O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sergio da Rocha, presidir&aacute;, nesta segunda-feira (19/7), missa pelos 306 anos da morte da Madre Vit&oacute;ria da Encarna&ccedil;&atilde;o. A Celebra&ccedil;&atilde;o Eucar&iacute;stica acontecer&aacute;, &agrave;s 10h, no Convento Santa Clara do Desterro, onde a Serva de Deus passou os &uacute;ltimos anos de vida e teve vis&otilde;es de Jesus Cristo que, carregando uma cruz, a convidou para fazer o mesmo.

De acordo com a arquidiocese, a cidade de Salvador &eacute; tamb&eacute;m conhecida como a &ldquo;terra de todos os santos&rdquo;, por ter sido o local de nascimento ou de passagem de homens e mulheres que testemunharam, com as pr&oacute;prias vidas, a f&eacute; em Jesus Cristo. Entre eles est&aacute; a Serva de Deus Vit&oacute;ria da Encarna&ccedil;&atilde;o, religiosa cujo processo de canoniza&ccedil;&atilde;o foi instalado em 2019. A mais nova baiana rumo aos altares morreu com fama de santidade em 1715, na capital baiana.

A SERVA DE DEUS

Madre Vit&oacute;ria da Encarna&ccedil;&atilde;o nasceu em Salvador, em 6 de mar&ccedil;o de 1661, sendo batizada no mesmo ano, na antiga S&eacute; da Bahia. Filha de Bartolomeu Nabo Correia e Lu&iacute;sa Bixarxe, ela teve um irm&atilde;o e tr&ecirc;s irm&atilde;s. &nbsp;Em 1677, quando foi fundado o Convento Santa Clara do Desterro, sendo o seu pai muito devoto, quis que sua filha entrasse para a vida religiosa. Por&eacute;m, a menina, ent&atilde;o com 16 anos de idade, havia se tornado avessa &agrave; religi&atilde;o, chegando a dizer ao seu pai que preferia que lhe cortassem &agrave; cabe&ccedil;a do que ser levada para o convento.

Passaram-se alguns anos e Vit&oacute;ria come&ccedil;ou a ter frequentes sonhos com a M&atilde;e de Deus e seu Divino Filho. Neles, a Virgem lhe apresentava o Menino e chamava-a para a vida consagrada. Em outros momentos via o Menino Jesus a colher flores no caminho para o convento e a chamava para l&aacute;. Tais sonhos se repetiram in&uacute;meras vezes, por&eacute;m, Vit&oacute;ria n&atilde;o quis seguir o que a Virgem e o Menino pediam.

Numa terr&iacute;vel noite do ano de 1686, quando Vit&oacute;ria estava com 25 anos de idade, teve um sonho horrendo, no qual se via nos por&otilde;es sujos e cheios de lodo de uma grande embarca&ccedil;&atilde;o que navegava em alto mar. Viu neste sonho que estava acompanhada de pessoas impiedosas, que caminhavam para a perdi&ccedil;&atilde;o, enquanto que na parte de cima da embarca&ccedil;&atilde;o haviam muitos religiosos contentes, pois caminhavam para a salva&ccedil;&atilde;o. Seu Anjo da Guarda ent&atilde;o lhe explicava que os navegantes da parte superior eram os que faziam a vontade de Deus e estavam salvos, enquanto que os que estavam nos por&otilde;es, assim como ela, eram os que caminhavam para a perdi&ccedil;&atilde;o.&nbsp;

Ao acordar deste sonho aterrador, pensou em sua vida e tomou a firme decis&atilde;o de consagrar-se totalmente a Deus e passar a vida fazendo Sua santa vontade. Naquele mesmo ano, em 29 de setembro, dia de S&atilde;o Miguel Arcanjo, Vit&oacute;ria foi acolhida no noviciado das clarissas do Convento do Desterro da Bahia e, juntamente com ela, foi acolhida tamb&eacute;m a sua irm&atilde;, Maria da Concei&ccedil;&atilde;o. Recebeu neste dia o nome religioso de Vit&oacute;ria da Encarna&ccedil;&atilde;o. Conforme seu desejo, fez profiss&atilde;o solene em 21 de outubro de 1687. Mostrou-se grande em suas virtudes.&nbsp;

Desapegada de tudo o que &eacute; mundano, quis fazer-se a menor de todas e aquela que servia a todas. Dotada de imensa caridade para com os mais desvalidos, desejou viver como uma escrava a adotou para si o estilo de vida das servas que viviam no mosteiro. Fazia suas refei&ccedil;&otilde;es sentada no ch&atilde;o, como era costume entre os escravos da &eacute;poca; corria para fazer os trabalhos que ningu&eacute;m queria, e, por querer ser a menor de todas, foi diversas vezes ridicularizada e agredida pelas pr&oacute;prias escravas a quem ela tanto quis se fazer igual. Cuidava daquelas que adoeciam, levando-as para sua pr&oacute;pria cela e de l&aacute; s&oacute; saiam quando completamente curadas.&nbsp;

