Quando chega setembro, chegam também os debates sobre saúde mental, bem-estar, autocuidado e cuidado com o outro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), na América Latina, o Brasil é o país com maior índice de depressão, além de ser o segundo com mais prevalência da doença nas Américas.
Os índices de ansiedade, há tempos, vêm chamando a atenção dos profissionais da área da saúde: o Brasil, também de acordo com a OMS, é o país com mais diagnósticos do transtorno no mundo. E com a pandemia, isso piorou: desde que a covid-19 surgiu, em 2020, houve um aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão. Uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas e da Vital Strategies mostrou que os casos diagnosticados de depressão subiram de 9,6%, antes da pandemia, para 13,5% em 2022.
Para entender mais sobre a necessidade e urgência de cuidar da saúde mental, o Aratu On conversou com o psicólogo Ciro Guedes, do Espaço Ligno. No momento, segundo o profissional, a questão mais relatada pelos pacientes é a ansiedade.
"A ansiedade, quando não é tratada, pode evoluir para a depressão. As principais queixas dos pacientes giram em torno de inseguranças, preocupações excessivas, dificuldades de concentração e insônia. E quando a gente vai pesquisar, faz a avaliação neuropsicológica, a gente percebe que, às vezes, o indivíduo tem uma cognitiva, como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Autismo, que gera a ansiedade como comorbidade", explica ele.
E, mesmo após o começo da vacinação e com o controle do coronavírus, a pandemia continua a deixar resquícios na vida - e na mente - dos brasileiros. "Muitos continuam enfrentando traumas, lutos, perdas financeiras e estresse pós-traumático. Ainda estamos nos adaptando a esse pós-pandemia".
SAÚDE DO CORPO
É comum acreditar que corpo e mente são organismos separados e que um não afeta o outro: não é porque a minha saúde mental está indo mal, que o meu corpo vai mal também. Segundo Ciro Guedes, essa conexão é real e muito mais forte do que muita gente imagina.
"A gente tem mania de separar a saúde mental da saúde física, mas não é assim que funciona. E a gente percebe isso nos problemas de saúde mental, como estresse, depressão, que podem levar a doenças como hipertensão, doenças cardíacas, e até mesmo à supressão do sistema imunológico do nosso corpo, nos expondo a infecções e doenças psicossomáticas".
INTERNET
Nos últimos meses, vídeos de adolescentes e jovens adultos expondo condições psiquiátricas e transtornos começaram a ganhar mais espaço nas redes sociais, especialmente no TikTok, plataforma voltada para os mais novos. Por lá, se encontra de tudo: depoimentos sobre Transtorno de Ansiedade, Autismo, Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), TDAH, Depressão, e muitos outros.
Para o psicólogo, isso é positivo, pois aponta um maior interesse dessa nova geração sobre temas que envolvem a saúde mental. "Eu vejo como resultado uma população que está buscando muito mais ajuda. E isso acontece porque as pessoas acabam recebendo mais informações sobre sintomas que elas não tinham ideia do que eram".
Mas, Ciro deixa um alerta: caso acredite que tenha um transtorno ou alguma condição psicológica ou psiquiátrica, não faça um autodiagnóstico e procure um profissional. Também é importante filtrar os conteúdos que você consome, como pontua o psicólogo: "Será que essas fontes realmente passam informação, ou causam pânico? É preciso ficar atento a isso".
Para marcar o começo do Setembro Amarelo, nos dias 4, 5, 6, 7 e 8 de setembro, a partir das 7h, o Bom Dia Bahia, programa da TV Aratu, vai exibir uma série de matérias sobre saúde mental e entrevistas com Ciro Guedes. No dia 11 de setembro, a partir das 19h30, o profissional também vai falar sobre o tema no Aratu Notícias.
ENTREVISTAS
Nesta segunda (4/9), Ciro Guedes falou sobre o Setembro Amarelo, com destaque para a importância em se promover a saúde mental no ambiente de trabalho. Confira a entrevista completa:
https://www.youtube.com/watch?v=y7Qexo73zRo&amp;feature=youtu.be
Na terça (5), o assunto do Bom Dia Bahia foi a importância de se ter acesso à psicoterapia no ambiente de trabalho. Assista:
[embed]https://www.youtube.com/watch?v=cNcbLnZB7XY[/embed]
Na quarta (6), o programa matinal da TV Aratu falou sobre como o excesso de trabalho, conhecido como Síndrome de Burnout, causa danos à saúde. Confira:
[embed]https://www.youtube.com/watch?v=Vk0XGzIUZ8M[/embed]
Na quinta-feira (7), o tema foi comunicação não-violenta no ambiente de trabalho e como essa prática contribui para a formação de um local mais saudável para todos. Veja a matéria na íntegra no Bom Dia Bahia:
[embed]https://www.youtube.com/watch?v=GJzAwryoHdk[/embed]
Na sexta (8), o Bom Dia Bahia mostrou como fazer elogios aos colegas de trabalho ajuda a manter um espaço mais produtivo e saudável para todos. Confira a reportagem:
[embed]https://www.youtube.com/watch?v=e-V-flbUajo[/embed]

LEIA MAIS: <a href="https://aratuon.com.br/saude/2023-09-01/tecnologia-para-tratar-cancer-de-pele-e-aprovada-para-uso-no-sus/">Tecnologia para tratar câncer de pele é aprovada para uso no SUS</a>
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J&aacute; come&ccedil;ou o Setembro Amarelo. Criado pela Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Psiquiatria (ABP) em 2014, o Setembro Amarelo &eacute; uma campanha nacional que promove centenas de debates e a&ccedil;&otilde;es relacionadas &agrave; preven&ccedil;&atilde;o ao suic&iacute;dio, contra o estigma e a favor do acolhimento. O m&ecirc;s foi escolhido porque, no dia 10, acontece o Dia Mundial de Preven&ccedil;&atilde;o ao Suic&iacute;dio, com iniciativas relacionadas ao tema em todo o mundo.

