescendo, a admiração aumentando… até que a criança fez um pedido especial aos pais: um aniversário com o tema “Nemo”, na escola, e um de “caminhão de lixo - na casa da vovó”. “Entendi que ele sugeriu a casa da avó porque era de lá que conseguia se comunicar com os ‘amigões’, então, pensamos em uma forma de levarmos a festa para os funcionários”, relata a mãe.
Foi assim que, na última sexta-feira, 29 de novembro, quando completou três anos - e após voltar da escola -, que Louie e sua família organizaram um “aniversário na caixa” para comemorar com os garis, quando eles passassem em frente ao prédio.
“A gente preparou a festa para o dia 30, um sábado. Expliquei que os amigões não estariam, devido ao trabalho, mas fizemos a caixa, com bolo, doces e uma lembrancinha para cada, na sexta. Descemos todos para a ‘segunda festa’ e agradecemos por todo o carinho que eles tinham com meu filho. Afinal, eles eram o motivo daquilo”, conta.
Bolo da comemoração do dia 30/11 e a “festa na caixa” | Fotos: arquivo pessoal
Porém a surpresa foi maior, para a família, quando o motorista Fábio, em nome de todos os funcionários - que se organizaram para tal - entregou um caminhão de lixo de brinquedo para Louie, como presente de aniversário, com direito à dedicatória.
Caminhão de brinquedo que os amigões deram a Louie | Imagens: arquivo pessoal
"Esse presente é com muito amor e carinho. Parabéns para a criança mais alegre e carinhosa de todas! Você é um anjinho que veio para iluminar a vida de todos nós! Feliz Aniversário, amiguinho!"
“Nesse momento a mãe chorava [risos], todo mundo estava emocionado…”, relembra a contadora. Ela disse, ainda, que eles já haviam dado a Louie uma farda oficial dos garis, uma semana antes. “Ele ficou muito feliz! Na segunda-feira, depois das comemorações, contou para a escola toda que tinha ganhado um caminhão de lixo de verdade”.
Louie com a farda oficial dos garis | Foto gentilmente cedida ao Aratu On
CONTRATEMPO
Quem vê Andrea feliz ao falar sobre a amizade entre o filho e a “turma do caminhão” que passa pelas ruas do Canela não imagina que, apenas dois dias antes do aniversário de Louie, ela e o marido, o advogado Caio Sampaio, 41, receberam uma carta de vizinhos, moradores de um edifício próximo.
“Informaram que enviariam uma reclamação para a empresa de limpeza, dizendo que os funcionários estavam na rua fazendo ‘baderna’. Na carta, falaram que mudariam a equipe e pediram que mudássemos nosso comportamento”, explica.
Para a contadora, quem escreveu deve ser alguém “amargo” e que se sente superior aos demais. “Fiquei destruída. Não consigo acreditar que incomode alguém. Não dura mais que dois minutos o tempo que eles acenam e interagem com meu filho. Além disso, não é tarde - o caminhão passa às 19h”.
Ela reforça, ainda, que nunca quis prejudicar ninguém. Por isso, no dia que recebeu a carta, pediu ao sogro que conversasse com os garis antes que Louie os visse, explicando a situação. Depois, explicou ao filho que, naquele dia, não poderiam fazer barulho. “Disse que tinha alguém doente no prédio da frente e ele entendeu”.
Os “amigões”, contudo, conseguiram deixar o pequeno feliz mesmo sem dizer uma palavra. No dia seguinte, o pai da criança conversou com os funcionários, ao que eles responderam que a “amizade com Louie era superior a isso”. “Não tive raiva [de quem escreveu a carta], mas fiquei triste por lembrar que ainda existem pessoas que se sentem superiores a alguém”, reflete Andrea. “Por isso, agora, sempre vamos para a frente do prédio, para facilitar a interação e não ‘incomodar’”.
Por fim, Andrea reforça que apesar de saber do peso que a educação doméstica tem sobre a vida do filho, esse jeito sensitivo é algo particular. “Tenho muito orgulho. Somos desse jeito, mas ele não cansa de nos surpreender. A capacidade de empatia que ele tem já é uma característica dele”, conclui.
EXTRA
Na noite dessa quarta-feira (4/12), Louie realizou mais um sonho. “Dirigir” o caminhão de lixo. Bom, isso é o que o pequeno tem dito a todos, mas, na verdade, ele posou para uma foto sentado no banco do motorista. Quem nos conta essa história é o próprio garoto.
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