Refrigerantes ‘zero’ podem causar mais danos ao fígado do que os com açúcar
Os pesquisadores destacaram ainda que apenas os refrigerantes "zero" mostraram relação com mortes por doenças hepáticas
Por Bruna Castelo Branco.
Um estudo apresentado durante o congresso europeu UEG Week 2025, dedicado à gastroenterologia, apontou que bebidas adoçadas artificialmente — as chamadas versões “diet” ou “zero” — podem ser mais prejudiciais ao fígado do que aquelas com açúcar comum.
Dados recentes, inclusive, de sociedades médicas e entidades especializadas apontam que a obesidade vem avançando de forma significativa no Brasil. Segundo o Mapa da Obesidade da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), a prevalência de obesidade no país cresceu 72 % entre 2006 e 2019, passando de 11,8 % para 20,3 %.
A pesquisa acompanhou, por cerca de dez anos, mais de 123 mil participantes do banco de dados britânico UK Biobank, todos sem histórico prévio de doenças hepáticas. Os cientistas avaliaram o consumo de dois tipos de bebidas: as adoçadas com açúcar e as adoçadas artificialmente.
Os resultados mostraram que indivíduos que consumiam mais de 250 gramas de bebidas adoçadas artificialmente por dia — o equivalente a uma lata — apresentaram risco 60% maior de desenvolver doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica, condição que pode evoluir para cirrose e câncer de fígado.
Entre os consumidores de bebidas açucaradas, o aumento do risco foi de aproximadamente 50%. No período analisado, 1.178 participantes desenvolveram a doença hepática gordurosa, e 108 morreram por causas relacionadas ao fígado.
Os pesquisadores destacaram ainda que apenas as bebidas "zero" mostraram relação com mortes por doenças hepáticas, um dado que surpreendeu a equipe. Ambos os tipos de bebida, no entanto, contribuíram para o acúmulo de gordura no fígado.
Ao simular o impacto da substituição dos refrigerantes por água, o risco de desenvolver a doença caiu 12,8% no caso das bebidas com açúcar e 15,2% nas versões diet. Trocar uma pela outra, porém, não trouxe benefício significativo.
Segundo os autores, os adoçantes artificiais podem afetar mecanismos metabólicos e o equilíbrio da microbiota intestinal, o que explicaria os potenciais efeitos negativos mesmo na ausência de açúcar.
“Esses achados desafiam a percepção de que as versões ‘sem açúcar’ são automaticamente mais seguras. É necessário cautela e novos estudos para entender os efeitos metabólicos dos adoçantes artificiais”, concluíram os pesquisadores.
Obesidade e canetas emagrecedoras
A preocupação com a obesidade vem levando brasileiros a buscar, cada vez mais, as chamadas "canetas emagrecedoras". Nas últimas semanas, as buscas por "Mounjaro", caneta injetável para obesidade e diabetes tipo 2 da Eli Lilly, praticamente se igualam às buscas por "dieta". O Monjuaro, porém, tem um custo alto para a maioria das pessoas que precisam do medicamento.
O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde mostra que, entre as pessoas de 45 a 59 anos, 36,1% já apresentam obesidade, com maior incidência entre aqueles com até quatro anos de escolaridade.
Outro dado alarmante: conforme estudo da Fiocruz Brasília, se as tendências atuais persistirem, quase metade dos adultos brasileiros (48 %) poderá ter obesidade até 2044, e mais 27% viverão com sobrepeso — totalizando cerca de 75 % da população adulta do país nesse cenário.
Conforme a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), já hoje mais de 50% dos homens e cerca de 45 % das mulheres estão acima do peso ideal.
E de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/2020), cerca de 60,3% dos adultos brasileiros apresentam excesso de peso (o que representa cerca de 96 milhões de pessoas) e 25,9% sofrem de obesidade (cerca de 41,2 milhões).
Esses números demonstram que a obesidade não é apenas uma questão estética, mas um desafio vigente para os sistemas de saúde brasileiros — especialmente porque está associada a complicações crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e disfunções metabólicas.
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