Refugiados afeg&atilde;os que estavam acampados no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em S&atilde;o Paulo, foram levados, na noite dessa sexta-feira (16/9), para alojamentos da prefeitura da capital. Tr&ecirc;s &ocirc;nibus, disponibilizados pelo governo estadual, deslocaram 93 pessoas para o abrigo. Desse total, 34 s&atilde;o crian&ccedil;as e adolescentes. Eles foram acolhidos no hotel Centro de Acolhida Especial para Fam&iacute;lias, na zona leste paulistana. O local tem capacidade para 200 pessoas.

O fluxo migrat&oacute;rio se deve &agrave; ascens&atilde;o ao poder do Talib&atilde;, grupo religioso fundamentalista. De acordo com a Pol&iacute;cia Federal, chegaram ao Brasil pelo Aeroporto de Guarulhos 407 afeg&atilde;os, em julho, 292, em agosto, e 459, em setembro, at&eacute; o dia 14. Em setembro de 2021, entraram no pa&iacute;s 12 afeg&atilde;os e, em outubro, 57. &ldquo;Com pouco ou nenhum conhecimento de portugu&ecirc;s e sem condi&ccedil;&otilde;es financeiras, parte deles viu-se obrigada a se alojar no pr&oacute;prio aeroporto&rdquo;, informou o Minist&eacute;rio P&uacute;blico Federal (MPF).

VISTO HUMANIT&Aacute;RIO

Em setembro do ano passado, os minist&eacute;rios das Rela&ccedil;&otilde;es Exteriores e da Justi&ccedil;a editaram uma portaria para facilitar a concess&atilde;o de visto humanit&aacute;rio &agrave;s pessoas que v&ecirc;m do Afeganist&atilde;o. Segundo o Itamaraty, foram autorizados 6,1 mil vistos a partir dessa nova pol&iacute;tica. A concess&atilde;o dos vistos tempor&aacute;rios se deve &agrave; grave crise humanit&aacute;ria e de viola&ccedil;&atilde;o de direitos humanos enfrentada pelo seu pa&iacute;s de origem.

&ldquo;A acolhida n&atilde;o pode se resumir na emiss&atilde;o de vistos humanit&aacute;rios. &Eacute; dever do Estado brasileiro, nos tr&ecirc;s n&iacute;veis da federa&ccedil;&atilde;o, empreender todos os esfor&ccedil;os para o cumprimento das garantias constitucionais e de tratados internacionais dos quais o Brasil &eacute; signat&aacute;rio, que garantam meios dignos de acolhimento e posterior integra&ccedil;&atilde;o &agrave; sociedade brasileira&rdquo;, destacou, em nota, o procurador da Rep&uacute;blica Guilherme G&ouml;pfert.

ACOLHIDA EM HOTEIS

O hotel na zona leste que receber&aacute; os afeg&atilde;os ser&aacute; administrado pela Comunidade Educacional de Base S&iacute;tio Pinheirinho, com um custo de cerca de R$ 187 mil por m&ecirc;s. O governo paulista aportou R$ 50 milh&otilde;es ao munic&iacute;pio para amplia&ccedil;&atilde;o de vagas de acolhimento em hot&eacute;is. A nova unidade, aberta ontem, utilizar&aacute; aproximadamente R$ 3 milh&otilde;es na adequa&ccedil;&atilde;o e custeio.&nbsp;

A prefeitura informou tamb&eacute;m que cinco afeg&atilde;os que j&aacute; compreendem a l&iacute;ngua portuguesa ser&atilde;o transferidos do Clube Municipal Vila Independ&ecirc;ncia para o hotel para auxiliar os novos acolhidos. Ao todo, 221 migrantes est&atilde;o abrigados na cidade de S&atilde;o Paulo, incluindo as fam&iacute;lias encaminhadas ao novo hotel.&nbsp;

A Secretaria Municipal de Assist&ecirc;ncia e Desenvolvimento Social (SMADS) mant&eacute;m 19 hot&eacute;is voltados para o acolhimento de fam&iacute;lias e idosos que vivem em situa&ccedil;&atilde;o de rua na capital paulista, com 1.949 vagas.

TALIB&Atilde;

Faz um ano que os Estados Unidos retiraram as tropas do Afeganist&atilde;o depois de 20 anos de ocupa&ccedil;&atilde;o. Na ocasi&atilde;o, o presidente afeg&atilde;o, Ashraf Ghani, deixou o pa&iacute;s, e o controle do pal&aacute;cio presidencial foi assumido pelos talib&atilde;s.

O Talib&atilde; se tornou conhecido como um grupo religioso fundamentalista na primeira metade da d&eacute;cada de 1990 e foi organizado por rebeldes que haviam recebido apoio dos Estados Unidos e do Paquist&atilde;o para combater a presen&ccedil;a sovi&eacute;tica no Afeganist&atilde;o, que durou de 1979 a 1989, em meio &agrave; Guerra Fria. A chegada ao poder foi consolidada em 1996, com a tomada da capital, Cabul.

Uma vez no controle do governo, o Talib&atilde; promoveu execu&ccedil;&otilde;es de advers&aacute;rios e aplicou sua interpreta&ccedil;&atilde;o da Sharia, a lei isl&acirc;mica. Um violento sistema judicial foi implantado: pessoas acusadas de adult&eacute;rio podiam ser condenadas &agrave; morte e suspeitos de roubo sofriam puni&ccedil;&otilde;es f&iacute;sicas e at&eacute; mesmo mutila&ccedil;&otilde;es. O uso de barba se tornou obrigat&oacute;rio para os homens, e as mulheres n&atilde;o podiam ser vistas publicamente desacompanhadas dos maridos. Al&eacute;m disso, elas precisavam vestir a burca, cobrindo todo o corpo. Televis&atilde;o, m&uacute;sica e cinema foram proibidos, e as meninas n&atilde;o podiam frequentar a escola.

A ocupa&ccedil;&atilde;o americana foi uma rea&ccedil;&atilde;o aos ataques &agrave;s torres g&ecirc;meas do World Trade Center, arranha-c&eacute;us situados em Nova York. Dois avi&otilde;es atingiram os edif&iacute;cios em 11 de setembro de 2001, levando-os ao ch&atilde;o e causando quase 3 mil mortes. Os Estados Unidos acusaram o Talib&atilde; de dar abrigo ao grupo terrorista Al Qaeda, que assumiu a autoria do atentado. Em outubro de 2001, tiveram in&iacute;cio as opera&ccedil;&otilde;es militares no Afeganist&atilde;o.

Os radicais, entretanto, conseguiram retomar o controle do pa&iacute;s no ano passado, implantando um novo governo fundamentalista.&nbsp;

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