Oito em cada dez pessoas transexuais estão fora do mercado de trabalho, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Preconceito, violência e, consequentemente, falta de acesso à educação formal são alguns dos motivos que provocam essa exclusão. Apenas 0,02% das pessoas trans têm acesso a uma universidade no país. Segundo a Antra, a maior parte delas abandona os estudos por volta dos 13 anos.

Com os obstáculos à garantia de renda formal, cerca de 90% das pessoas trans passam pela prostituição como forma de subsistência, de acordo com a presidente e criadora da Antra, Keila Simpson, que faz parte da estatística. "Fui prostituta por muito tempo e continuo sendo. Eu gosto muito de me afirmar como, porque é o que eu sou e é o que eu fui na minha vida o tempo todo", afirma, destacando o orgulho da comunidade neste 29 de janeiro, Dia Nacional da Visibilidade Trans.

Representante da comunidade, ela aponta que algumas pessoas do grupo têm apostado em outro caminho para garantir a renda: o empreendedorismo. Ainda que seja uma minoria, o número de pessoas trans que migraram para esse setor tem crescido entre quem não consegue adentrar o mercado de trabalho formal, inclusive na Bahia. É o caso da cabeleireira e empresária Razal Cerqueira, que tem um salão de beleza em Salvador.

Razal sonha em aumentar o espaço, mas sofre com os altos custos para essa expansão. Antes do empreendimento, ela já havia trabalhado como promotora de eventos, consultora financeira e vendedora, mas nunca desistiu do sonho de ter o próprio negócio. "Aconselharia outras pessoas trans que desejam empreender a fazer aquilo que amam e acreditar em si mesmo, independente das críticas, pois elas estão em todas as áreas e em todos os setores".

[caption id="attachment_287781" align="alignnone" width="741"]<img class="wp-image-287781 size-full" src="https://aratuon.com.br/wp-content/uploads/2024/01/cabelereira.jpg" alt="" width="741" height="471" /> Razal tem o próprio salão de beleza e sonha com a expansão do negócio | Foto: arquivo pessoal[/caption]

FEIRA TRANS MIX

Já a empreendedora Brenda dos Santos de Souza sempre teve o objetivo de impactar positivamente a população soteropolitana com o intuito de trazer visibilidade e oportunidade de renda para pessoas LGBTRANS+. Em 2023, realizou o sonho dela e criou o  projeto "Feira Trans Mix", um evento onde cada participante pode expor o próprio negócio.

[caption id="attachment_287782" align="alignnone" width="720"]<img class="wp-image-287782 size-full" src="https://aratuon.com.br/wp-content/uploads/2024/01/WhatsApp-Image-2024-01-23-at-15.20.02-1.jpeg" alt="" width="720" height="480" /> Feira Trans Mix reúne empreendedoras trans de Salvador | Foto: arquivo pessoal[/caption]

A empreendedora explica que essa foi a alternativa que pensou "para voltar a sonhar, e outras pessoas também". Na primeira edição da feira, no ano passado, 11 pessoas trans empreendedoras compartilharam as suas vivências no mercado de trabalho para um público que chegou a nove mil pessoas. Já na última edição, que aconteceu no dia 20 de janeiro, no Centro Histórico de Salvador, a feira recebeu mais de 15 mil visitantes.

[caption id="attachment_287783" align="alignnone" width="720"]<img class="wp-image-287783 size-full" src="https://aratuon.com.br/wp-content/uploads/2024/01/WhatsApp-Image-2024-01-23-at-15.20.01-1.jpeg" alt="" width="720" height="480" /> Feira Trans Mix reúne empreendedoras trans de Salvador | Foto: arquivo pessoal[/caption]

"Em diversos espaços, não somos bem-vindes, e muitas pessoas nos negam oportunidades, evitam nos contratar e se relacionar com a gente, simplesmente por ser quem somos", diz Brenda. Por isso, a criadora do evento afirma que a Feira Trans Mix é uma possibilidade de renda e de emancipação das pessoas trans de dinâmicas sociais que ela chama de "desumanizadoras". "Pessoas trans merecerem viver plenamente", afirma.

VIOLÊNCIA

O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo, de acordo com pesquisa da Antra com apoio de universidades como a Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Federal de São Paulo (Unifesp) e Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 2022, a Bahia foi o segundo estado com a maior taxa de homicídios, com 13 mortes. A lista é liderada com São Paulo, com 25 assassinatos.

