As pessoas que trabalham ou transitam constantemente&nbsp;no Aeroporto Internacional de Salvador passaram a testemunhar, nos &uacute;ltimos cinco meses,&nbsp;a situa&ccedil;&atilde;o dram&aacute;tica de uma professora da rede p&uacute;blica da Bahia.

A brasiliense de 55 anos, Oceya de Souza, &eacute; graduada em letras pela Universidade Cat&oacute;lica do Salvador (Ucsal), mas se tornou uma moradora do terminal aerovi&aacute;rio, ap&oacute;s lecionar por alguns anos em escolas da capital baiana.

A presen&ccedil;a di&aacute;ria da professora, em condi&ccedil;&otilde;es desconfort&aacute;veis no local, passou a chamar a aten&ccedil;&atilde;o das pessoas. Na quinta-feira (29/4), em contato com o Aratu On, Reginald Cohim, taxista do aeroporto, que vinha se comunicando com ela, contou que a mulher vive se abrigando nas cadeiras do sagu&atilde;o.

&ldquo;&Eacute; uma situa&ccedil;&atilde;o melanc&oacute;lica para uma mulher concursada. Agora, com o fechamento de uma parte do aeroporto, ela passou a dormir dentro do banheiro de deficientes&rdquo;, lamentou. Cohim disse, ainda, que, &agrave;s vezes, ela sai do aeroporto por algumas horas. &ldquo;Parece que ela toma banho na esta&ccedil;&atilde;o rodovi&aacute;ria e retorna, usando o metr&ocirc;&rdquo;, disse.

A mudan&ccedil;a na vida de Oceya teria ocorrido depois que ela come&ccedil;ou a enfrentar uma fibromialgia, doen&ccedil;a que, por muitas vezes, teria deixado a professora sem condi&ccedil;&otilde;es de trabalhar por conta das&nbsp;fortes dores no corpo. De acordo com o taxista, a professora teria informado que o problema gerou alguns processos na justi&ccedil;a, desde que ela come&ccedil;ou a se ausentar de suas atividades.

&ldquo;Ela disse que est&aacute;, h&aacute; alguns anos, sem receber sal&aacute;rios e j&aacute; n&atilde;o tinha mais como pagar aluguel. Eu comecei a pedir a colabora&ccedil;&atilde;o dos&nbsp;colegas pra poder ajudar. A gente passou a dar alimenta&ccedil;&atilde;o e um deles&nbsp;conseguiu, inclusive, roupa da esposa e um cobertor&rdquo;, comentou Cohim.

Segundo ele, entre as institui&ccedil;&otilde;es de ensino, nas quais Oceya lecionou est&atilde;o os col&eacute;gios estaduais Raphael Serravalle, no bairro da Pituba, e o Thales de Azevedo, no Costa Azul. Nossa reportagem tentou entrar em contato, na manh&atilde; desta sexta-feira (30/4), com a servidora p&uacute;blica, mas ela n&atilde;o estava no aeroporto.

POSI&Ccedil;&Otilde;ES&nbsp;

O coordenador-geral do Sindicato dos Professores da Bahia,&nbsp;Rui&nbsp;Oliveira, informou ao Aratu On&nbsp;que tomou conhecimento do caso, j&aacute; entrou em contato com ela&nbsp;e vai dar assist&ecirc;ncia social e jur&iacute;dica para a professora. Ele disse&nbsp;que todos os dados referentes &agrave; situa&ccedil;&atilde;o funcional dela est&atilde;o sendo revistos e ser&atilde;o discutidos com a Secretaria de Educa&ccedil;&atilde;o Estadual (SEC).

Em nota, a SEC confirmou que Oceya de Souza &eacute; servidora do Estado, admitida em 11/05/2000, tendo atuado nos col&eacute;gios estaduais David Mendes Pereira e Thales de Azevedo, onde permaneceu em atividade at&eacute; 31/03/2009.

CONFIRA NA &Iacute;NTEGRA:

Depois de sucessivas licen&ccedil;as m&eacute;dicas e afastamentos por licen&ccedil;a-pr&ecirc;mio, a servidora se ausentou de suas fun&ccedil;&otilde;es, ficando quatro meses fora da folha (de outubro/2009 a fevereiro/2010), em virtude da n&atilde;o reassun&ccedil;&atilde;o ap&oacute;s licen&ccedil;a-pr&ecirc;mio. Esses pagamentos foram reestabelecidos em mar&ccedil;o de 2010, por for&ccedil;a de antecipa&ccedil;&atilde;o de tutela por processo judicial (sob o n&ordm; 0001448-44.2010.8.05.0001), instaurado pela servidora contra o Estado.

Mesmo recebendo benef&iacute;cios salariais, a professora continuou ausente de suas fun&ccedil;&otilde;es. Em 13/12/2013, Oceya de Souza formalizou solicita&ccedil;&atilde;o &agrave; SEC de exonera&ccedil;&atilde;o a pedido para cargo permanente, o que n&atilde;o foi concedido pela Secretaria por haver apura&ccedil;&atilde;o de suposto abandono de cargo.

Em 2018, os sal&aacute;rios foram suspensos porque a servidora n&atilde;o realizou o recadastramento obrigat&oacute;rio.

Em 2021, o processo judicial impetrado, em 2010, pela servidora Oceya de Souza contra o Estado foi julgado como demanda improcedente e o juiz determinou a extin&ccedil;&atilde;o do mesmo com resolu&ccedil;&atilde;o do m&eacute;rito, em 11 de mar&ccedil;o.

A SEC informa, ainda, a exist&ecirc;ncia de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), n&ordm; 011.9462.2019.0038824-42, que se encontra na Junta M&eacute;dica do Estado para execu&ccedil;&atilde;o de per&iacute;cia m&eacute;dica. Em duas ocasi&otilde;es, foram feitos dois agendamentos na junta m&eacute;dica para a execu&ccedil;&atilde;o da per&iacute;cia com a servidora, mas a mesma n&atilde;o compareceu.

VIDA IMITA A ARTE

A hist&oacute;ria da professora se confunde com a de&nbsp;Viktor Navorski (Tom Hanks), no filme &quot;O Terminal&quot;.

Na trama, segundo a sinopse, o rapaz &eacute; um cidad&atilde;o da Europa Oriental que viaja rumo a Nova York justamente quando seu pa&iacute;s sofre um golpe de estado, o que faz com que seu passaporte seja invalidado.&nbsp;Ao chegar ao aeroporto, Viktor n&atilde;o consegue autoriza&ccedil;&atilde;o para entrar nos Estados Unidos.&nbsp;

Sem poder retornar &agrave; sua terra natal, j&aacute; que as fronteiras foram fechadas ap&oacute;s o golpe, Viktor passa a improvisar seus dias e noites no pr&oacute;prio aeroporto, &agrave; espera que a situa&ccedil;&atilde;o se resolva. Por&eacute;m, com a situa&ccedil;&atilde;o se arrastando por meses, permanece no aeroporto e passa a descobrir o complexo mundo do terminal onde est&aacute; preso.

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A história da professora da rede pública que vive no Aeroporto de Salvador e se confunde com filme de Tom Hanks