Entre quatro paredes, muita coisa pode acontecer. T&ecirc;m&nbsp;casais que curtem o &quot;b&aacute;sico&quot;;&nbsp;os&nbsp;que gostam de &quot;apimentar&quot; a rela&ccedil;&atilde;o e at&eacute; aqueles que n&atilde;o s&atilde;o um casal - e sim um trisal -. O assunto volta e meia circula nas&nbsp;redes sociais, com diversos termos novos para designar pr&aacute;ticas que prometem acesso mais f&aacute;cil ao orgasmo.&nbsp;

&quot;Desde que o sexo existe, fetiches fazem parte do cen&aacute;rio, mas a internet deu maior acesso pra eles&quot;, explica a psic&oacute;loga e sex&oacute;loga Fernanda Santiago. Em entrevista ao&nbsp;Aratu On, a especialista&nbsp;desmitificou algumas regras que podem ajudar a tornar o sexo ainda mais prazeroso.

&quot;Algumas pessoas dizem que come&ccedil;aram a experimentar o fetiche porque&nbsp;ouviram falar, n&atilde;o necessariamente considerando aquilo como seu fetiche. Ent&atilde;o, a gente come&ccedil;a a questionar essa coisa da dissemina&ccedil;&atilde;o da informa&ccedil;&atilde;o acerca da sexualidade, do quanto as pessoas acabam suscet&iacute;veis a essa l&oacute;gica do &#39;t&aacute;&nbsp;todo mundo fazendo&#39;&quot;, alerta.&nbsp;

Para a psic&oacute;loga, o primeiro passo &eacute; a pr&oacute;pria vontade. &quot;As pessoas&nbsp;acabam desconsiderando que a sua sexualidade, o seu desejo, as suas viv&ecirc;ncias, as suas experi&ecirc;ncias e at&eacute; mesmo a sua viv&ecirc;ncia com rela&ccedil;&atilde;o ao prazer e ao orgasmo vai se diferenciar. Isso precisa ser constru&iacute;do com seu universo pessoal e relacional&quot;, aconselha.

PRECONCEITO

A fantasia cuckold (o tra&iacute;do), por exemplo, foi buscada no Google pelos soteropolitanos 11 mil vezes no ano de 2020, sendo a segunda pr&aacute;tica sexual mais procurada, atr&aacute;s apenas do BDSM, que &eacute; traduzido como&nbsp;bondage (escravid&atilde;o) e disciplina, domina&ccedil;&atilde;o e submiss&atilde;o, sadismos e masoquismo.&nbsp;

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A pr&aacute;tica n&atilde;o costuma ser muita aceita socialmente, dificultando que as pessoas que sentem prazer com isso se sintam confort&aacute;veis sobre o assunto. &quot;Muitas pessoas se sentem atra&iacute;das, sentem desejo por vivenciar aquilo que dentro da vida real elas n&atilde;o v&atilde;o conseguir ter em pr&aacute;tica, como &#39;se sentir corno&#39;, ter essa fantasia de pensar, imaginar ou viver uma situa&ccedil;&atilde;o sexual em que ele possa usufruir dessa posi&ccedil;&atilde;o de ser o &#39;corno&#39;&quot;, exemplifica Fernanda.

Os praticantes do cuckold, assim como adeptos de outras pr&aacute;ticas consideradas &#39;estranhas&#39; por fugirem do senso comum, costumam sofrer&nbsp;preconceito.

Para a sex&oacute;loga, entretanto, essa &eacute; a ideia dos fetiches, de modo geral: experimentar coisas diferentes. &quot;Os praticantes adotam esse universo da sexualidade, que &eacute; um universo de maior liberdade, e que se pode viver aquilo que moralmente venha a ser proibido ou at&eacute; mesmo venha a infringir o contrato da rela&ccedil;&atilde;o&quot;, ensina.

REDE SOCIAL&nbsp;

E para o praticante do&nbsp;cuckold tem at&eacute; rede social para marcar encontros reais em todo o Brasil. A mais conhecida delas tem pouco mais de 17 milh&otilde;es de usu&aacute;rios - entre homens, mulheres e casais -. &quot;&Eacute; o lugar ideal para quem quer conhecer pessoas de cabe&ccedil;a aberta, dispostas a dar e receber prazer. Sem julgamento!&quot;, diz o resumo da p&aacute;gina.&nbsp;

No aplicativo, os usu&aacute;rios postam fotografias sensuais - geralmente sem roupas -. Pela localiza&ccedil;&atilde;o e interesses em comum, todos podem conversar e, em seguida, trocar n&uacute;mero de celular ou outras redes sociais. Tamb&eacute;m &eacute; permitida a utiliza&ccedil;&atilde;o de chamada e transmiss&otilde;es ao vivo&nbsp;por v&iacute;deo, na pr&aacute;tica conhecida como exibicionismo.&nbsp;

