A declara&ccedil;&atilde;o ficou famosa, transmitida em rede nacional pelo BBB e depois multiplicada em cortes nas redes sociais. O baiano Davi Brito, ex-motorista por aplicativo, falando o quanto ficava empolgado em ver as corridas do paulistano Ayrton Senna, aos domingos. O detalhe: Davi nasceu em 2002; Senna morreu, imprensado entre o desejo incontrol&aacute;vel de vencer e a curva Tamburello, em 1994.

De alguma maneira, pode ser que Davi n&atilde;o esteja equivocado. A figura do piloto, a bandeira brasileira no cockpit, a trilha sonora meio &eacute;pica, meio brega, do Tema da Vit&oacute;ria, a narra&ccedil;&atilde;o inflamada de Galv&atilde;o Bueno, a champanhe no p&oacute;dio, tudo isso ficou de tal forma no imagin&aacute;rio, que &eacute; poss&iacute;vel o consciente - ou inconsciente dele - ter registrado como ao vivo as cenas de um flashback ininterrupto.

&ldquo;Assistia ele todo s&aacute;bado de manh&atilde;, quando tinha corrida, no canal 11&rdquo;, conversava o baiano, enquanto era vigiado por milh&otilde;es. 

No trig&eacute;simo ano de morte, a efem&eacute;ride motivou homenagens de v&aacute;rios formatos. A mais comentada, evidentemente, foi uma s&eacute;rie da Netflix (confesso que quando vi uma placa na rua n&atilde;o entendi se era uma cinebiografia, ou um an&uacute;ncio do Guaran&aacute; Antarctica). E, antes de assistir, tamb&eacute;m tive o meu lampejo de Davi Brito - s&oacute; que em sil&ecirc;ncio e sem c&acirc;meras por perto.

A mem&oacute;ria mais certeira que eu mantinha do p&oacute;s-morte dele era do cantor Lob&atilde;o o chamando de &ldquo;pe&atilde;o de multinacional&rdquo;. Eu estava seguro daquela cena: programa do J&ocirc;, o apresentador tenta extrair algum elogio sobre o piloto que tinha falecido semanas antes, Lob&atilde;o se ajeita na poltrona espa&ccedil;osa, e dispara an&aacute;lises, em volume alto e ritmo acelerado, sobre capitalismo, proletariado, propaganda e programa&ccedil;&atilde;o das massas, at&eacute; chegar naquele inc&ocirc;modo &ldquo;pe&atilde;o de multinacional&rdquo;. Inc&ocirc;modo, porque dava para perceber o desconforto do apresentador, em ouvir aquilo e ter que rebater sem querer ser deselegante com o convidado.

Pesquisando, hoje, descobri que a frase tinha sido dita numa entrevista a J&ocirc; Soares, mas n&atilde;o de Lob&atilde;o: tinha sido na primeira de oito participa&ccedil;&otilde;es de outro m&uacute;sico, o n&atilde;o menos escatol&oacute;gico Rog&eacute;rio Skylab. E, recentemente, o verborr&aacute;gico compositor admitiu que nem era dele. Tinha ouvido de um intelectual carioca chamado Carlos Henrique Escobar. E eu com minhas certezas de um epis&oacute;dio bem diferente&hellip;

A express&atilde;o foi repetida, na Folha de S&atilde;o Paulo, edi&ccedil;&atilde;o de 17 de maio de 1994, num artigo do cineasta Arnaldo Jabor. No texto, Jabor se assume arrogante por inicialmente n&atilde;o querer escrever sobre o assunto: &ldquo;porque vou acabar criticando a dor besta deste povo chorando um mero `pe&atilde;o de multinacional&rdquo;.&#39;

<h2 class="western" style="text-align: left; margin-top: 21px; margin-bottom: 5px;">A constru&ccedil;&atilde;o do her&oacute;i e suas contradi&ccedil;&otilde;es</h2>

O comentarista Fl&aacute;vio Gomes considera que o piloto foi transformado em santo no pa&iacute;s, pela forma como morreu, no auge, e pela cobertura que tinha na m&iacute;dia. &ldquo;N&atilde;o &eacute; um her&oacute;i, era algu&eacute;m que ganhava dinheiro para ganhar a prova&rdquo;. Por muitos anos setorista de automobilismo da Folha, Gomes conviveu com pilotos o tempo suficiente para criticar o fato de que Senna queria passar a impress&atilde;o de ter &ldquo;o monop&oacute;lio da virtude&rdquo; (<a href="https://youtu.be/Dx7mt8y1X54?si=abbL1MK86sxrHmEH" style="color:#000080; text-decoration:underline">https://youtu.be/Dx7mt8y1X54?si=abbL1MK86sxrHmEH</a> )

Naquele 1&deg; de Maio de 1994, no nefasto aut&oacute;dromo de &Iacute;mola, Grande Pr&ecirc;mio de San Marino, na It&aacute;lia, quase todo brasileiro que era vivo sabe dizer o que estava fazendo. Como&ccedil;&atilde;o nacional, tr&ecirc;s dias de luto oficial, quase 24h de vel&oacute;rio, p&uacute;blico estimado em 2 milh&otilde;es de pessoas.

