Quantas pessoas passam pela sua vida e voc&ecirc; n&atilde;o sabe o drama que elas carregam no cora&ccedil;&atilde;o? Seria ainda pior se essas ang&uacute;stias sequer fossem resolvidas por quem seria de direito, n&atilde;o &eacute; mesmo? Mas isso &eacute; mais comum do que voc&ecirc; imagina.

<h2 style="text-align: justify;">A reportagem do Grupo Aratu vai contar, nas pr&oacute;ximas linhas, hist&oacute;rias de tr&ecirc;s fam&iacute;lias que, depois de muitos anos, ainda convivem com medo de hist&oacute;rias que sequer foram conclu&iacute;das pelas autoridades policiais e judici&aacute;rias.&nbsp;</h2>

&nbsp;

<h3 style="text-align: justify;">CASO DAVI - ITI&Uacute;BA/BA</h3>

O especial Inqu&eacute;ritos come&ccedil;a conversando com Lilia Lima. H&aacute; pouco mais de um ano, ela n&atilde;o v&ecirc; o filho, Davi, dado como desaparecido no munic&iacute;pio de Iti&uacute;ba, a 380 km de Salvador. &quot;&Eacute; dif&iacute;cil falar, porque a saudade &eacute; muito grande. A incerteza, a ang&uacute;stia a cada dia que passa, sem ter resposta das autoridades&quot;, desabafou, com l&aacute;grimas nos olhos.&nbsp;

&nbsp;

<img alt="" src="https://storage.googleapis.com/aratu-backend/fotos/aratu_noticias/93908/mg/2.jpg" style="width: 1024px; height: 703px;" />

&nbsp;

Cada brinquedo e mem&oacute;ria de Davi permanecem guardados com todo o cuidado por Lilia. Davi desapareceu no dia 28 de mar&ccedil;o de 2021, no povoado de Varzinha. O menino, na &eacute;poca com 11 anos, morava com os pais em Salvador, mas visitava a fam&iacute;lia no interior. A m&atilde;e relembra que foram dois meses de buscas, pensando que o garoto havia se perdido na serra.

<blockquote>
&quot;Depois da investiga&ccedil;&atilde;o, a gente chegou &agrave; conclus&atilde;o de que ele n&atilde;o subiu a serra. A sand&aacute;lia dele foi plantada l&aacute; para induzir que ele tinha subido. Para a pol&iacute;cia, ele foi pego por algu&eacute;m. Esse algu&eacute;m que a gente at&eacute; hoje n&atilde;o sabe, porque n&atilde;o tinha ningu&eacute;m estranho ali. Ningu&eacute;m sabia que eu tinha deixado meu filho l&aacute;, na casa de minha irm&atilde;. S&oacute; a fam&iacute;lia&quot;, conta.
</blockquote>

Um ano depois, a m&atilde;e segue sem respostas. &quot;Isso &eacute; o que d&oacute;i: n&atilde;o saber se ele est&aacute; vivo, se est&aacute; morto, se ele foi sequestrado. Essas d&uacute;vidas que ficam na nossa mente 24 horas por dia&quot;, relata.

A investiga&ccedil;&atilde;o corre em segredo de justi&ccedil;a. Em nota, o Minist&eacute;rio P&uacute;blico da Bahia informou que acompanha as apura&ccedil;&otilde;es desde as buscas iniciais, acompanhando o inqu&eacute;rito. Segundo o MP, a conclus&atilde;o foi prorrogada em fevereiro e s&oacute; deve ser encaminhada ao &oacute;rg&atilde;o ap&oacute;s o seu desfecho, de responsabilidade da Pol&iacute;cia Civil. O MP aguarda o fim das apura&ccedil;&otilde;es para adotar outras medidas.

