Sete em cada dez pessoas transgênero enfrentaram insegurança alimentar durante a pandemia de covid-19. Para um quinto do grupo minoritário, o quadro foi severo, já que não tinha condições de fazer todas as refeições do dia, nem como comprar alimentos, passando fome.
É o que comprova estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Federal da Paraíba (UFPB), publicado nesta quarta-feira (10/5), no periódico científico Plos One. Como forma de averiguar o cenário, a equipe de cientistas analisou relatos de experiências de 109 pessoas, por meio de um questionário. Os participantes, que responderam de modo voluntário, eram de todas as regiões do país, sendo a maioria negra.
O critério aplicado para se definir o estado de insegurança alimentar foi o da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que entende como contextos em que o acesso ao alimento está sob ameaça. Isso significa quantidades insuficientes de comida, medo de o alimento acabar e a falta de estabilidade no fornecimento. Também se enquadra na classificação a inadequação da comida disponível, do ponto de vista cultural e/ou nutricional.
Mortes
Sávio Marcelino Gomes, autor principal do artigo,  nutricionista e docente da UFPB, destaca que a comunidade trans é uma das mais vulneráveis. "O Brasil, apesar de a gente ter alguns avanços na saúde, como o processo transexualizador e de existir uma política nacional de saúde para a população LGBTQIA+, de forma geral, é também o país que mais mata pessoas trans em todo o mundo", assegura.
O pesquisador comenta que, ao não poder entrar no mercado de trabalho, por conta da discriminação, chamada, nesse caso, de transfobia, as pessoas trans acabam em uma circunstância de suscetibilidade quanto à alimentação, camada que se soma à da fragilização por meio da violência. Gomes faz, ainda, uma crítica aos dados sobre a população trans que se tem, atualmente, à disposição no Brasil.
"À medida que sofrem rejeições de empregos, sofrem violências dentro do mercado de trabalho, do setor da educação e também na área de assistência em saúde, quando tentam acessar a atenção primária, essas pessoas sofrem também experiências de estigma, e tudo isso junto, coloca essas pessoas em uma posição social de vulnerabilidade aos piores males que nossa sociedade tem. E a fome é um deles, apesar de a gente não [ter] esse resultado de forma nacional, porque nossos inquéritos, por muito tempo, também não mostram essa população. É uma população que está invisibilizada", afirma Gomes, que é doutor em saúde pública.
*Agência Brasil
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A Prefeitura de Salvador oficializou, nesta semana, a assinatura do Pacto de Mil&atilde;o, que garante a seguran&ccedil;a alimentar de forma sustent&aacute;vel, com a implementa&ccedil;&atilde;o de boas pr&aacute;ticas alimentares na capital baiana.&nbsp;

As pol&iacute;ticas p&uacute;blicas desenvolvidas pela Prefeitura de Salvador, por meio das secretarias de Sustentabilidade e Resili&ecirc;ncia (Secis) e da Educa&ccedil;&atilde;o (Smed), foram apresentadas durante o 8&ordm; F&oacute;rum Global do Pacto de Pol&iacute;tica Alimentar Urbana de Mil&atilde;o, que aconteceu na semana passada, no Rio de Janeiro. O evento reuniu autoridades de todo o mundo, para discutir solu&ccedil;&otilde;es e firmar um pacto global para implementa&ccedil;&atilde;o de iniciativas voltadas aos sistemas alimentares, com a&ccedil;&otilde;es que garantam &agrave;s pessoas os meios e recursos necess&aacute;rios para uma alimenta&ccedil;&atilde;o saud&aacute;vel.

A secret&aacute;ria da Secis, Marcelle Moraes, falou sobre o pacto. &quot;Agora, a capital baiana &eacute; signat&aacute;ria da rede internacional, mostrando que a administra&ccedil;&atilde;o municipal acredita na import&acirc;ncia de termos uma Salvador mais sustent&aacute;vel e resiliente&rdquo;, afirmou, em nota enviada &agrave; imprensa.

Atualmente, dentre as iniciativas realizadas pela administra&ccedil;&atilde;o municipal para incentivar a alimenta&ccedil;&atilde;o saud&aacute;vel, a consci&ecirc;ncia pela preserva&ccedil;&atilde;o do meio ambiente e a sustentabilidade, est&atilde;o os projetos Horta em Casa, Horta nas Escolas e Alimenta&ccedil;&atilde;o Sustent&aacute;vel &ndash; este &uacute;ltimo, inclusive, rendeu &agrave; capital baiana o Selo Remma (Reconhecimento pelo Engajamento na Mitiga&ccedil;&atilde;o de Mudan&ccedil;as Clim&aacute;ticas atrav&eacute;s da Alimenta&ccedil;&atilde;o).

