<p>Arque&oacute;logos identificaram as primeiras ossadas humanas de pessoas escravizadas no antigo Cemit&eacute;rio do Campo da P&oacute;lvora, localizado no Centro de Salvador. O resultado da escava&ccedil;&atilde;o, foi apresentado nesta segunda-feira (26) ao Minist&eacute;rio P&uacute;blico da Bahia (MP-BA).&nbsp;</p>
<p>A descoberta&nbsp;<a href="https://aratuon.com.br/cidade/area-no-centro-de-salvador-pode-abrigar-cemiterio-de-escravizados">confirma que o local foi utilizado, ao longo de 150 anos</a>, para o sepultamento de ind&iacute;genas, criminosos, suicidas e levantes hist&oacute;ricos, como a Revolta dos Mal&ecirc;s.</p>
<p><img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/190d9234-b7d4-4094-8fbc-98acc9c5b9ca.png?width=1280&amp;height=768" alt="Foto: Divulga&ccedil;&atilde;o"></p>
<p>A descoberta aconteceu em setembro de 2024, quando surgiu a hip&oacute;tese de que o estacionamento do Complexo da Pupileira pudesse abrigar o maior cemit&eacute;rio de escravizados da Am&eacute;rica Latina. A confirma&ccedil;&atilde;o do local exato &eacute; considerada um marco que pode aprofundar os estudos sobre a hist&oacute;ria social do Brasil e ajudar na reconstru&ccedil;&atilde;o de uma mem&oacute;ria que foi apagada.</p>
<p>Desativado em 1844, o antigo cemit&eacute;rio da Santa Casa, primeiro cemit&eacute;rio p&uacute;blico de Salvador, desapareceu tanto da paisagem quanto da mem&oacute;ria da cidade, sofrendo um processo de apagamento hist&oacute;rico.</p>
<h3>Primeiras ossadas encontradas&nbsp;</h3>
<p>A <a href="https://aratuon.com.br/cidade/escavacao-para-investigar-cemiterio-na-pupileira-e-autorizada">escava&ccedil;&atilde;o no terreno, que j&aacute; abrigou um dos principais cemit&eacute;rios da capital baiana, durou dez dias.</a> A primeira interven&ccedil;&atilde;o teve dimens&otilde;es de 1x3 metros e a segunda, de 2x1 metros. Foi nesse espa&ccedil;o, a 2,5 metros de profundidade, que os arque&oacute;logos localizaram os primeiros vest&iacute;gios dos ossos largos e dentes humanos.</p>
<p>Devido &agrave; acidez e umidade do solo, o material encontrado estava extremamente fr&aacute;gil. Por se tratar de um patrim&ocirc;nio sens&iacute;vel, a equipe optou por n&atilde;o divulgar imagens das ossadas e iniciou um tratamento de conserva&ccedil;&atilde;o, respeitando o prazo limitado para a execu&ccedil;&atilde;o da pesquisa.</p>
<p><img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/a370bf1e-cb34-4a1d-b112-a25a6f97bad2.png?width=1280&amp;height=768" alt="Cemit&eacute;rio de escravos. Foto: Divulga&ccedil;&atilde;o"></p>
<p>O projeto, intitulado Levantamento Arqueol&oacute;gico na &Aacute;rea do Antigo Cemit&eacute;rio do Campo da P&oacute;lvora, foi financiado pela empresa Arque&oacute;logos (Cotias e Dias LTDA) e teve como base a pesquisa documental desenvolvida pela arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, doutoranda em Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).</p>
<p>O local, sob administra&ccedil;&atilde;o da Santa Casa de Miseric&oacute;rdia at&eacute; meados do s&eacute;culo XIX, era utilizado para o sepultamento, ou descarte, de pessoas marginalizadas pela sociedade: pobres, indigentes, n&atilde;o batizados, excomungados, suicidas, prostitutas, criminosos, rebeldes e escravizados.</p>
<p>Com a conclus&atilde;o desta etapa, os arque&oacute;logos iniciam agora a an&aacute;lise dos dados coletados em campo, cruzando com outras camadas de informa&ccedil;&atilde;o. O objetivo &eacute; compreender o processo de deposi&ccedil;&atilde;o dos corpos e, posteriormente, devolver &agrave; sociedade o debate sobre o destino do s&iacute;tio arqueol&oacute;gico.</p>
<h3>Cemit&eacute;rio de escravos - Pesquisa</h3>
<p>A localiza&ccedil;&atilde;o do cemit&eacute;rio, chamado "Cemit&eacute;rio do Campo da P&oacute;lvora", foi identificada durante uma pesquisa de doutorado realizada por Silvana Olivieri, pesquisadora no programa de p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufba.</p>
<p>Por meio de compara&ccedil;&otilde;es entre mapas antigos e fotos de sat&eacute;lite atuais, ela localizou o ponto exato do espa&ccedil;o, pr&oacute;ximo &agrave; entrada da Pupileira. Registros hist&oacute;ricos indicam que, al&eacute;m de escravizados, ind&iacute;genas, membros da comunidade cigana e pessoas sem recursos financeiros eram sepultadas neste cemit&eacute;rio. O n&uacute;mero de corpos enterrados na &aacute;rea ainda &eacute; desconhecido.</p>
<p><img src="https://adm.aratuon.com.br/assets/59853ca2-f4ad-43d5-9135-78f315e1c609.png?width=600&amp;height=360" alt="Descoberta foi apresentada &agrave; Santa Casa em setembro. | Foto: Silvana Olivieiri"></p>
<p>Em um dossi&ecirc;, Silvana levantou que os primeiros registros do uso de bangu&ecirc;s, uma esp&eacute;cie de maca para transportar cad&aacute;veres, pela Santa Casa de Miseric&oacute;rdia da Bahia, s&atilde;o de 1693. Para a pesquisadora, &eacute; poss&iacute;vel que a institui&ccedil;&atilde;o utilizasse esse instrumento para levar os corpos para sepultamento no cemit&eacute;rio do Campo da P&oacute;lvora.</p>
<p>Inicialmente, o cemit&eacute;rio foi administrado pela C&acirc;mara Municipal de Salvador e, depois, passou a ser responsabilidade da Santa Casa de Miseric&oacute;rdia da Bahia. Registros hist&oacute;ricos apontam que o local funcionou por cerca de 150 anos, at&eacute; 1844, quando foi substitu&iacute;do pelo Cemit&eacute;rio Campo Santo, no bairro da Federa&ccedil;&atilde;o.</p>
<p>"<em>Segundo o historiador Jo&atilde;o Jos&eacute; Reis, inicialmente o cemit&eacute;rio funcionou sob jurisdi&ccedil;&atilde;o da C&acirc;mara Municipal. V&aacute;rias posturas do come&ccedil;o do s&eacute;culo XVIII mencionam que servia para o sepultamento de 'negros pag&atilde;os', escravizados que n&atilde;o foram batizados no catolicismo, frequentemente abandonados na porta das igrejas, em terrenos baldios, matas e praias. A C&acirc;mara se preocupava em enterr&aacute;-los apenas para n&atilde;o causarem 'corrup&ccedil;&atilde;o dos ares' ou os 'c&atilde;es despeda&ccedil;arem os corpos como se tem achado v&aacute;rias vezes'. Os sepultamentos desses africanos eram feitos pelos respons&aacute;veis da limpeza p&uacute;blica, equivalendo a 'remo&ccedil;&atilde;o de lixo'</em>", escreveu ela.</p>
<p>Leia Mais: <a href="https://aratuon.com.br/cidade/escavacao-para-investigar-cemiterio-na-pupileira-e-autorizada">&Aacute;rea de 'cemit&eacute;rio de escravos' na Pupileira passar&aacute; por escava&ccedil;&atilde;o</a></p>
<p>&nbsp;</p>

