Estudo baiano destaca desigualdades na mortalidade infantil: risco é maior entre crianças pretas
Quando se avaliam causas acidentais, o estudo indica que crianças filhas de mães pretas têm 37% mais riscos de morrer do que as de mães brancas.
Estudo liderado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia (Fiocruz Bahia) ressalta desigualdades profundas na mortalidade infantil no Brasil. A pesquisa, revela que as crianças indígenas têm 14 vezes mais chances de morrer de diarreia. O risco é 72% maior entre crianças pretas quando comparado com as chances das nascidas de mães brancas.
De janeiro a agosto de 2019, 16 crianças indígenas de Alto do Rio Purus, no Acre, morreram de diarreia – a mais nova tinha um mês de vida. De acordo com a Fiocruz Bahia, a ciência mostra que esta não é uma crise rápida, mas uma condição crônica decorrente das condições de vida e saúde das crianças indígenas brasileiras.
Da mesma forma que ocorre com os idosos, as crianças menores de cinco anos são mais suscetíveis aos riscos decorrentes do lugar em que vivem, da qualidade da água, da falta de acesso a saneamento básico e a serviços de saúde e da escolaridade, entre outros fatores.
SISTEMAS
A pesquisa verificou também que as causas mais associadas à morte de crianças menores de cinco anos são diarreia, má nutrição e pneumonia. Se a diarreia afeta 14 vezes mais a vida das crianças indígenas, a má nutrição chega a 16 vezes e a pneumonia, a sete. Entre as mulheres pretas, também há risco de perda dos filhos por essas causas.
Os riscos foram quantificados em 72% (diarreias), 78% (pneumonia) e duas vezes mais (má nutrição), em comparação com os de crianças nascidas de mães brancas. Quando se avaliam causas acidentais, o estudo indica que crianças filhas de mães pretas têm 37% mais riscos de morrer do que as de mães brancas. Entre os indígenas, o risco aumenta para 74%.
MÃES
Avaliando o status de relacionamento das mães, verificou-se que 52% das pretas eram solteiras, contra 43% das indígenas, 45% das pardas e 36% das brancas. Além de vivenciarem mais a maternidade sozinhas, elas integram uma fatia importante das que têm quatro filhos, ou seja, três filhos vivos na hora do parto, mais o que está nascendo. Esse grupo é liderado pelas indígenas, que têm mais filhos: elas são 34%, as pretas, 14%, as pardas, 12%, e as brancas, 6%.
Segundo a pesquisa da Fiocruz Bahia, um fator importante para a sobrevivência de mães e crianças é que realizem pelo menos seis consultas de pré-natal. O grupo que menos esteve sob esses cuidados de saúde foi o das mães indígenas, das quais quase um terço (29%) fez metade do recomendado pelas organizações de saúde. A proporção entre pretas e pardas foi igual (11%) e, entre as brancas, de 5%.
O estudo reforça o que já foi documentado em outras pesquisas: as desigualdades raciais das barreiras de acesso aos serviços de saúde materna e as graves consequências para a saúde materno-infantil.
A pesquisa evidencia que, no Brasil, mães negras, pardas ou pretas e indígenas vivem em condições desfavoráveis, têm menos escolaridade, menor frequência ou início tardio do pré-natal e residem mais longe dos serviços de saúde durante o parto. Tais circunstâncias de vida geram maior risco de desfechos negativos, como baixo peso ao nascer, nascer pequeno para a idade gestacional, prematuridade e aumento da incidência de doenças evitáveis, o que eleva o risco de mortalidade infantil.
PREMATURIDADE
A prematuridade também é fator prevalente entre as crianças indígenas e está presente em 15% dos nascimentos. Isso significa que, para cada dez bebês, mais de um nasceu antes do tempo, o que afeta diretamente o seu desenvolvimento. Esses bebês indígenas nasceram com menos de 2,5 quilos em 90% dos casos, atesta a pesquisa.
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