<h3 style="text-align: center;">&quot;Perfume, ok! Roupa engomada, ok! Sapato engraxado, ok! Dinheiro do t&aacute;xi, ok! Tudo pronto?! Ent&atilde;o, simbora para Itapu&atilde;! &quot;</h3>

Este era o checklist dos saudosos frequentadores de um dos mais emblem&aacute;ticos e hist&oacute;ricos bar e restaurante&nbsp;de Salvador: o L&iacute;ngua de Prata. Reduto da boemia, a casa dos &quot;coroas p&eacute;s de valsa&quot;&nbsp;assumiu por d&eacute;cadas a responsabilidade de alegrar solid&otilde;es e abrandar desencantos amorosos.

Em 2015, por&eacute;m, teve seu &quot;fim&quot; decretado.&nbsp;No dia 11 de mar&ccedil;o daquele ano, retroescavadeiras derrubaram &quot;simbolicamente&quot;&nbsp;as estruturas do ic&ocirc;nico bar e o apetite&nbsp;de longevos ind&oacute;ceis. Segundo a Prefeitura, o processo era necess&aacute;rio para a conclus&atilde;o das obras de requalifica&ccedil;&atilde;o da regi&atilde;o.

No local, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo apontava um projeto com ciclovia, &aacute;rea para roda de capoeira, bem como para conviv&ecirc;ncia de pescadores e apresenta&ccedil;&otilde;es culturais, al&eacute;m de pista t&aacute;til, quiosques e equipamentos exclusivos para baianas de acaraj&eacute;.

As obras custariam R$ 9,3 milh&otilde;es em investimentos do trecho de cerca de 30 mil m&sup2;, partindo da Sereia at&eacute; o Largo de Itapu&atilde;. &Oacute;rf&atilde;os do prazer, os frequentadores do L&iacute;ngua de Prata ficaram no limbo.

ESPERAN&Ccedil;A E QUEDA&nbsp;

A expectativa por noites melhores&nbsp;surgiu, no entanto, cinco meses&nbsp;depois quando o bar anunciou um novo lar. Distante da paradis&iacute;aca praia de Itapu&atilde;, o reduto da boemia soteropolitana passaria a funcionar nos antigos Meu Chapa e Caranguejo do Porto, no bairro do Costa Azul.&nbsp;Mas, l&aacute;, o novo point n&atilde;o deu certo.

Para o aposentado Luiz Ramos, a localiza&ccedil;&atilde;o n&atilde;o agradou o fiel p&uacute;blico. &quot;Eu acho que foi por causa da localiza&ccedil;&atilde;o, pois foram muitos anos ali no centro de Itapu&atilde;. Era s&oacute; falar em &#39;seresta&#39;&nbsp;e a primeira op&ccedil;&atilde;o era Itapu&atilde;. Quem chegava no bairro&nbsp;e gostava de m&uacute;sica era direcionado para o L&iacute;ngua de Prata e o Jangada&quot;, explica,&nbsp;ao relembrar do resturante coirm&atilde;o&nbsp;- que dividia n&atilde;o s&oacute; o muro, mas, tamb&eacute;m, o p&uacute;blico -.&nbsp;

Como uma esp&eacute;cie de nom&acirc;de, o L&iacute;ngua de Prata mudou-se, mais uma vez. Agora, com propriet&aacute;rio e equipe de funcion&aacute;rios diferentes, al&eacute;m do nome. Passara a se chamar&nbsp;Lagoa de Prata e&nbsp;estabelecera no final de linha do Abaet&eacute;. Novo insucesso.

LUA DE PRATA

Atualmente, o bar e restaurante Lua de Prata, localizado ao lado do Vila Bahiana, tamb&eacute;m&nbsp;em Itapu&atilde;, &eacute; um alento aos cora&ccedil;&otilde;es dos frequentadores do saudoso L&iacute;ngua de Prata.

Produtor musical do local, Jos&eacute; Ferreira revelou ao Aratu On, que a ess&ecirc;ncia do saudoso bar/restaurante ainda &eacute; a mesma. &quot;Aqui, est&atilde;o gar&ccedil;ons, cozinheiras, funcion&aacute;rios do hist&oacute;rico L&iacute;ngua de Prata. A ess&ecirc;ncia se mant&eacute;m. O dono do Lua de Prata, por exemplo, era um grande gar&ccedil;om do L&iacute;ngua, o Renan&quot;, destaca&nbsp;Ferreira.&nbsp;

Assim como o original, o Lua de Prata &eacute; palco para novos artistas da m&uacute;sica baiana. &quot;O sucesso do L&iacute;ngua de Prata na &eacute;poca eram as novidades. Tudo que estava tocando, n&oacute;s levav&aacute;mos e coloc&aacute;vamos l&aacute;. Levamos&nbsp;Asas Livres, Latitude Novo, Tayrone [ent&atilde;o] Cigano, Brazilian Boys, Nara Costa...essa foi a receita do sucesso do L&iacute;ngua de Prata&quot;, relembra Jos&eacute;, que chegou a ser gerente do L&iacute;ngua de Prata, na d&eacute;cada de 90. &nbsp;

LEMBRAN&Ccedil;AS

Na &uacute;ltima sexta-feira (22/4), a reportagem do Aratu On visitou o antigo local, onde o ic&ocirc;nico bar/restaurante se ergueu e fez sucesso nas d&eacute;cadas de 80 e 90&nbsp;e conversou com alguns ex-frequentadores.

