Por erro da polícia, trabalhador é preso no lugar do irmão acusado de homicídio na Bahia; "medo de morrer e não resolver"
Antônio Bispo dos Santos, de 56 anos, viu sua vida virar pelo avesso ao descobrir que seu irmão, já executado, deu seu nome quando foi suspeito de um homicídio.
O medo, a incerteza e tristeza tomaram conta da vida do catador de reciclagem Antônio Bispo dos Santos, de 56 anos, preso por engano em Santo Antônio de Jesus, a 192 km de Salvador. Era para ser uma manhã de segunda-feira normal, mas, naquele 16 de agosto, sua esposa telefonou para avisar que a polícia estava na casa deles.
O catador correu para saber do que se tratava e, no local, foi abordado e conduzido para a sede da 4ª Coordenadoria de Polícia Civil do Interior (Coorpin). Na unidade, o trabalhador descobriu que estava sendo acusado de um homicídio duplamente qualificado, quando não há possibilidade de defesa da vítima, registrado em 2002 na cidade de Juazeiro.
Antônio nunca esteve em Juazeiro e, no mesmo instante, entendeu que se tratava de um engano. Ele estava sendo confundido com o irmão, Roque Bispo dos Santos, assassinado em 2009 após sair da penitenciária.
Roque acumulava passagens por roubo, agressão, ameaça, tentativa de estupro e tentativa de homicídio. Em 2002, fugindo da polícia, esteve em Juazeiro e executou um homem de prenome Moamilton. A motivação do crime ainda é desconhecida, mas os familiares da vítima acreditam que tenha se tratado de vingança, já que quando ainda era adolescente Moamilton havia cometido um homicídio na mesma rua onde foi morto e nunca respondeu criminalmente.
Na época, Roque foi associado ao crime e, de livre e espontânea vontade, procurou as autoridades. Entretanto, ele alegou não possuir documentação e deu o nome do irmão para ser datilografado. Depois disso, ele não retornou para prestar os depoimentos necessários e foi dado como foragido.
O Banco de Dados Operacional permitiu que a polícia solicitasse que aos cartórios baianos que emitissem alertas sobre o paradeiro de "Antônio". Quando o verdadeiro Antônio renovou a Carteira de Identidade, a polícia achou que encerraria o caso do homicídio de Moamilton.
O catador alega que é inocente. A versão dele é reforçada pela incompatibilidade das assinaturas dele com a do homem que se apresentou como Antônio em 2002. Dados como local e data de nascimento também são incompatíveis. Além disso, testemunhas narram que Moamilton foi morto por uma pessoa "galega". Antônio é negro.
Seu Antônio permaneceu preso por quatro dias, sem conseguir dormir, se alimentar ou até mesmo beber água. A advogada de defesa dele entende que a Polícia Civil errou em não coletar as impressões digitais do suspeito que se apresentou na delegacia sem documentação.
"Antônio está sobre a condição de liberdade provisória. A Justiça revogou a prisão e o liberou na condição dele não poder frequentar bares, festas, fazer empréstimos bancários. O objetivo é conseguir a extinção do processo contra seu Antônio", explicou, ao Aratu On, Edilene Argollo, que recolheu mais de duas mil assinaturas em um abaixo assinado.
O trabalhador diz que prefere passar fome a roubar algo ou cometer um crime. Ele sustenta que a família já sofreu demais com a conduta de Roque. "O meu medo é morrer sem que isso seja resolvido, que as pessoas achem que porque um irmão cometeu crimes o outro também cometeu", lamentou seu Antônio.
Em nota, a Polícia Civil disse que "a prisão em questão foi efetuada com base nos dados descritos no mandado de prisão expedido pelo Poder Judiciário, por meio da comarca de Juazeiro, referente ao crime de homicídio. Assim que recebido o contra-mandado, o homem foi imediatamente liberado. Cabe a Polícia Civil apenas cumprir a ordem judicial.".
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