<h3 style="text-align: justify;">Sons, palavras, s&atilde;o navalhas!</h3>

O trecho po&eacute;tico escrito h&aacute; quase 50 anos consegue traduzir a acidez contundente e rebuscada&nbsp;que o compositor cearense Ant&ocirc;nio Carlos Belchior costumava utilizar em suas can&ccedil;&otilde;es de forte cunho social, pol&iacute;tico e filos&oacute;fico.

Neste s&aacute;bado (30/4), ser&atilde;o completados cinco anos da morte do artista, considerado por alguns cr&iacute;ticos como o &ldquo;Bob Dylan brasileiro&rdquo;. O rapaz latino-americano da cidade de Sobral deixou um legado brilhante e saiu de cena quando estava em um &ldquo;retiro volunt&aacute;rio&rdquo;, aos 70 anos.

A obra de Belchior pulsa pela inquieta&ccedil;&atilde;o de problemas coletivos e, por isso, n&atilde;o se cala e permanece viva, at&eacute; hoje. Desinteressado por qualquer tipo de teoria, o cantor &ldquo;alucinado&rdquo; s&oacute; queria, mesmo, amar e mudar as coisas.

Em 1976, o cearense conseguiu emplacar um de seus maiores sucessos. A composi&ccedil;&atilde;o &ldquo;Como Nossos Pais&rdquo; entrou no &aacute;lbum &ldquo;Falso Brilhante&rdquo; de Elis Regina. &Agrave;quela altura, a cantora ga&uacute;cha havia contribu&iacute;do para difundir outros hits como &ldquo;Mucuripe&rdquo; e &ldquo;Velha Roupa Colorida&rdquo;.

Roberto Carlos, Vanusa, Z&eacute; e Elba Ramalho est&atilde;o entre os ilustres que cantaram Belchior. &Uacute;ltima a regravar uma de suas m&uacute;sicas, enquanto o poeta &ldquo;vivia&rdquo;, a mineira Ana Carolina, em 2015, deu nova roupagem, bem ao seu estilo, para a bela &ldquo;Cora&ccedil;&atilde;o Selvagem&rdquo;.

A mais aut&ecirc;ntica interpreta&ccedil;&atilde;o, por&eacute;m, estaria a caminho. Infelizmente, por for&ccedil;a do destino, o compositor partiu sem conhecer o trabalho da artista que mais poderia te dar orgulho: Vannick Belchior, sua filha mais nova.

BELCHIOR, A FILHA&nbsp; 
A jovem talentosa, de 25 anos, h&aacute; oito meses reeditou a obra do pai e construiu um projeto que j&aacute; tem o aval e aprova&ccedil;&atilde;o de f&atilde;s e admiradores do poeta. &ldquo;Das Coisas que Aprendi nos Discos&rdquo; d&aacute; nome ao show que est&aacute; iniciando a carreira promissora de Vannick.

Nascida em Fortaleza, ela &eacute; a &uacute;nica nordestina entre os quatro filho do cantor. Seus irm&atilde;os, por parte de pai, s&atilde;o todos paulistas. A ca&ccedil;ula &eacute;, tamb&eacute;m, a &uacute;nica que despertou o interesse pela carreira musical. No pr&oacute;ximo dia 22 de maio, inclusive, lan&ccedil;a o seu primeiro EP, na capital cearense.

Inicialmente, Vannick revisita a obra do pai, mas n&atilde;o esconde a inten&ccedil;&atilde;o de, logo, estar mostrando um trabalho autoral. Ela &eacute; dirigida e apadrinhada musicalmente pelo maestro, arranjador e multi-instrumentista Tarc&iacute;sio Sardinha, um amigo e parceiro de Belchior.

Em um bate papo descontra&iacute;do com a nossa reportagem, Vannick falou da sua identifica&ccedil;&atilde;o com o pai e contou que durante a vida toda soube que a m&uacute;sica iria bater &agrave; sua porta, mas o momento s&oacute; chegou quando conheceu Sardinha.

&ldquo;Ele foi a figura do meu pai que me puxou, que me fez entender que o meu caminho era esse!&rdquo;, disse. Se n&atilde;o tivesse sido o maestro, segundo a cantora, somente Belchior poderia ter assumido esse papel. &ldquo;Como ele n&atilde;o estava mais aqui, enviou a pessoa que iria me trazer essa sensibilidade&rdquo;.

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COMO NOSSOS PAIS 
Vannick &eacute; muito parecida com o pai! Al&eacute;m disso, tem uma entona&ccedil;&atilde;o vocal que lembra bastante o Belchior. As coincid&ecirc;ncias, no entanto, n&atilde;o ficam apenas a&iacute;. A cantora revelou que compreende e se identifica com a sua obra. &ldquo;A maior semelhan&ccedil;a que existe entre eu e meu pai s&atilde;o as nossas verdades&rdquo;, destacou.

Ela comentou ainda que &eacute; apaixonada pelos cl&aacute;ssicos da M&uacute;sica Popular Brasileira e pela for&ccedil;a que a MPB tem para realizar movimentos e transforma&ccedil;&otilde;es sociais. Vannick considera importante lidar com essas quest&otilde;es, porque acha que dessa forma alimenta a sensibilidade da sociedade.

&ldquo;Tanto &eacute; que as m&uacute;sicas do meu pai, hoje, elas s&atilde;o muito atuais e isso, pra mim, n&atilde;o se trata, apenas, porque ele era um revolucion&aacute;rio, um vision&aacute;rio, mas porque os problemas ainda s&atilde;o os mesmos&rdquo;, pontuou.

Apesar de tamanha semelhan&ccedil;a, a sua rela&ccedil;&atilde;o com Belchior aconteceu at&eacute; os 10 anos. Vannick lembrou que, quando era crian&ccedil;a, o pai sempre telefonava pra ela.

&ldquo;Ele era muito amigo da minha m&atilde;e, sempre se deram muito bem e viveram onze anos de hist&oacute;ria. Sempre que vinha pra Fortaleza eu acompanhava ele. Tenho, inclusive, mem&oacute;rias dele muito emocionado, porque eu j&aacute; cantava&rdquo;.

Contudo, ela revelou que a rela&ccedil;&atilde;o entre eles passa por algumas supera&ccedil;&otilde;es e uma delas envolve o Ant&ocirc;nio Carlos Belchior pai, e n&atilde;o o artista.&nbsp;&ldquo;O artista pra mim sempre esteve em posi&ccedil;&atilde;o secund&aacute;ria.&nbsp;Hoje, o Belchior artista, pra mim, est&aacute; em uma posi&ccedil;&atilde;o prim&aacute;ria, porque j&aacute; superei muitas coisas em rela&ccedil;&atilde;o ao pai&rdquo;.

Respons&aacute;vel por tamanha supera&ccedil;&atilde;o, ela coloca a figura do Tarc&iacute;sio Sardinha e considera essa nova fase da vida como uma repara&ccedil;&atilde;o de tudo aquilo que n&atilde;o viveu com o pai. Para a jovem, o padrinho chegou pra &ldquo;virar uma chave&rdquo; em rela&ccedil;&atilde;o ao problema.&nbsp;

&rdquo;Eu pude sair da caixinha e mostrar a estrela que eu carrego no meu cora&ccedil;&atilde;o: o brilho do meu pai, que ele, de alguma forma, transcorreu para mim&rdquo;, revelou.

ASSISTA A ENTREVISTA

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Como (meu) pai: cinco anos após morte de Belchior, filha é entrevistada, relembra histórias e segue o mesmo caminho musical; assista