&quot;O fetiche j&aacute; &eacute; um tabu por si s&oacute; e j&aacute; envolve um emaranhado de preconceitos, mas as pessoas que s&atilde;o adeptas a essas pr&aacute;ticas, que s&atilde;o consideradas mais bizarras, mais pitorescas, o meu conselho &eacute; que a intimidade tamb&eacute;m precisa ser explanada, ser colocada com muito crit&eacute;rio e cuidado. A intimidade diz sobre voc&ecirc; se desnudar diante das pessoas&quot;, diz a sex&oacute;loga.&nbsp;

CONVERSA

Caso voc&ecirc; queira introduzir uma nova pr&aacute;tica no seu relacionamento, a psic&oacute;loga incentiva a ter cautela. &quot;A gente sempre pede muito cuidado quando for abrir, quando for falar, levar para um espa&ccedil;o mais individualizado, pode ser na sua psicoterapia, pode ser com a sua parceria ou com as pessoas que est&atilde;o engajadas e que possam de alguma forma compreender e acolher, n&atilde;o tratar de uma maneira escandalosa ou bizarra, exercendo qualquer tipo de preconceito na forma de vivenciar o prazer&quot;, desenha.

Fernanda ressalta ainda que toda pr&aacute;tica sexual, seja por meio de fetiches ou de uma forma consensual, deve ser conversada&nbsp;entre os envolvidos antes de acontecer. &quot;O ato sexual por si s&oacute; j&aacute; &eacute; um ato que precisa de consentimento, porque ningu&eacute;m tem poder sobre o corpo do outro&quot;, lembra.

<h3 style="text-align: center;">&quot;Um conselho que eu posso dar: sente com sua parceria e mantenha um di&aacute;logo franco. Diga&nbsp;&#39;gosto de fazer isso, gosto da pr&aacute;tica disso, gosto de introduzir coisas,&nbsp;como &eacute; isso pra voc&ecirc;?&#39;, Porque o seu prazer n&atilde;o pode sobrepor a autonomia que cada um tem sobre o pr&oacute;prio corpo&quot;</h3>

PESADO?

A especialista&nbsp;detalha que, em rela&ccedil;&atilde;o a sexualidade, nunca h&aacute; um &#39;&quot;certo&quot; e um &quot;errado&quot;, apenas viv&ecirc;ncias distintas que podem ser conversadas. Algumas pessoas, por exemplo, gostam de pr&aacute;ticas consideradas mais &quot;pesadas&quot; por envolver dor, incluindo torturas f&iacute;sicas e psicol&oacute;gicas.

Aos casos que envolvem dor e prazer, comumente&nbsp;agregados como BDSM ou sadomasoquismo, h&aacute; varia&ccedil;&otilde;es que pode ser desde o Spanking, que come&ccedil;a com tapas no bunda, at&eacute; o Sounding, que consiste na inser&ccedil;&atilde;o de sondas pelas uretra do parceiro.

&quot;Nessas pr&aacute;ticas em particular, como o Sounding ou o Spanking, &eacute; extremamente importante que voc&ecirc; dialogue com sua parceria sobre quais s&atilde;o os limites, qual o limiar da dor, se ela gosta/curte, porque o outro tamb&eacute;m tem o direto de n&atilde;o querer praticar, n&atilde;o se sentir a vontade ou n&atilde;o ter nenhum tipo de prazer e desejo na pr&aacute;tica&quot;.

Outro grupo de fetiche que costuma ser alvo de debates &eacute; o PigPlay (brincadeira de porquinho), por envolver coisas tidas como sujas. Aqui, adeptos podem envolver urina (o famoso &quot;golden shower), fezes (pode ser conhecido como &quot;black shower&quot; ou &quot;SCAT&quot;), suor, entre outros.

A sex&oacute;loga refor&ccedil;a o n&atilde;o julgamento a quem sente prazer desta forma, mas pede que a higiene seja sempre levada em conta.

&quot;A gente sempre alerta com rela&ccedil;&atilde;o ao risco de infec&ccedil;&otilde;es, contamina&ccedil;&otilde;es, em rela&ccedil;&atilde;o aos cen&aacute;rios de fetiche. A gente sempre recomenda que os adeptos do PigPlay coloquem&nbsp;a premissa da higiene de alguma forma ao trazer os seus dejetos, porque a gente hoje sabe o quanto isso vem repleto de bact&eacute;rias, podendo ocasionar problemas graves&quot;.

