Como funciona a lista de espera por um transplante de órgão no Brasil? Aratu On Explica
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 65 mil pessoas estão na lista de transplante de órgãos no país
Internado com quadro de insuficiência cardíaca em São Paulo, o apresentador Fausto Silva, de 73 anos, entrou na "fila" de transplante de órgãos, que é gerenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para receber um novo coração. Com a notícia, surgiram algumas dúvidas relacionadas ao procedimento, e é sobre isso que o Aratu On Explica desta quinta-feira (24/8) vai tratar nas próximas linhas.
A insuficiência cardíaca é a "via final de adoecimento do coração, quando a força do bombeamento está reduzida", segundo explica o médico cardiologista Luiz Ritt, vice-presidente da regional baiana da Sociedade Brasileira de Cardiologia e coordenador do programa de Insuficência Cardíaca do Hospital Cardiopulmonar, em Salvador.
Ela pode ocorrer por vários motivos, como pressão alta, lesão causada por infarto, problema de válvula e até genética, condição chamada de cardiomiopatia. Já os sintomas, de acordo com Ritt, incluem cansaço, falta de ar e inchaço nas pernas - às vezes até em repouso.
"Os tratamentos evoluíram muito, com medicações e marcapassos específicos. Mas quando se usa tudo isso e, mesmo assim, o paciente continua com os sintomas, o transplante passa a ser uma opção", pontua o cardiologista.
TRANSPLANTES NA BAHIA
Então, após passar por avaliações e checar se não há contraindicações, um médico deve cadastrar o paciente na lista de transplantes. Cabe ressaltar que as listas são únicas e estaduais, definidas pela Central de Transplantes da secretaria de saúde de cada estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
A Bahia realizava transplantes de coração, mas o serviço está suspenso desde janeiro de 2022, por um "reflexo da pandemia". Ao Aratu On, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) informou que a previsão é de que o procedimento seja retomado até outubro deste ano, no Hospital Ana Nery, em Salvador.
Atualmente, um paciente que precisa de transplante cardíaco na Bahia é encaminhado para outro estado. Nesses casos, o deslocamento e a estadia são custeados pela Sesab, porque o Brasil possui um programa público de transplantes de órgãos, tecidos e células (o maior do mundo), garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A rede pública de saúde fornece aos pacientes assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.
CENÁRIO NACIONAL
Em números absolutos, o país é o segundo maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (EUA). Porém, apesar do grande volume de procedimentos de transplantes realizados, a quantidade de pessoas em lista de espera para receber um órgão ainda é grande.
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 65 mil pessoas estão na "fila" de transplante de órgãos no país. Dessas, 386 aguardam por um coração, assim como Faustão, conforme dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) da última quarta-feira (16/8).
É preciso pontuar, no entanto, que o termo "fila" não é o mais adequado, visto que se trata de uma lista cuja prioridade do transplante varia de acordo com alguns critérios. A ordem de chegada é o primeiro deles, mas é possível que alguém que entrou agora na lista seja transplantado antes de outra pessoa que está aguardando há mais tempo, por exemplo, a depender da gravidade do paciente.
LISTA DE ESPERA
Para entrar na lista de espera de transplante, o médico do paciente precisa cadastrá-lo na lista única. Os receptores (pacientes que estão na fila) são separados de acordo com as necessidades e conforme o órgão que necessita, tipos sanguíneos e outras especificações técnicas.
Esse sistema de lista única tem ordem cronológica de inscrição, sendo os receptores selecionados desse modo, em função da gravidade ou compatibilidade sanguínea e genética com o doador. Porém, a distribuição de órgãos depende de outros critérios além do tempo na fila, que variam de acordo com o órgão a ser transplantado e suas devidas necessidades.
Os critérios de desempate são diferentes de acordo com o tipo de órgão ou tecido, e a gravidade é motivo de priorização ou de atribuição de situação especial. Vale destacar que crianças têm prioridade quando o doador é criança ou quando estão concorrendo com adultos.
E QUEM SÃO OS DOADORES?
Existem dois tipos de doadores: o falecido, paciente com morte encefálica, geralmente vítima de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral), e o vivo. Neste caso, pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde. É possível doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores, caso compatíveis.
Se você tem vontade de ser doador post mortem, o primeiro passo é avisar sobre sua escolha aos seus familiares, pois não há, pela legislação brasileira, como garantir efetivamente a vontade do doador. Contudo, de acordo com o Ministério da Saúde, observa-se que, na maioria dos casos, quando a família tem conhecimento, o desejo é respeitado.
Após autorização da doação, será realizada coleta de sangue, para análise da presença de anticorpos do HIV, hepatite B e C, HTLV, sífilis, doença de Chagas, citomegalovírus e toxoplasmose, além dos exames gerais de avaliação do fígado e rins principalmente. Depois de realizadas todas as avaliações, o doador é encaminhado para a cirurgia de retirada de órgãos.
CAPTAÇÃO DOS ÓRGÃOS
A Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (Central de Transplantes) é notificada e repassa a informação para uma Organização de Procura de Órgão (OPO) da região. A OPO se dirige ao hospital e examina o doador, revendo a história clínica, os antecedentes médicos e os exames laboratoriais. A viabilidade dos órgãos é avaliada, bem como a sorologia para afastar doenças infecciosas e a compatibilidade com prováveis receptores.
A OPO informa a Central de Transplantes, que emite uma lista de receptores inscritos, compatíveis com o doador. No caso de transplante de rins, deve-se fazer ainda uma nova seleção por compatibilidade imunológica ou histológica. A central, então, informa a equipe de transplante e o paciente receptor nomeado. Cabe à equipe médica decidir sobre a utilização ou não do órgão.
TEMPO DE ISQUEMIA
Embora todo transplante seja complexo, a logística de um transplante cardíaco, assim como de pulmão, também é mais complicada, de acordo com Luiz Ritt. "Você tem seis horas, entre o coração ser retirado e estar batendo no receptor. É preciso de uma equipe fazendo a retirada, para o transporte e outra pronta para colocar no receptor", diz. Esse tempo que o órgão tem até ser transplantado é chamado de "tempo de isquemia".
PÓS-OPERATÓRIO
No pós-operatório, pode haver rejeição ao órgão. Mas, segundo o cardiologista Luiz Ritt, os protocolos são muito bem elaborados, atualmente, além da utilização de medicação imunosupressora, e as taxas de rejeição caíram muito.
"Quando o coracao é retirado do doador e vai para o receptor, tem que ser acondicionado de uma forma que não sofra, para não ter necrose e/ou perda de células e músculo cardíaco. A cirurgia tem que ser muito bem feita", conclui.
*Com informações da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e do Ministério da Saúde.
https://youtu.be/66EcMpcCsAo
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