Com a falta de respostas, Lilia pretende federalizar o caso de Davi. &quot;Tem mais chance de a gente ter uma resposta r&aacute;pida, porque &eacute; um ano j&aacute; e a gente n&atilde;o teve uma resposta durante esse ano todo. Eu n&atilde;o vou deixar o caso do meu filho ser esquecido nunca, eu n&atilde;o posso. Ele est&aacute; dentro de mim, 24 horas por dia eu penso nele. As coisinhas dele est&atilde;o guardadas no mesmo lugar, os brinquedinhos dele, tudo. Ent&atilde;o, eu pe&ccedil;o a ajuda das autoridades que investiguem e n&atilde;o parem, que d&ecirc; mais empenho, porque &eacute; uma crian&ccedil;a que est&aacute; perdida e a gente n&atilde;o sabe o que aconteceu&quot;.

&nbsp;

<h3 style="text-align: justify;">LUIS JADER - CAMA&Ccedil;ARI/BA</h3>

Outro personagem que convive com uma dor parecida &eacute; Orlando Rosa, pai do pequeno Luis Jader. Foi em uma casa de praia, em um condom&iacute;nio em Barra do Jacu&iacute;pe, Cama&ccedil;ari, na Regi&atilde;o Metropolitana de Salvador, que ele viu o filho baleado, em 12 de setembro de 1998. &quot;Quando eu peguei meu filho, ele estava com um sangramento na regi&atilde;o da cabe&ccedil;a, mas como a janela abre para dentro, eu pensei que ele tinha batido a cabe&ccedil;a ali&quot;, relembra Orlando, de frente para a janela, mais de 20 anos depois.&nbsp;

Ele conta que a primeira rea&ccedil;&atilde;o ao ver o filho machucado foi buscar ajuda m&eacute;dica. &quot;No momento em que tirou a tomografia, que viram o proj&eacute;til dentro da cabe&ccedil;a do meu filho&quot;, relembra Orlando, que chegou a ser tratado como suspeito. Em menos de 24 horas, ele foi liberado das acusa&ccedil;&otilde;es, mas recebeu a pior not&iacute;cia: Luiz Jader, de apenas um ano e tr&ecirc;s meses, n&atilde;o tinha resistido.&nbsp;

Quase um ano depois da morte do menino, os peritos fizeram a reconstitui&ccedil;&atilde;o do crime. A conclus&atilde;o foi de que a bala que atingiu Jader percorreu uma dist&acirc;ncia de 110 a 125 metros, partindo de uma &aacute;rea onde pessoas praticavam tiro ao alvo, dentro do condom&iacute;nio em Jacu&iacute;pe. O suspeito nunca foi encontrado, mas h&aacute; 20 anos Orlando tenta responsabilizar o condom&iacute;nio pelo crime. O pai do menino mant&eacute;m guardado cada detalhe do processo, mas na delegacia que investiga o caso, o inqu&eacute;rito sumiu.

<blockquote>
&quot;Na &eacute;poca, eu n&atilde;o senti falta de interesse da delegacia de Vila de Abrantes, mas era uma delegacia muito sucateada. Era manuscrito. [...] Ent&atilde;o, nessa mudan&ccedil;a, que agora eles est&atilde;o em delegacia nova, na hora de digitalizar, eles n&atilde;o acharam [o inqu&eacute;rito] para ser digitalizado&quot;, conta Orlando.
</blockquote>

O advogado de defesa de Orlando indica que o sumi&ccedil;o do inqu&eacute;rito pode atrapalhar no andamento do caso. &quot;Quando se ocorre uma perda de um objeto como esse, t&atilde;o importante para uma investiga&ccedil;&atilde;o criminal, isso tem que ser apurado dentro da Pol&iacute;cia Civil em si, que &eacute; respons&aacute;vel por cuidar dessas situa&ccedil;&otilde;es&quot;, destacou Wrias Alves.

