Saúde

Sono e saúde feminina: noites mal dormidas podem contribuir para infertilidade, diz especialista

Nos últimos anos, estudiosos levantaram a suspeita de que a melatonina estaria relacionada ao amadurecimento do folículo ovariano

Por Flávia Alexandre

Sono e saúde feminina: noites mal dormidas podem contribuir para infertilidade, diz especialistaCréditos da foto: ilustrativa/ I Stock

Uma boa noite de sono traz diversos benefícios à saúde, como redução de estresse, aumento de memória, raciocínio mais rápido e rejuvenescimento da pele. A melatonina, conhecida como "hormônio do sono", é produzido principalmente no cérebro, através da glândula pineal e afeta as funções cerebrais, imunológicas, gastrointestinais, cardiovasculares, renais, ósseas e endócrinas e atua como uma molécula oncos tática e antienvelhecimento.


Mas o que muitos não sabem é que esse hormônio é um forte aliado da saúde feminina, já que ele também atua na regulação de uma variedade de ações centrais e periféricas bastante importantes, e tem relação com a reprodução e a regulação do organismo entre o dia e a noite [ritmos circadianos].


Pesquisas realizadas na última década sobre Síndrome do Ovário Policístico (SOP), fertilidade e muitas outras condições, combinadas com a pandemia de Covid-19, levaram a uma maior conscientização sobre a melatonina devido a sua capacidade de atuar como um potente antioxidante, agente imunoativo e regulador mitocondrial, conforme explica o ginecologista Jorge Valente.


"Existe um grande vínculo entre a falta ou insuficiência desse hormônio com a infertilidade e, também, em relação às doenças estrógeno-dependentes (aquelas que se mantêm ativas durante a idade fértil da mulher) como a SOP, Falência Ovariana Prematura (FOP) e endometriose", destaca o ginecologista.


A luz é uma inibidora da produção de melatonina, enquanto o escuro é um estimulador. Sendo assim, dormir bem e em condições adequadas e pelo tempo necessário para cada indivíduo – em média de 6h a 9h – promove mais do que o descanso físico e da mente, reduz a chance do desenvolvimento de diversos problemas de saúde, entre eles a infertilidade.


INFERTILIDADE 


Nos últimos anos, estudiosos levantaram a suspeita de que a melatonina estaria relacionada ao amadurecimento do folículo ovariano [unidades funcionais dos ovários que armazenam os óvulos e conseguem se desenvolver e liberá-los]. Essa hipótese surgiu do fato de que há três vezes mais melatonina no líquido que envolve o ovário do que na circulação sanguínea. Além disso, as células foliculares possuem receptores do hormônio. Pesquisadores de diversas instituições também indicaram que a melatonina tem uma participação importante na regulação do crescimento folicular.


DOENÇAS ESTRÓGENO-DEPENDENTES


Mulheres que tenham SOP, FOP e endometriose precisam de ação anti-inflamatória e estudos apontam que a melatonina tem um papel fundamental nesse processo porque, de acordo com Dr. Jorge Valente, o hormônio também influencia na produção de hormônios sexuais que possuem importantes papéis no crescimento e diferenciação de células ovarianas, podendo diminuir ou aumentar suas concentrações.


Já a ação antioxidante da melatonina ajuda na proteção embrionária, melhora a qualidade do endométrio, a qualidade do óvulo, diminui sensibilidade à insulina, melhora a dor no caso da endometriose, alivia os sintomas das tensões pré-menstrual, favorece a qualidade do sono, o humor, aumentando a qualidade de vida da mulher.


"Ou seja, quando não temos um ciclo de atividades e sono funcionando de maneira adequada, desregulamos o nosso ritmo circadiano (ritmo em que o organismo realiza suas funções ao longo de um dia), afetando não só a nossa disposição (sono quando deveríamos estar despertos e acordados quando deveríamos dormir), mas principalmente toda como nosso organismo trabalha", ressalta o ginecologista.


O médico lembra ainda que indivíduos que possuem um estilo de vida saudável, com adoção de uma dieta equilibrada e prática regular de exercícios tendem a dormir melhor e, consequentemente, ter mais saúde e qualidade de vida. "Importante também destacar que a suplementação deste hormônio deve ocorrer apenas se houver indicação médica e após uma avaliação clínica individualizada", pondera Jorge Valente.


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