<p style="text-align: justify;">Ap&oacute;s a Irmandade de Boa Morte,&nbsp;cuja sede &eacute; na cidade baiana de Cachoeira - recusar as homenagens, a escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro, anunciou, nesta segunda-feira (18/7), o&nbsp;cancelamento do enredo &quot;Avemaria Olorum - A Corte da Boa Morte&quot;, para o pr&oacute;ximo Carnaval.</p>

<p style="text-align: justify;">A recusa foi feita porque, segundo a irmandade, que &eacute; formada por mulheres negras descendentes de escravizados, a escola de samba carioca n&atilde;o teria consultadou membros da Boa Morte antes de divulgar o samba-enredo, com direito a clipe nas redes sociais, no &uacute;ltimo dia 6 de julho.</p>

<p style="text-align: justify;">A Unidos de Padre Miguel, por sua vez, informou que&nbsp;procurou a prefeita de Cachoeira, Eliana Gonzaga de Jesus (Republicanos), que teria sido receptiva &agrave; homenagem. Ela ainda teria se&nbsp;colocado &agrave; disposi&ccedil;&atilde;o para ajudar a levar a ideia do tema para as representantes da Irmandade.</p>

<p style="text-align: justify;">A escola de samba tamb&eacute;m pontuou que conseguiu contato com uma das matriarcas da Boa Morte, Irm&atilde; Zelita, com quem acertou a ida de uma comitiva da Unidos para apresentar&nbsp;o projeto.</p>

<p style="text-align: justify;">Em carta aberta, publicada nas redes sociais, a agremia&ccedil;&atilde;o disse que o objetivo principal era&nbsp;conseguir a &quot;&#39;ben&ccedil;&atilde;o&#39; das irm&atilde;s, visto que, por uma falha na comunica&ccedil;&atilde;o &#39;pedido&#39; n&atilde;o veio antes do lan&ccedil;amento&quot;.</p>

<p style="text-align: justify;">A Unidos de Padre Miguel alegou, ainda, que&nbsp;o enredo n&atilde;o era biogr&aacute;fico ou especificamente sobre a Irmandade, mas um projeto autoral elaborado pelos carnavalescos Edson Pereira e Wagner Gon&ccedil;alves, inspirado na bibliografia produzida por pesquisadores como Gustavo Falcon, e em &quot;Irm&atilde;s do Cajado&quot; de Sebasti&atilde;o H&eacute;ber Vieira Costa.</p>

<p style="text-align: justify;">&quot;Reiteramos o nosso intuito e a seriedade do nosso trabalho, e, em respeito &agrave; Irmandade e por entendermos que n&atilde;o faria sentido seguir com o projeto sem sua &#39;ben&ccedil;&atilde;o&#39;, a diretoria do Unidos de Padre Miguel optou em cancelar o enredo &#39;Avemaria Olorum - A Corte da Boa Morte&quot;.</p>

<p style="text-align: justify;">O grupo informou ainda que vai anunciar o novo tema nas pr&oacute;ximas semanas. &quot;E tenham certeza de que nosso projeto seguir&aacute; firme, ainda mais grandioso, potente, visceral e que nos orgulhar&aacute;&quot;, concluiu.</p>

<p style="text-align: justify;"><strong>VEJA ABAIXO</strong></p>

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