Keila aborda também a violência no ambiente escolar. "Nós falamos de uma população que foi expulsa da escola muito cedo. A escola as expulsou com toda a sua violência e com todo seu bullying. É mais difícil buscar a formalidade do trabalho sem essa formação e é muito mais difícil ficar dentro de uma cadeia de empregabilidade", explica.

Confrontando essa realidade, o Supremo Tribunal Federal equiparou a transfobia ao crime de racismo em 2019, transformando esse ato discriminatório em inafiançável e imprescritível. Mulheres transgênero e transexuais também podem contar com o auxílio da Lei Maria da Penha. De acordo com a Antra, de 131 pessoas trans assassinadas no Brasil em 2022, 130 foram mulheres trans ou travestis.

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Nesta segunda-feira (30), a Prefeitura de Salvador promove um Mutir&atilde;o de Sa&uacute;de para pessoas Trans, em alus&atilde;o ao 29 de janeiro, Dia Nacional e m&ecirc;s da Visibilidade Trans. A iniciativa da Secretaria Municipal da Sa&uacute;de (SMS)&nbsp;&eacute; realizada atrav&eacute;s do Campo Tem&aacute;tico Sa&uacute;de da Popula&ccedil;&atilde;o LGBT, Distrito Sanit&aacute;rio Centro Hist&oacute;rico, e Secretaria Municipal da Repara&ccedil;&atilde;o (Semur), com apoio da Secretaria Municipal de Pol&iacute;ticas para Mulheres, Inf&acirc;ncia e Juventude (SPMJ).

O mutir&atilde;o acontece das 13h30 &agrave;s 16h, no Observat&oacute;rio Permanente da Discrimina&ccedil;&atilde;o Racial e LGBT+, localizado na Rua Carlos Gomes, 31 (Clube de Engenharia), Centro. Os atendimentos ser&atilde;o realizados por demanda espont&acirc;nea, e n&atilde;o h&aacute; limite de vagas. &Eacute; preciso levar apenas documento de identifica&ccedil;&atilde;o e Cart&atilde;o SUS. Os participantes receber&atilde;o certificado.

Ser&atilde;o ofertados diversos servi&ccedil;os, dentre os quais: vacina&ccedil;&atilde;o, impress&atilde;o de cart&atilde;o SUS com nome social, testagem para HIV e outras ISTs, dispensa&ccedil;&atilde;o de autoteste de HIV e preservativos, orienta&ccedil;&otilde;es em sa&uacute;de bucal e nutricional, agendamento de consulta m&eacute;dica e consulta para Profilaxia Pr&eacute;-Exposi&ccedil;&atilde;o (PrEP), orienta&ccedil;&otilde;es do Programa Alerta Salvador para Mulheres Trans/Travesti, orienta&ccedil;&atilde;o com distribui&ccedil;&atilde;o de absorventes para Homens Trans e pessoas que menstruam, auriculoterapia, al&eacute;m do Lan&ccedil;amento do material educativo produzido pelo Grupo de Apoio &agrave; Preven&ccedil;&atilde;o &agrave; Aids (Gapa-BA) e Associa&ccedil;&atilde;o Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), &ldquo;Trans Preven&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

A vice-prefeita e secret&aacute;ria de Sa&uacute;de de Salvador, Ana Paula Matos, ressaltou que a a&ccedil;&atilde;o fortalece a inclus&atilde;o desse p&uacute;blico no cuidado com a sa&uacute;de integral. &ldquo;A sa&uacute;de &eacute; um direito de todas as pessoas, e oportunizar esse acesso &eacute; garantir condi&ccedil;&otilde;es de vida e bem-estar. A popula&ccedil;&atilde;o trans, historicamente, enfrenta situa&ccedil;&otilde;es de viol&ecirc;ncia, estigma e preconceito. Infelizmente, esses fatores s&atilde;o impeditivos, para que, muitas vezes, essas pessoas procurem as unidades de sa&uacute;de. Vamos trabalhar pol&iacute;ticas p&uacute;blicas de acolhimento, para que haja o atendimento adequado, com respeito e dignidade, conhecendo as demandas de atendimento espec&iacute;fico a partir das diversas identidades de g&ecirc;nero&rdquo;, declara.