Viveu inteiramente dedicada aos pobres, doentes e desamparados que procuravam o mosteiro em busca de socorro. Quando exercia o cargo de porteira, grande quantidade de pessoas dirigia-se &agrave; portaria para pedir-lhe algum aux&iacute;lio. Atendeu a todos quantos podia, e, mesmo de dentro da clausura, recomendava aos parentes que cuidassem daqueles pobres e doentes de quem vinha a saber que estavam necessitados. Doou em vida tudo o que possu&iacute;a aos pobres, inclusive a cama na qual dormia, passando ent&atilde;o a dormir no ch&atilde;o sobre uma esteira de palha.&nbsp;

Dotada de dons m&iacute;sticos, se transfigurava quando fazia a via-sacra, todas as sextas-feiras do ano. Tinha tanto desejo de imitar ao Divino Esposo em seus sofrimentos, que castigava-se com cil&iacute;cios e disciplinas dur&iacute;ssimas, chegando a converter os pecadores que passavam pela via pr&oacute;xima ao convento e que ouviam o barulho daquelas chibatadas. Fazia rigorosos jejuns e quando comia algo que lhe agradava o paladar, misturava cinzas &agrave; comida para estragar o sabor.

Entre as virtudes apontadas, em relatos, sobre a Madre Vit&oacute;ria da Encarna&ccedil;&atilde;o, algumas se destacam. Uma delas era o dom que ela tinha de sonhar com as pessoas necessitadas e, em seguida, enviar ajuda. A Madre tamb&eacute;m era procurada quando as Irm&atilde;s do convento &ndash; enclausuradas &ndash; recorriam para encontrar objetos perdidos.

Amou tanto as almas do purgat&oacute;rio que sufragava-as diariamente com ora&ccedil;&otilde;es. Tinha o dom da revela&ccedil;&atilde;o e profecia. Era capaz de saber o local exato em que uma pessoa, tida por desaparecida, se encontrava, assim como de prever acontecimentos futuros. Tinha tamb&eacute;m a capacidade de encontrar objetos e animais desaparecidos. Passava a maior parte da noite em vig&iacute;lia diante do Sant&iacute;ssimo Sacramento e foi chamada, pelo seu bi&oacute;grafo, o arcebispo da Bahia, Dom Sebasti&atilde;o Monteiro da Vide, de &ldquo;tocha acesa diante do sacr&aacute;rio&rdquo;.

Madre Vit&oacute;ria faleceu numa sexta-feira, &agrave;s 15 horas, &nbsp;em 19 de julho de 1715. No momento de sua morte as religiosas disseram ter sentido uma maravilhosa fragr&acirc;ncia de rosas a inundar as depend&ecirc;ncias do mosteiro. Ao se espalhar a not&iacute;cia de sua morte, uma grande multid&atilde;o se aglomerou diante do convento. Logo toda a cidade ficou a saber, pois diziam ter morrido a &ldquo;santa da Bahia&rdquo;. Muitos levavam len&ccedil;os, medalhas, ter&ccedil;os e outros objetos e pediam que as religiosas os tocassem no corpo da &ldquo;santa&rdquo;. Esses objetos eram guardados por essas pessoas e eram tidos como verdadeiras rel&iacute;quias. In&uacute;meros foram os milagres narrados pelos devotos logo ap&oacute;s a sua morte. Sendo crescente o n&uacute;mero desses supostos milagres, o ent&atilde;o arcebispo da Bahia tratou de interrogar as religiosas do Desterro sobre a vida que teve a Madre Vit&oacute;ria. Em 1720, apenas cinco anos ap&oacute;s a sua morte, Dom Sebasti&atilde;o Monteiro da Vide publicou, em Roma, a biografia da &ldquo;santa da Bahia&rdquo; com o t&iacute;tulo &ldquo;Hist&oacute;ria da Vida e Morte da Madre S&oacute;ror Vict&oacute;ria da Encarna&ccedil;&atilde;o&rdquo;.

Os restos mortais da Madre Vit&oacute;ria da Encarna&ccedil;&atilde;o encontram-se na Igreja do Convento Santa Clara do Desterro, em Salvador, e est&atilde;o depositados acima de uma das portas que ligam o coro de baixo &agrave; nave do templo.

Em 7 de julho de 2019, a Congrega&ccedil;&atilde;o para a Causa dos Santos emitiu o decreto &ldquo;Nihil Obstat&rdquo;, autorizando a abertura da causa de beatifica&ccedil;&atilde;o da Madre Vit&oacute;ria, que passou a ser chamada, a partir de ent&atilde;o, de Serva de Deus Vit&oacute;ria da Encarna&ccedil;&atilde;o. Em 19 de novembro do mesmo ano, o ent&atilde;o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, presidiu a cerim&ocirc;nia de abertura do Processo de Beatifica&ccedil;&atilde;o e Canoniza&ccedil;&atilde;o, apresentando as Comiss&otilde;es que trabalhar&atilde;o no processo, bem como o postulador da Causa, Frei Jociel Gomes, OFMcap.

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