Lula faz 80 anos e se torna o primeiro presidente octogenário do Brasil
Lula completa idade recorde no cargo e mantém planos de disputar novo mandato
Por Matheus Caldas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) completa 80 anos nesta segunda-feira, tornando-se o primeiro chefe do Executivo brasileiro a atingir essa idade enquanto exerce o mandato.
Durante viagem à Indonésia, na última quinta-feira (23), Lula antecipou as comemorações e voltou a afirmar que pretende disputar um quarto mandato em 2026. “Eu vou completar 80 anos, mas pode ter certeza que eu estou com a mesma energia de quando eu tinha 30 anos de idade. E vou disputar um quarto mandato no Brasil”, declarou o presidente.
Lula sempre condicionou uma nova candidatura à sua condição de saúde. Em setembro, afirmou que “80 anos de idade é o tempo da maturidade máxima do ser humano”.
No aniversário anterior, aos 79 anos, ele já havia se tornado o presidente mais velho em exercício na história do país. Até então, empatava com Michel Temer (MDB), que deixou o Planalto em 2018 aos 78 anos.
Outros ex-presidentes concluíram seus mandatos na casa dos 70, como Getúlio Vargas (72), Ernesto Geisel (71) e Fernando Henrique Cardoso (71).
Lula se encontrou neste domingo (26) com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e brincou sobre o aniversário. "Eu acho que ele pode comer um pedacinho de bolo", disse o petista em fala à imprensa neste sábado (25).

“Feito” e “sintoma”
Para o cientista político e professor de sociologia Rogério Baptistini (Universidade Presbiteriana Mackenzie), a longevidade de Lula é, ao mesmo tempo, um feito e um sintoma. “É o feito de quem sobreviveu às forças que tradicionalmente destroem as lideranças populares no Brasil — a elite econômica, a máquina judicial e o conservadorismo político”, afirma, em entrevista à CNN Brasil.
“Mas também é sintoma de um país que não consegue renovar seu campo progressista, dependendo reiteradamente do mesmo personagem", acrescenta.
Segundo Baptistini, chegar aos 80 anos no poder simboliza a força de “uma biografia única”. “Mas revela também a ausência de um projeto de modernização política capaz de ir além do carisma individual. Lula é, em certo sentido, o herói e o limite da própria história que o produziu”, completa.
Pesquisas e cenário político para Lula
Pesquisa Genial/Quaest divulgada no início do mês aponta que 56% dos eleitores acreditam que Lula não deve concorrer novamente, enquanto 42% são favoráveis e 2% não souberam ou não responderam.
Entre os que rejeitam a candidatura, 97% são apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); 89% pertencem à direita “não bolsonarista”; e 66% se declaram independentes.
Já entre os lulistas, 96% defendem a reeleição; na esquerda “não lulista”, o apoio é de 75%.
A aprovação do governo mostra leve melhora: 48% aprovam e 49% desaprovam, segundo a mesma pesquisa. Outra pesquisa, da AtlasIntel/Bloomberg, registra 51,2% de aprovação e 48,1% de desaprovação.
“Maturidade exige coragem de inovar”
Para Baptistini, a experiência acumulada traz ao presidente um desafio adicional: manter a capacidade de autocrítica.
“Lula tem a rara autoridade de quem viu o Brasil de baixo e de dentro, e por isso fala com legitimidade social. Entretanto, sua trajetória recente mostra uma tendência ao pragmatismo excessivo, que dilui o sentido reformista de seu primeiro ciclo de governo”, avalia.
“No plano internacional, ele ainda é ouvido — sobretudo porque representa uma voz do Sul global —, mas seu discurso precisa reencontrar a coerência entre a crítica ao neoliberalismo e a prática de alianças conservadoras. A maturidade política só se realiza plenamente quando se conserva a coragem de inovar.”

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