No Brasil, de acordo com os dados mais recentes da Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial da Sa&uacute;de (OMS), de 2019, s&atilde;o notificados cerca de 14 mil suic&iacute;dios por ano, ou seja, 38 por dia. No mundo, houve&nbsp;700 mil v&iacute;timas em 2019. E, enquanto os n&uacute;meros caem em todos os continentes, aumentam nas Am&eacute;ricas. Por isso, como explica o psic&oacute;logo e neuropsic&oacute;logo Ciro Guedes, &eacute; preciso agir - e r&aacute;pido.

&ldquo;&Eacute; um m&ecirc;s em que a gente vai pensar sobre o suic&iacute;dio, sobre a depress&atilde;o. &Eacute; nesse momento que a gente tem que quebrar esse tabu sobre o&nbsp;assunto. H&aacute; uma cren&ccedil;a na sociedade que, ao falar sobre esse assunto, as coisas v&atilde;o piorar, mas&nbsp;eu acredito que n&atilde;o. Acredito que, quando a gente fala, a gente leva informa&ccedil;&atilde;o para as pessoas que est&atilde;o precisando, e a gente promove uma qualidade de sa&uacute;de mental e de vida para a nossa sociedade&rdquo;.

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PANDEMIA

Segundo informa&ccedil;&otilde;es da Secretaria de Sa&uacute;de da Bahia (Sesab), de janeiro at&eacute; junho deste ano, foram notificados 379 casos de suic&iacute;dio no estado - uma m&eacute;dia de dois casos por dia -. A&nbsp;faixa et&aacute;ria mais atingida &eacute; a de 30 a 49 anos.

A pandemia de Covid-19, que estourou no Brasil em mar&ccedil;o de 2020, contribuiu, como explica Ciro, para o aumento de diagn&oacute;sticos de depress&atilde;o e ansiedade, o que interfere diretamente no n&uacute;mero de casos de suic&iacute;dio: de acordo com a OMS, quase 100% de todos os casos est&atilde;o ligados a doen&ccedil;as mentais.

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&ldquo;A pandemia mudou o contexto da maioria das pessoas. Algumas pessoas se adaptaram, e outras, n&atilde;o. Essas que n&atilde;o conseguiram se adaptar, que &eacute; uma quest&atilde;o de inflexibilidade cognitiva, acabaram tendo a ansiedade e a depress&atilde;o potencializadas. A pandemia deu uma afrouxada, mas, essas pessoas continuam com os sintomas, e a gente precisa cuidar delas, acolher esse p&uacute;blico que foi mais afetado&rdquo;.

E os n&uacute;meros da Bahia confirmam essa informa&ccedil;&atilde;o: de 2019, antes da pandemia come&ccedil;ar, at&eacute; 2021, os registros de suic&iacute;dio subiram: nesses tr&ecirc;s anos, os casos foram de 698 em 2019 para 740 em 2020, para terminar com 783 em 2021. Por isso, como explica o psic&oacute;logo, perceber os sinais, quando eles existem, pode salvar vidas:

&ldquo;A fam&iacute;lia tem que prestar aten&ccedil;&atilde;o no comportamento desse indiv&iacute;duo, que pode ser um adolescente, pode ser um adulto. O comportamento muda: a pessoa come&ccedil;a a ficar mais calada, silenciosa. E, quando ela diz algo, &eacute; no sentido de: &lsquo;Eu queria desistir de tudo, nada mais me alegra&rsquo;. A pessoa come&ccedil;a a ter pensamentos depreciativos de si e da pr&oacute;pria exist&ecirc;ncia. Esses s&atilde;o os primeiros sinais. Quem est&aacute; observando, pode come&ccedil;ar a ficar atento e se aproximar mais dessa pessoa&rdquo;.

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AJUDA

Se perceber os sinais, vindos de voc&ecirc; mesmo ou de algu&eacute;m pr&oacute;ximo, &eacute; importante n&atilde;o minimiz&aacute;-los e procurar ajuda de pronto. &ldquo;A melhor coisa &eacute; procurar um profissional. E, enquanto procura um profissional, evitar um comportamento que acaba piorando essa situa&ccedil;&atilde;o, que &eacute;: &lsquo;Ah, isso &eacute; frescura, isso &eacute; besteira, isso &eacute; falta de Deus&rsquo;. Esses coment&aacute;rios acabam potencializando a dor que aquele adolescente, aquele adulto, pode estar passando&rdquo;.

O N&uacute;cleo de Estudo e Preven&ccedil;&atilde;o do Suic&iacute;dio (Neps), uma iniciativa p&uacute;blica, vai realizar um evento sobre preven&ccedil;&atilde;o e conscientiza&ccedil;&atilde;o no dia 14 de setembro. Se precisar de ajuda com urg&ecirc;ncia, ligue para o 188 - Centro de Valoriza&ccedil;&atilde;o da Vida, com atendimentos 24 horas por dia.

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