As saudosas hist&oacute;rias vividas naquele&nbsp;que abrigou, tamb&eacute;m, talentos precoces da m&uacute;sica baiana, fervilhavam na mem&oacute;ria de Genivaldo Di Santana, 63 anos. Ironicamente, ele estava sentado numa das escadas - fruto da requalifica&ccedil;&atilde;o do local -, &agrave; beira da praia de Itapu&atilde;, e onde ficavam as cadeiras do sal&atilde;o de festa do L&iacute;ngua de Prata.

&quot;Eu saia da Liberdade para vir pra c&aacute;&nbsp;s&oacute; para dan&ccedil;ar no L&iacute;ngua de Prata. As cadeiras ficavam exatamente aqui, onde estamos. Era bom demais isso aqui, voc&ecirc; se arrumava todo,&nbsp;colocava a &#39;roupa de domingo&#39;, um perfumezinho e vinha. Aqui, era o seguinte: voc&ecirc; entrava, olhava para quem lhe interessava e oferecia um copo (de cerveja) ou um drink. A&iacute;, se aceitavam, voc&ecirc; chamava para dan&ccedil;ar e a&iacute;&nbsp;conversava melhor&quot;, relembra Genivaldo ao mesmo tempo que reflete.&nbsp;

<h3 style="text-align: center;">&quot;Hoje em dia, &eacute; essa bagun&ccedil;a na rua a&iacute;:&nbsp;o marmanjo puxando cabelo, xingando a mo&ccedil;a, batendo. Tudo errado! &Eacute; num sorriso que o amor se faz, num abra&ccedil;o que se conquista o cora&ccedil;&atilde;o da amada, e no L&iacute;ngua de Prata era assim. N&atilde;o tinha confus&atilde;o, era muita dan&ccedil;a e m&aacute;ximo respeito&quot;</h3>

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O discurso &eacute; reverberado pelo pernambucano Tales Sarmento, 43. Morando h&aacute; 25 anos na capital baiana, o chaveiro mant&eacute;m um estabelecimento comercial em frente ao antigo L&iacute;ngua de Prata.

Por vezes, ele antecipava o fim da jornada de trabalho para curtir a noite do bo&ecirc;mio reduto. &quot;Quando o movimento estava fraco ou a atra&ccedil;&atilde;o era boa demais, fechava as portas aqui, me arrumava e atravessava a rua. Esse L&iacute;ngua de Prata tem &eacute; hist&oacute;ria, viu?!&quot;, destaca Tales.&nbsp;

Ao contr&aacute;rio de seu Genivaldo, Tales apostava nos bilhetinhos de amor &agrave;s pretendentes. A t&aacute;tica parece ter dado certo. Afinal, o sucesso das investidas, ele ostenta orgulhoso ainda hoje.

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Em uma das gavetas de um arm&aacute;rio de seu estabelecimento comercial est&atilde;o guardadas fotografias de suas conquistas amorosas. &quot;Essa aqui n&atilde;o pode divulgar n&atilde;o, viu?! Era casada na &eacute;poca. Essa aqui, era gringa. Tem essa aqui, muito bela&quot;, enumerava, aos risos.&nbsp;

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ARROCHA

Quem quisesse ouvir boa m&uacute;sica, op&ccedil;&atilde;o era o que n&atilde;o faltava. Tinha arrocha, pagode e samba. Os clientes ainda podiam pedir para o cantor ou banda tocarem can&ccedil;&otilde;es de seus interesses.

&quot;Eles tocavam sem problemas. Eu chegava 17h&nbsp;e ia embora&nbsp;s&oacute; no outro dia. Resenhava com as amigas, dan&ccedil;ava bastante e me divertia. O L&iacute;ngua de Prata revelou muita gente. Eu mesma vinha dan&ccedil;ar e ouvir a &#39;rainha do Arrocha&#39;, Nara Costa - atualmente, convertida ao evangelho h&aacute; 10 anos e fora do arrocha h&aacute; seis&quot;, relembra Rita de C&aacute;ssia.

Quis o destino que a cozinheira trabalhasse, atualmente, em um dos quiosques&nbsp;que ocuparam o espa&ccedil;o do L&iacute;ngua de Prata.&nbsp; &quot;Vez ou outra, no final de tarde, eu sento aqui nesse banquinho e relembro da &eacute;poca boa, de divers&atilde;o que o L&iacute;ngua de Prata me proporcionou. Mas &eacute; assim, tudo na vida passa. Foi bom&nbsp;enquanto&nbsp;durou&quot;, enaltece.&nbsp;

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Tudo sobre: Lagoa de Prata

Língua de Prata: há sete anos, símbolo da pegação soteropolitana deixava órfãos do prazer e amantes desolados; "é num sorriso que o amor se faz"