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O senador Fl&aacute;vio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, sugeriu que quem &eacute; benefici&aacute;rio do Aux&iacute;lio Brasil n&atilde;o passa fome no pa&iacute;s. A declara&ccedil;&atilde;o foi dada na &uacute;ltima quinta-feira (9/6) em entrevista &agrave; CNN Brasil, concedida um dia ap&oacute;s pesquisa Vigisan (Inqu&eacute;rito Nacional Sobre Seguran&ccedil;a Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil), identificar que h&aacute; 33,1 milh&otilde;es (15,5%) de pessoas passando fome em territ&oacute;rio brasileiro.

&quot;Quem recebe R$ 400 por m&ecirc;s de Aux&iacute;lio Brasil pode ter dificuldade, mas fome n&atilde;o passa&quot;, minimizou o senador.

Ele ainda eximiu o pai de culpa na crise social que o Brasil est&aacute; enfrentando. &quot;O presidente Bolsonaro zerou os impostos federais que existem sobre arroz, feij&atilde;o, zerou impostos de importa&ccedil;&otilde;es sobre os derivados do petr&oacute;leo que v&ecirc;m para abastecer as nossas redes de postos. Quer dizer, o que est&aacute; ao alcance dele, ele est&aacute; fazendo&quot;, disse Fl&aacute;vio.

Os n&uacute;meros que revelam o aumento da inseguran&ccedil;a alimentar no pa&iacute;s foram identificados pela Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Seguran&ccedil;a Alimentar e Nutricional)que envolve seis entidades parceiras. O levantamento constatou aumento vertiginoso de pessoas passando fome no Brasil. Em 2020, quando foi realizada a primeira pesquisa deste tipo, eram 19 milh&otilde;es de pessoas com fome no Brasil (9,1% da popula&ccedil;&atilde;o).

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A pandemia e o desemprego agravaram e muito a inseguran&ccedil;a alimentar no Brasil. A rep&oacute;rter&nbsp;da TV Aratu, Lorena Dias, foi at&eacute;&nbsp;uma das unidades de Restaurante Popular de Salvador e conheceu hist&oacute;rias de quem vive de perto com essa realidade. 
 
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Cerca de 19 milh&otilde;es de brasileiros n&atilde;o tiveram o que comer na pandemia em 2020. Eles est&atilde;o entre as 116,8 milh&otilde;es de pessoas que, segundo Inqu&eacute;rito Nacional sobre Inseguran&ccedil;a Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, conduzido pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Seguran&ccedil;a Alimentar e Nutricional), conviveram com algum grau de inseguran&ccedil;a alimentar no Brasil nos &uacute;ltimos meses do ano, o que corresponde a 55,2% dos domic&iacute;lios.

&quot;Inseguran&ccedil;a alimentar&quot; &eacute; o nome dado quando a pessoa faz uma refei&ccedil;&atilde;o sem ter certeza de que far&aacute;, corretamente, a pr&oacute;xima. A pesquisa foi feita durante os dias 5 e 24 de dezembro, em 2.180 domic&iacute;lios, questionando os moradores sobre os tr&ecirc;s meses anteriores ao momento coleta, e divulgada pela Folha de S. Paulo.

As perguntas foram realizadas no momento em que o aux&iacute;lio emergencial foi diminu&iacute;do de R$ 600 para R$ 300, afetando a renda de milh&otilde;es de benefici&aacute;rios. Entre os domic&iacute;lios que receberam o aux&iacute;lio emergencial, 28% viveram inseguran&ccedil;a alimentar grave, ou seja, passaram fome, ou moderada. Outros 37,6% viveram de forma leve. J&aacute; entre os que n&atilde;o receberam, 10,2% passaram por inseguran&ccedil;a grave ou moderada, e a maior parte deles, 60,3% tiveram acesso tranquilo a alimentos.

A pesquisa mostra o aumento da fome no Brasil aos n&iacute;veis anteriores a 2004, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domic&iacute;lios (Pnad), quando a inseguran&ccedil;a alimentar moderada estava em 12% e a grave em 9,5%. Na pesquisa atual, os dados mostram o primeiro quesito em 11,5%, e o segundo em 9%.

Depois disso, no ano de 2004, o pa&iacute;s tinha 64,8% da popula&ccedil;&atilde;o em seguran&ccedil;a alimentar - enquanto hoje tem 44,8%. At&eacute; 2013, pesquisas mostravam regress&atilde;o da fome no pa&iacute;s. A Pesquisa de Or&ccedil;amentos Familiares 2017-2018 do IBGE, no entanto, come&ccedil;ou a registrar o aumento da inseguran&ccedil;a alimentar.

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