Em nota, a Pol&iacute;cia Civil garantiu que o inqu&eacute;rito foi conclu&iacute;do e enviado &agrave; justi&ccedil;a. Apesar disso, n&atilde;o explicou o sumi&ccedil;o das informa&ccedil;&otilde;es na 26&ordf; Delegacia Territorial (DT/Vila de Abrantes). J&aacute; o Tribunal de Justi&ccedil;a, tamb&eacute;m por meio de nota, afirmou que o acesso ao processo &eacute; restrito &agrave;s partes e aos procuradores.

&quot;Eu tenho uma lembran&ccedil;a muito forte do meu filho, no momento que a gente se encontrava, brincava, ia para o encontro do rio com o mar&quot;, relembrou Orlando, enquanto caminhava pela casa em Barra de Jacu&iacute;pe. &quot;E tenho a lembran&ccedil;a mais ainda no papel, o atestado de &oacute;bito dele. Tudo o que foi documentado eu tenho, mas n&atilde;o sei porqu&ecirc; esse inqu&eacute;rito sumiu&quot;.

&nbsp;

<h3 style="text-align: justify;">CASO SIOM&Aacute;RIO - SALVADOR/BA</h3>

Assim como Liliam e Orlando, surgem dois novos personagens na s&eacute;rie Inqu&eacute;ritos: Sivaldo e a m&atilde;e. Eles, ali&aacute;s, ainda guardam os rem&eacute;dios usados pelo irm&atilde;o, Siom&aacute;rio de Souza Santos, desaparecido em mar&ccedil;o de 2021.&nbsp;

&quot;Eu sei que eu chorava muito e fiquei quase deprimida&quot;, conta Maria, que passou todo esse tempo em busca do filho que medica&ccedil;&atilde;o controlada. O irm&atilde;o de Siom&aacute;rio foi em todos os lugares em busca de not&iacute;cias. &quot;Continuei procurando pelos hospitais daqui de Salvador, Candeias, Feira de Santana, sem ter &ecirc;xito. Passamos o ano todo procurando ele&quot;, relata.&nbsp;

&nbsp;

<img alt="" src="https://storage.googleapis.com/aratu-backend/fotos/aratu_noticias/93908/mg/1.jpg" style="width: 900px; height: 643px;" />

&nbsp;

Enquanto a fam&iacute;lia seguia com as buscas, o corpo de Siom&aacute;rio j&aacute; havia sido encontrado em Sim&otilde;es Filho e enterrado no cemit&eacute;rio Quinta dos L&aacute;zaros, em Salvador. Mas a fam&iacute;lia s&oacute; foi informada da morte um ano depois. N&atilde;o pela delegacia, mas pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS).&nbsp;

<blockquote>
&quot;Viemos descobrir porque tinham cessado o benef&iacute;cio dele, por ele ter vindo a &oacute;bito&quot;, explica Sivaldo. &quot;Tudo que n&oacute;s queremos &eacute; uma resposta do estado. Como o INSS ficou ciente e o DPT [Departamento de Pol&iacute;cia T&eacute;cnica] n&atilde;o? E os familiares piorou, tanto &eacute; que meu irm&atilde;o foi sepultado como indigente, desde quando ele tem familiares. E procuramos ele esse tempo todo. E n&atilde;o foi uma, nem duas vezes, no IML e no DHPP [Departamento de Homic&iacute;dios e Prote&ccedil;&atilde;o &agrave; Pessoa [DHPP]. Queremos uma resposta.&quot;&nbsp;
</blockquote>

O caso foi registrado no DHPP em 10 de mar&ccedil;o de 2021. Segundo a pol&iacute;cia, a unidade n&atilde;o teria recebido a informa&ccedil;&atilde;o de que o corpo de Siom&aacute;rio havia sido encontrado e identificado. O departamento s&oacute; soube do &oacute;bito este ano, ap&oacute;s ser informado pela fam&iacute;lia do desaparecido.&nbsp;

