Prefeitura de Salvador não atende recomendação do MP, faz leilão para área contígua a manguezal, mas certame não tem interessados
A venda do local foi alvo de protestos da sociedade civil, entidades de proteção ao meio ambiente, pesquisadores e da vereadora Maria Marighella (PT), presidente da Frente Parlamentar Mista Ambientalista da CMS
A Prefeitura de Salvador não atendeu a recomendação feita pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) e tentou realizar, nesta quinta-feira (27/1), o leilão de uma área contígua ao manguezal do Rio Passa Vaca, em Jaguaribe. Contudo, conforme apurou o Aratu On, ninguém apareceu para arrematar a localidade.
A venda do local foi alvo de protestos da sociedade civil, entidades de proteção ao meio ambiente, pesquisadores e da vereadora Maria Marighella (PT), presidente da Frente Parlamentar Mista Ambientalista da Câmara Municipal.
Especialistas consultadas pela reportagem alertaram para os problemas ambientais que uma eventual supressão vegetal da área traria para a cidade. Além do prejuízo “simbólico”, o desmatamento poderia favorecer a criação de mais uma ilha de calor no município – o fenômeno, como o nome sugere, cria locais mais quentes da cidade, em razão da falta de cobertura vegetal -.
O local, que é o último manguezal da cidade, é uma das poucas áreas remanescentes de mata atlântica no município. De acordo com dados apresentados em 2019 pelo Atlas da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Salvador ocupa a antepenúltima colocação em cobertura de mata atlântica entre as 16 capitais que ainda têm o bioma – só supera Belo Horizonte e Curitiba.
Com 3.429,76 hectares de remanescentes da vegetação, apenas 4,95% do território da cidade ainda preserva este tipo de floresta – duas delas na região do Passa Vaca: Vale Encantado e Parque de Pituaçu -.
Para a professora do mestrado de Ecologia Aplicada em Gestão Ambiental da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Margareth Maia, há indicativos de que a cidade pode enfrentar um colapso nos próximos anos.
“Tem um aplicativo da Nasa que aponta que, daqui a 30 anos, várias áreas de Salvador estarão cobertas por água em função do aumento do nível do mar. Salvador teria que estar se planejando. Recife fez isso há muitos anos e elaborou um plano efetivo de como se adaptar a esse novo quadro”, alerta.
Uma dissertação de mestrado também da UFBA aponta que a diferença de temperatura em Salvador, motivada pela falta de cobertura vegetal, chega a ser de até 10°C no mesmo dia e horário.
O Aratu On procurou a Secretaria da Fazenda (Sefaz), que, até a publicação desta matéria, não se posicionou sobre o tema.