Tamb&eacute;m pudera. Ali estava o maior nome daquele esporte em todos os tempos. Mas era isso mesmo?

As estat&iacute;sticas mostram que n&atilde;o. Em n&uacute;mero de vit&oacute;rias, &eacute; apenas o sexto, com 41 na carreira. Ficou atr&aacute;s do franc&ecirc;s e arqui-rival Alain Prost, com 51, e 4 t&iacute;tulos; do alem&atilde;o Sebastian Vettel, com 53, e 4 t&iacute;tulos; do holand&ecirc;s Max Verstappen, com 61, e 3 t&iacute;tulos; do alem&atilde;o Michael Schumacher, com 91, e 7 t&iacute;tulos; e do ingl&ecirc;s Lewis Hamilton, com 105, e 7 t&iacute;tulos, 104 pole positions, 205 p&oacute;dios.

Senna n&atilde;o tem curr&iacute;culo para o que americanos chamam de GOAT (Greatest of All Time). Os especialistas reagem com contorcionismos para informar que &ldquo;ningu&eacute;m era melhor na chuva do que Senna&rdquo;; &ldquo;O improviso e a criatividade dele se impunham aos c&aacute;lculos avan&ccedil;ados dos engenheiros.&rdquo;

<h2 class="western" style="text-align: left; margin-top: 21px; margin-bottom: 5px;">Um Brasil que dava gosto</h2>

Afinal, qual o motivo de Ayrton, mesmo sendo superado em todos os indicadores por pilotos modernos ou contempor&acirc;neos a ele, ainda continuar com aura de Mito? Talvez porque a imagem dele remeta a um Brasil protagonista mundialmente, da primeira metade dos anos 90. Aquele que impunha respeito nas pistas molhadas da Europa, ou nos gramados, secos ou encharcados, de qualquer lugar do planeta.

O Brasil estava nas vitrines do mundo, com chinelos Rider - ou com Guaran&aacute; Ant&aacute;rtica. Senna representa um per&iacute;odo de vit&oacute;rias, uma na&ccedil;&atilde;o grandiosa, qualificada e her&oacute;ica. Aquele capacete, aquele punho erguido, aquela bandeira eram nossa reden&ccedil;&atilde;o.

As pessoas que sentem saudade de Senna n&atilde;o sentem falta de um piloto de F&oacute;rmula 1 (quem &eacute; que voc&ecirc; conhece que diz que o sonho da vida &eacute; que o filho seja piloto de F1?). Elas sentem falta &eacute; do que representava aquele macac&atilde;o vermelho em termos de impor respeito ao mundo, ou de como a champanhe estourando e melando europeus era nossa forma de dizer, &ldquo;nos vingamos&rdquo;, ou de como aquela musiquinha no final da manh&atilde; era meio que uma senha para &ldquo;oh, como &eacute; bom ser desse pa&iacute;s, nesse momento hist&oacute;rico e&hellip; vamos abrir uma cerveja para comemorar&rdquo;.

Era o Brasil que dava certo aos domingos. Era poss&iacute;vel ser brasileiro e conseguir aten&ccedil;&atilde;o e respeito mundiais. Qual o paralelo entre a morte de Senna e a Mar&iacute;lia Mendon&ccedil;a? Em que ponto do infinito e do inconsciente coletivo, esses dois funerais se encontram com a alma brasileira?

Essa s&eacute;rie de Netflix me fez reorganizar algumas coisas sobre o que era o homem e como formaram o &iacute;dolo. As coisas que eu sabia sobre Senna, at&eacute; ent&atilde;o: ele era o maior campe&atilde;o da F&oacute;rmula 1; gostava de usar cal&ccedil;as jeans e t&ecirc;nis branco. Tinha namorado com Xuxa.

Antes dessa s&eacute;rie, n&atilde;o tinha a impress&atilde;o dele ser um homem impulsivo. Disso, eu n&atilde;o lembrava.

Coisas que a s&eacute;rie quis me ensinar: ele enfrentou resist&ecirc;ncia dos pais (mas que financiaram todo o come&ccedil;o), a amizade com Galv&atilde;o Bueno era espont&acirc;nea e desinteressada, o brasileiro era eroticamente irresist&iacute;vel e dormiu com uma celebridade cobi&ccedil;ada por pr&iacute;ncipes, logo na primeira vez que disputou M&ocirc;naco.

O que aprendi apesar da s&eacute;rie: O instituto que leva seu nome n&atilde;o foi exatamente uma ideia dele. Foi criado mais de seis meses depois da morte, e quando se fala que j&aacute; impactou a educa&ccedil;&atilde;o de 36 milh&otilde;es de crian&ccedil;as e adolescentes &eacute; porque os m&eacute;todos de ensino disponibilizados para as prefeituras foram utilizados em 3 mil cidades, alcan&ccedil;ando, potencialmente, esse p&uacute;blico total.

