A piauiense Danielly Shirley Batista Silva, 46 anos, natural de Teresina, no Piau&iacute;, largou o estado de origem para morar em Salvador, na Bahia, h&aacute; 10 anos atr&aacute;s. Por causa desta escolha, ela passou todo esse tempo sem ver a fam&iacute;lia ou sequer ter not&iacute;cia dela.&nbsp;

Todavia, a hist&oacute;ria dela foi mudada ap&oacute;s uma grave doen&ccedil;a, comprovando que &quot;h&aacute; males que vem pro bem&quot;. Internada no Hospital Espanhol, na capital baiana, desde abril, Danielly conheceu a assistente social Sheila Silva, que n&atilde;o descansou at&eacute; promover o reencontro.

A alta de Danielly aconteceu no &uacute;ltimo dia 6 de junho e, na porta o hospital, o pai, a m&atilde;e e o seu filho mais velho a esperavam depois de uma d&eacute;cada sem not&iacute;cias. O grupo veio de carro do Piau&iacute; para busc&aacute;-la.

AFASTAMENTO

Dani, como era chamada pelos profissionais de sa&uacute;de do Hospital Espanhol, foi admitida no dia 29 de abril com a sa&uacute;de bem debilitada. Chegou a ficar intubada, mas evoluiu para a melhora e, na segunda quinzena de maio, foi transferida para a Enfermaria 5C. &nbsp;

No dia 18 de maio, durante uma das visita de Sheila, as duas conversaram sobre esta falta de contato da paciente com a fam&iacute;lia. O distanciamento come&ccedil;ou por op&ccedil;&atilde;o pr&oacute;pria de Danielly.&nbsp; 
No ano de 2012, ainda em Teresina, ela se afastou da fam&iacute;lia, brigada com os pais. Seus dois filhos adolescentes, &agrave; &eacute;poca, tamb&eacute;m foram afastados: um deles ficou sob os cuidados dos av&oacute;s maternos e o outro, sob os cuidados do pai.&nbsp;

A vinda para a Bahia s&oacute; aumentou a dificuldade de reaproxima&ccedil;&atilde;o. &nbsp;&ldquo;Em junho de 2014, sai de Teresina com um grupo de amigas para assistir &agrave; Copa do Mundo aqui em Salvador. Estava precisando espairecer um pouco. Eu trabalhava vendendo roupas e me endividei muito. Sujei meu nome na minha cidade e desisti de tudo. At&eacute; da minha fam&iacute;lia&rdquo;, contou Danielly.

Sheila, que trabalha h&aacute; dois anos como assistente social, percebeu que ela queria voltar a ver os parentes. &ldquo;Meus contatos com Dani foram progredindo, a cada visita &agrave; beira leito. As suas emo&ccedil;&otilde;es e a dificuldade na fala, por conta do per&iacute;odo em que ficou intubada, prejudicaram, inicialmente, a troca de informa&ccedil;&otilde;es. Mas aos poucos ela foi contanto sua hist&oacute;ria, falando da m&atilde;e, dos filhos... e nos revelando os seus nomes. Demonstrou interesse em tentar localizar a fam&iacute;lia. Assim fomos &agrave; procura dos familiares de Dani, com a autoriza&ccedil;&atilde;o da nossa coordena&ccedil;&atilde;o e a ajuda das redes sociais, como ferramentas de busca&rdquo; explicou a quase detetive.

ENCONTRO

Foi pelo Facebook que Sheila encontrou o filho mais velho de Danielly, Willame Batista, atualmente com 28 anos. A assistente questionou, pelo messenger, se o nome Danielly Shirley Batista Silva era conhecido para ele. A resposta de milh&otilde;es e emo&ccedil;&otilde;es veio: &ldquo;Esta mulher &eacute; minha m&atilde;e! Faz mais de 10 anos que n&atilde;o temos not&iacute;cia alguma dela... Ach&aacute;vamos que ela estava morta&quot;, respondeu.

Depois de estabelecido o contato, m&atilde;e e filho come&ccedil;aram a ser por videochamadas quase todos os dias em que ela esteve internada. Quando foram comunicados da alta, o grupo &nbsp;partiu de Teresina, de carro, para enfrentar 1.150 km de estrada, com destino &agrave; Av Sete de Setembro, 4161 &ndash; Barra, Hospital Espanhol, Salvador/BA.&nbsp;

Vieram, na comitiva, seu pai de cria&ccedil;&atilde;o, Jos&eacute; Willame Batista da Silva, 61, aut&ocirc;nomo; sua m&atilde;e Geralda Batista, 68, comerciante e o primog&ecirc;nito de Danielly, Willame. O filho ca&ccedil;ula, Lucas, de 23 anos, n&atilde;o veio. A viagem durou quase dois dias porque ocorreram algumas intercorr&ecirc;ncias com o carro, atrasando o reencontro e s&oacute; aumentando as ansiedades.&nbsp;

&Agrave;s 16:45 do dia 6 de junho de 2022, a alta de n&uacute;mero 4.500 do HE aconteceu. As portas de vidro da Recep&ccedil;&atilde;o se abriram e Dani, na cadeira de rodas, usando um vestido amarelo que a m&atilde;e trouxe de presente, segurando um bal&atilde;o dourado, em forma de estrela, viu seu pai, sua m&atilde;e e um dos seus filhos caminhando em sua dire&ccedil;&atilde;o, ao som da voz e do viol&atilde;o do musicoterapeuta da unidade, Marcos Barbosa, entoando um louvor, a pedido da pr&oacute;pria paciente. &ldquo;Voc&ecirc; envelheceu muito!&rdquo; &ndash; disse Dani ao pai, entre risos e sinceridade.

&ldquo;Dani n&atilde;o &eacute; f&aacute;cil&rdquo;, disse sua m&atilde;e, antes de desabafar, entre l&aacute;grimas e voz embargada de choro. &ldquo;Agrade&ccedil;o ao Senhor por trazer a nossa filha de volta para n&oacute;s. Eu estou muito feliz! Eu achava que estava sonhando, nos dois primeiros dias em que recebi a not&iacute;cia. Mal conseguia falar. Mas quando os contatos foram sendo feitos, eu vi que tudo era realidade. Eu tinha dado minha filha como morta e ela reviveu, porque o Senhor &eacute; bom! N&atilde;o devemos desistir nunca e sempre confiar em Deus, porque Ele &eacute; maior do que todas as coisas&rdquo;, agradeceu.

BUSCA

Durante os dez anos sem contato, a fam&iacute;lia tentou muito encontr&aacute;-la. Contratou detetive, deixaram registros nos &oacute;rg&atilde;os de seguran&ccedil;a p&uacute;blica local e nacional e D. Geralda fez cadastro no Instituto M&eacute;dico Legal de Teresina, para onde era chamada com frequ&ecirc;ncia para realizar testes de DNA, na expectativa de ser identificada como m&atilde;e biol&oacute;gica de corpos de mulheres que chegavam ao local com caracter&iacute;sticas similares &agrave; sua filha Danielly.

&ldquo;Hoje eu devo agradecer por eles me aceitarem de volta. Quero agradecer tamb&eacute;m, por tudo que a assistente social Sheila fez por mim. Ela que foi em busca da minha fam&iacute;lia. Coisa que eu nunca fiz e nem sei se faria sozinha&rdquo;, pontuou Danielly.

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