PRAZER

Fernanda lembra que todas essas pr&aacute;ticas t&ecirc;m uma coisa em comum: alcan&ccedil;ar o prazer. Por isso, caso alguma pr&aacute;tica esteja te deixando desconfort&aacute;vel, mesmo que j&aacute; tenha sido prazerosa no passado, &eacute; hora de conversar com sua parceria.&nbsp;

<h3 style="text-align: center;">&quot;Muito cuidado com esse consumo exarcerbado desses fetiches, porque isso leva a uma esp&eacute;cie de aliena&ccedil;&atilde;o, pessoas que vivenciam e alguns que sofrem porque n&atilde;o conseguem experenciar o prazer diante desses fetiches e acham que est&atilde;o fora da curva&quot;.&nbsp;</h3>

Para quem quiser experimentar, segue uma lista preparada pelo Aratu On com a explica&ccedil;&atilde;o das pr&aacute;ticas mais faladas nas redes sociais.

VOYEUR

Apesar de um fetiche &quot;velho&quot;, muita gente desconhece o termo, que descreve algu&eacute;m que gosta de ver outras pessoas transando, sem se envolver na pr&aacute;tica. Tamb&eacute;m &eacute; usado para descrever o oposto, quando os parceiros gostam de ser vistos tendo rela&ccedil;&otilde;es, embora o nome mais adequado para essa vers&atilde;o seja &quot;exibicionismo&quot;.&nbsp;

FISTING&nbsp;

O fetiche envolve a inser&ccedil;&atilde;o da m&atilde;o ou antebra&ccedil;o na vagina ou no &acirc;nus. Para que ocorra &quot;de forma bem feita&quot;, a m&atilde;o do parceiro/parceira deve manter os dedos retos e juntos, sem travar o punho, formando um &quot;bico de pato&quot; (por isso, a pr&aacute;tica tamb&eacute;m pode ser chamada de &quot;silent duck&quot; ou pato silencioso).

SPANKING&nbsp;

Como o nome sugere, esses casais curtem ser espancados, literalmente. A atividade ficou famosa ap&oacute;s o lan&ccedil;amento da saga &quot;50 Tons de Cinza&quot; e pode envolver desde palmadas no bumbum at&eacute; murros capazes de provicar manchas.

CUCLOLD&nbsp;

Em bom baian&ecirc;s, o culckold sente prazer em ser corno. O homem que gosta de que sua parceira tenha rela&ccedil;&otilde;es com outras pessoas pode querer estar presente no momento do sexo, sem participar, ou ouvir os detalhes do que foi feito no ato (seja depois, em casa, ou ficar escutando no quarto ao lado). Em uma das varia&ccedil;&otilde;es, o homem gosta de ser humilhado, com a parceira contando que a rela&ccedil;&atilde;o com o &quot;amante&quot; &eacute; mais prazerosa do que com ele.

SOUNDING&nbsp;

Sounding &eacute; uma forma de tortura peniana que envolve inserir sondas de metal na uretra, causando dor e prazer. Alguns adeptos alegam que h&aacute; mais prazer em ser a pessoa que enfia a sonda no parceiro, numa forma de sadomasoquismo, onde a dor do outro causa prazer. &Eacute; poss&iacute;vel usar diversos tamanhos de sonda, das mais finas as mais grossas, incluindo algumas eletrizadas, que d&atilde;o choque.

MILKING&nbsp;

O milking envolve uma outra tortura peniana, a de celibato, que impedir que o parceiro/parceira tenha rela&ccedil;&otilde;es sexuais ou at&eacute; fiquem excitados. No caso do milking, o homem &eacute; impedido de sentir prazer, mas n&atilde;o de ejacular: com a t&eacute;cnica, o adepto &eacute; masturbado de uma forma a eliminar os espermatozoides, mas tudo acontece sem a&nbsp;ere&ccedil;&atilde;o.

PIGPLAY &nbsp;

O &quot;Pigplay&quot; (ou &#39;brincar de porco&#39;, em portugu&ecirc;s) &eacute; um termo gen&eacute;rico usado sobre atividade sexual que enfatiza e abrange coisas como cuspe, urina, suor, ejacula&ccedil;&atilde;o, esmegma (secre&ccedil;&atilde;o acumulada no p&ecirc;nis), odor de axilas e outras partes do corpo. Em casos mais raros, quando envolve fezes, a varia&ccedil;&atilde;o se chama SCAT. Aos adeptos dessa pr&aacute;tica, &eacute; recomendado que, logo ap&oacute;s o sexo, os corpos sejam lavados para evitar a propaga&ccedil;&atilde;o de doen&ccedil;as.

PUPPY PLAY&nbsp;

Apesar do nome parecido, esses dois fetiches s&atilde;o bem diferentes. &quot;Puppy Play&quot; significa, em portugu&ecirc;s, &quot;brincar de cachorro&quot;, o que resume bem a pr&aacute;tica: os adeptos liberam seus &quot;cachorros interiores&quot;&nbsp;e passam a se comportar como os animais. O &quot;c&atilde;o&quot;&nbsp;pode ter um dono, parceiro fixo e quem dita as regras da brincadeira, como tamb&eacute;m pode ter adestradores, que s&atilde;o parceiros tempor&aacute;rios.

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