Mandetta diz que alertou Bolsonaro sobre 180 mil mortes pela Covid; "reação negacionista e raivosa"
Mandetta diz que alertou Bolsonaro sobre 180 mil mortes pela Covid; "reação negacionista e raivosa"
O médico Luiz Henrique Mandetta voltou a ganhar os holofotes da imprensa. Durante participação de um programa de televisão, o ex-ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) disse que alertou o presidente sobre a possibilidade de o Brasil atingir o número de 180 mil mortes causadas pela Covid-19, mas recebeu uma reação "negacionista e raivosa" do governante.
"Eu nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele [Bolsonaro] eu mostrei, entreguei por escrito, para que ele pudesse saber da responsabilidade dos caminhos que ele fosse optar", revelou Mandetta durante o "Conversa com Bial", na madrugada desta sexta (25/9), na Rede Globo.
Segundo ele, Bolsonaro negou a gravidade da situação logo no início, chegando a ficar com raiva do Ministério da Saúde. "Foi realmente uma reação bem negacionista e bem raivosa. Eu simbolizava a notícia e ele ficou com raiva do 'carteiro', ficou com raiva do Ministério da Saúde", relatou.
Mandetta está lançando o livro batizado de "Um Paciente Chamado Brasil: Os Bastidores da Luta contra o Coronavírus" [Editora Objetiva], em que narra como o Ministério da Saúde tentou conter a pandemia da Covid-19 no Brasil durante a sua gestão, que terminou em 16 de abril de 2020, quando foi exonerado no meio da crise sanitária.
Na obra, o ex-ministro recorre ao conceito psiquiátrico das fases do luto para explicar a reação de Bolsonaro na pandemia. O livro fala sobre a negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. De acordo com Mandetta, após o presidente passar pela negação e pela ira, ele entrou na fase do apelo a algo sobrenatural. "Ele se apegou àquela cantilena de pessoas que vão ao seu redor e começam a falar o que ele queria escutar", lembrou.
"Me lembro de uma pessoa da saúde pública, um ex-parlamentar, que falava que só iria ter três mil óbitos e duraria só quatro semanas. Daí veio a história da cloroquina e foi uma válvula de escape para ele [Bolsonaro]. Foi do tipo 'eu tiro e coloco isso no lugar'", completou.
TEORIA DA CONSPIRAÇÃO
No programa também foi debatido uma afirmação presente no livro de Mandetta: a de que no início da pandemia, Bolsonaro estava absolutamente convencido de que o coronavírus era uma conspiração e uma arma biológica chinesa para levar a esquerda de volta ao poder na América Latina.
"Tem coisas que você não rebate. Você olha e fala: 'Até que se prove isso, vamos tratar dos fatos, vamos tratar da vida como ela é, vamos enfrentar o problema e depois a gente vê as teorias conspiratórias que são muito comuns'. A gente não deve embarcar nessas teorias", respondeu o ex-ministro.
Ao finalizar o assunto, Mandetta fez uma autocrítica sobre o seu desempenho como ministro da Saúde nessa história toda e revelou qual foi o seu maior arrependimento. "O meu grande erro foi não ter sido capaz de demonstrar para o presidente uma maneira mais convincente, que era a minha função, de demovê-lo daquele caminho e colocá-lo neste caminho para a gente andar [juntos]", disse.
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