&quot;Os investigadores l&aacute; do DPP pegaram e me disseram que essa al&ccedil;ada j&aacute; n&atilde;o &eacute; mais com eles, pelo fato de n&atilde;o ter acontecido aqui em Salvador e, sim, em Sim&otilde;es Filho&quot;, contou o irm&atilde;o de Siom&aacute;rio, ap&oacute;s retornar da delegacia. &quot;Ainda tenho que pegar o laudo hospitalar e o cadav&eacute;rico. Eu quero uma resposta para a morte do meu irm&atilde;o&quot;.&nbsp;

Al&eacute;m de descobrir a causa, Sivaldo tenta entender como o INSS foi informado antes da pol&iacute;cia, que estaria investigando o caso. &quot;O que deixa transparecer, o que deixa demonstrar, &eacute; que dinheiro vale mais do que uma vida humana. Meu irm&atilde;o praticamente foi enterrado como cachorro. S&oacute; o que queremos mesmo &eacute; uma resposta do Estado, principalmente a causa da morte e tamb&eacute;m pra ver se a gente consegue um translado e a exuma&ccedil;&atilde;o do cad&aacute;ver, porque atrav&eacute;s dessa exuma&ccedil;&atilde;o e translado a gente vai poder fazer um sepultamento digno. Ele vai deixar de ser indigente e vai ser sepultado como cidad&atilde;o, como ele merecia e como todos n&oacute;s merecemos&quot;.

&nbsp;

<h3 style="text-align: justify;">POR QUE TANTA DEMORA?</h3>

Orlando, Sivaldo, Lilia ... por qual motivo tantas fam&iacute;lias aguardam tanto tempo por respostas? Para o presidente do sindicato dos policiais civis, a resposta pode estar dentro das delegacias.

<blockquote>
&quot;Nas delegacias da Bahia, n&oacute;s dever&iacute;amos ter 11 mil policiais civis e temos apenas 5.500. Realidade dessa delegacia do Bonfim [por exemplo], n&oacute;s temos dois investigadores pra atender um universo de mais de 100 mil habitantes. Essa delegacia aqui, ela vai da Avenida Contorno, Solar do Unh&atilde;o at&eacute; a Suburbana, passando pela Ribeira, Massaranduba e Bonfim&quot;, enumera Eust&aacute;cio Lopes.
</blockquote>

Para saber mais detalhes sobre essas hist&oacute;rias, os dramas e sofrimentos, as d&uacute;vidas que arrastam o sofrimento dos familiares por anos a fio, e como cada investiga&ccedil;&atilde;o aconteceu, &eacute; s&oacute; clicar no play e assistir Inqu&eacute;ritos.

&nbsp;

CONFIRA AQUI A MAT&Eacute;RIA ESPECIAL &quot;INQU&Eacute;RITOS - POR QUE TANTA DEMORA?&quot; EXIBIDA NO PROGRAMA CIDADE ARATU

&nbsp;

<iframe allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="409" src="https://www.youtube.com/embed/BrbXZE7xa9w" title="YouTube video player" width="727"></iframe>

Acompanhe nossas transmiss&otilde;es ao vivo no&nbsp;<a href="https://aratuon.com.br/aovivo/aratuon" target="_blank">www.aratuon.com.br/aovivo</a>. Nos siga no&nbsp;<a href="https://www.instagram.com/aratuonline/" target="_blank">Instagram</a>,&nbsp;<a href="https://www.facebook.com/aratuon/" target="_blank">Facebook</a>&nbsp;e&nbsp;<a href="https://twitter.com/aratuonline?ref_src=twsrc%5Egoogle%7Ctwcamp%5Eserp%7Ctwgr%5Eauthor" target="_blank">Twitter</a>. Quer mandar uma den&uacute;ncia ou sugest&atilde;o de pauta, mande WhatsApp para&nbsp;<a href="tel:(71) 99940 - 7440">(71) 99940 - 7440</a>. Nos insira nos seus grupos!

Tudo sobre: Lilia Lima

Inquéritos - Pai que não sabe quem matou o filho; desaparecido enterrado como "cachorro"; e criança sumida: as histórias de famílias que jamais tiveram um fim