O t&eacute;cnico do Campo Tem&aacute;tico Sa&uacute;de da Popula&ccedil;&atilde;o LGBT da SMS, Erik Abade, destaca que a a&ccedil;&atilde;o &eacute; uma oportunidade de promover o cuidado com a sa&uacute;de das pessoas trans, encaminhamentos e orienta&ccedil;&otilde;es acerca dos servi&ccedil;os disponibilizados pelo munic&iacute;pio voltados a esse p&uacute;blico. &ldquo;Queremos acolher o m&aacute;ximo de pessoas trans que necessitam desses cuidados e servi&ccedil;os, al&eacute;m de estreitarmos os la&ccedil;os, e compreendermos juntos a elas e eles, as necessidades insurgentes que apresentam&rdquo;. As informac&otilde;es s&atilde;o da Secretaria de Comunicac&atilde;o da Prefeitura de Salvador.&nbsp;

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Ter acolhimento e respeito. Esses s&atilde;o os principais desafios enfrentados por Travestis e Transexuais na busca pelos seus direitos. Como forma de acender o debate para as pol&iacute;ticas p&uacute;blicas direcionadas para esta parte da popula&ccedil;&atilde;o, o Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado no s&aacute;bado (29/1), foi escolhido por para promover a reflex&atilde;o e conscientizar para a cidadania e a inclus&atilde;o social.

Para refor&ccedil;ar a import&acirc;ncia do acolhimento e garantir os direitos das pessoas transexuais e travestis, o Governo do Estado, atrav&eacute;s da Secretaria de Justi&ccedil;a, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), mant&eacute;m o Centro de Promo&ccedil;&atilde;o e Defesa dos Direitos LGBT da Bahia (CPDD-LGBT).

Desde 2017, o local realiza diversas a&ccedil;&otilde;es educativas e culturais para o p&uacute;blico LGBTQIA+, com atendimento social, psicol&oacute;gico, pedag&oacute;gico, jur&iacute;dico e de sa&uacute;de, al&eacute;m de oferta de preservativos, testagem r&aacute;pida para o HIV e gratuidade na emiss&atilde;o de documentos.

Apenas no ano de 2021, o CPDD realizou 4.205 atendimentos e assistiu 847 pessoas. Destes atendimentos, 60% foram destinados para travestis, transexuais e 27,9 % a cisg&ecirc;neros (pessoas que se identificam com o sexo biol&oacute;gico).

&quot;Nossa secretaria tem buscado de forma efetiva reconhecer o direito de pessoas transg&ecirc;nero. Nosso papel &eacute; promover o acolhimento e fortalecer a rede de prote&ccedil;&atilde;o e promo&ccedil;&atilde;o de cidadania para a comunidade LGBTQIA+. Ainda temos um longo caminho para percorrer no sentido de garantir que as pol&iacute;ticas p&uacute;blicas cheguem para todos, todas e todes&quot;, &nbsp;afirma o secret&aacute;rio da SJDHDS, Carlos Martins.

Al&eacute;m da promo&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&otilde;es sociais para transexuais e travestis, outra grande conquista para a comunidade &eacute; garantido pelo Decreto Estadual n&ordm; 17.523, assinado pelo governador Rui Costa, que reconhece a identidade de g&ecirc;nero de pessoas travestis e transexuais na administra&ccedil;&atilde;o estadual, com uso do nome social. No local, o cidad&atilde;o pode solicitar a troca dos documentos para adequa&ccedil;&atilde;o de g&ecirc;nero e do nome social.

Visando ampliar ainda mais o atendimento desse p&uacute;blico, a SJDHDS tamb&eacute;m tem parcerias com outros &oacute;rg&atilde;os p&uacute;blicos como a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), que atrav&eacute;s do SineBahia, busca empresas privadas e movimentos sociais para promover a capacita&ccedil;&atilde;o profissional e estimular a contrata&ccedil;&atilde;o de pessoas trans e travestis.

Para Kaio Macedo, coordenador LGBT da SJDHDS, &quot;temos muito a fazer para garantir uma sociedade mais justa e segura para a popula&ccedil;&atilde;o de travestis e transexuais. N&atilde;o existe avan&ccedil;o de uma comunidade se a gente n&atilde;o reconhecer nossos privil&eacute;gios cisg&ecirc;neros. &Eacute; hora de priorizar a vida das pessoas trans. S&atilde;o essas pessoas que est&atilde;o sendo mais assassinadas e s&atilde;o diariamente violentadas pela falta de oportunidades&quot;, afirmou

O atendimento do CPDD-LGBT &eacute; realizado de segunda a sexta-feira, das 8h &agrave;s 17h, por ordem de chegada e por grau de emerg&ecirc;ncia, localizado na Rua do Tijolo, n&ordm; 08, no Pelourinho, em Salvador.

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