Apesar da s&eacute;rie, aprendi tamb&eacute;m que a fam&iacute;lia, notadamente a irm&atilde; Viviane, odiava Adriane Galisteu, a ponto de fazer um dossi&ecirc; contra ela para entregar ao irm&atilde;o, ou vetar a participa&ccedil;&atilde;o dela como vi&uacute;va no vel&oacute;rio, at&eacute; mesmo querer ocultar a import&acirc;ncia nos epis&oacute;dios.

<a href="https://youtu.be/bYZcxVsAglY?si=iD41InTwVbhT-N4u" style="color:#000080; text-decoration:underline">https://youtu.be/bYZcxVsAglY?si=iD41InTwVbhT-N4u</a>

Como seria o nome para a tentativa de apagar um evento importante da vida de quem n&atilde;o tem mais como se defender dessa supress&atilde;o? Como seria chamado esse ato de deliberadamente reescrever a biografia de um morto ? Viol&ecirc;ncia, talvez?

<h2 class="western" style="text-align: left; margin-top: 21px; margin-bottom: 5px;">E se o &iacute;dolo estivesse vivo?</h2>

Outra coisa: a imagem que se tornou ic&ocirc;nica da bandeira do Brasil levada no cockpit, originalmente, n&atilde;o foi um plano de ufanismo. Os relatos s&atilde;o de que ele estava devolvendo uma goza&ccedil;&atilde;o sofrida por parte dos engenheiros franceses da Renault, que faziam os motores da equipe L&oacute;tus. Era 1986, o Brasil tinha sido eliminado da Copa do M&eacute;xico pela Fran&ccedil;a, numa dram&aacute;tica disputa de p&ecirc;naltis. O revide foi na volta da vit&oacute;ria, com a bandeira.

No trig&eacute;simo anivers&aacute;rio de morte, teve gente criando com intelig&ecirc;ncia artificial um abra&ccedil;o dele com Schumacher e teve gente simulando como seria o rosto dele aos 64 anos. Mas o que eu queria acompanhar mesmo, se Senna ainda estivesse vivo, n&atilde;o era quais recordes quebrou nas pistas, e nem mesmo como ele escolheria se aposentar, ou os rumos da funda&ccedil;&atilde;o com o nome dele, ou qual loira teria se tornado m&atilde;e para os filhos dele. O que eu queria saber, se Senna estivesse vivo, era se ele seria Lula ou Bolsonaro. Sua figura, t&atilde;o unificadora dos anos 90, resistiria ao nosso tempo de polariza&ccedil;&otilde;es? E voc&ecirc;, o que acha?

*Pablo Reis &eacute; jornalista, apresentador da TV Aratu e da Antena 1

O holandês Max Verstappen, da RBR, garantiu o tricampeonato do Mundial de Fórmula 1 neste sábado (7/10) após chegar em segundo lugar na prova sprint, do circuito de Lusail, no Catar. O piloto de 26 anos venceu a competição pela terceira vez seguida (2021,2022 e 2023) e alcança o mesmo número de títulos de Ayrton Senna.

Bastava apenas chegar em sexto lugar que o título seria novamente de Max, uma vez que a vantagem do piloto diante de seu rival direto e companheiro de equipe, Sergio Pérez, era de 177 pontos (faltando 180 a serem disputados no ano). Antes mesmo da bandeirada final, o holandês sabia que bastava completar a prova que o título seria seu, já que faltando oito voltas para o final da corrida, Pérez se envolveu em uma batida e deixou a disputa.

Com a conquista consecutiva, Max se iguala a Juan Manoel Fangio, Michael Schumacher, Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, que também já conquistaram o troféu seguidamente.

Vale pontuar que a corrida sprint é uma etapa ‘bônus’ da F1. São provas menores que valem até 8 pontos extra aos pilotos. A corrida terminou com Oscar Piastri na primeira colocação, Verstappen em segundo e Lando Norris em terceiro. Agora, os pilotos retornam à pista neste domingo (8) para a corrida oficial, o Grande Prêmio do Catar.

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O cantor Lincoln se apresenta &agrave;s 19h desta quinta-feira (15/12),&nbsp;na Pra&ccedil;a Quincas Berro D&rsquo;&aacute;gua, no Pelourinho, centro hist&oacute;rico de Salvador. O evento&nbsp;&eacute; aberto ao p&uacute;blico.

No repert&oacute;rio, hits&nbsp;como &ldquo;La Raba&rdquo;, &ldquo;Trenzinho da Sacanagem&rdquo;, &ldquo;Hoje vai dar Praia&rdquo; e &ldquo;Pared&atilde;o das Amigas&rdquo; e &ldquo;Locomotiva&rdquo;, aposta do cantor para o ver&atilde;o. &quot;Espero minha pipoca pra fazer aquela pr&eacute;via do Carnaval no Pel&ocirc;! Vai ser massa!&quot;, convida Lincoln.

SERVI&Ccedil;O

Show de Lincoln 
Quando:&nbsp;esta quinta-feira (15/12), &agrave;s 19h 
Onde:&nbsp;Pra&ccedil;a Quincas Berro D&rsquo;&aacute;gua, no Pelourinho, centro hist&oacute;rico de Salvador 
Quanto:&nbsp;gratuito (aberto ao p&uacute;blico)

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