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Planeta está virando 'grande cuscuzeiro', diz liderança indígena idealizadora de escola na Bahia

Yakuy Tupinambá criou, há oito anos, a Útero Amotara Zambelê, em homenagem à Amotara Zambelê, líder do Levante Tupinambá

Por Juana Castro

Planeta está virando 'grande cuscuzeiro', diz liderança indígena idealizadora de escola na BahiaCréditos da foto: Reprodução/Instagram

"Estamos sendo cozidos a vapor. Construindo nossa própria morte." A fala é da anciã indígena Yakuy Tupinambá, que vive no território ocupado historicamente pelo povo Tupinambá de Olivença, no município de Una, vizinho a Ilhéus, no sul da Bahia, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, divulgada nesta sexta-feira (19/4), Dia dos Povos Indígenas.


Ativista preocupada com os efeitos das mudanças climáticas, ela diz que mesmo perto do mar e "cercada por rio e manguezais", a impressão que tem é que o planeta foi transformado em "um grande cuscuzeiro".


Yakuy é a idealizadora do Centro de Pesquisa e Inovação Ancetral, uma espécie de laboratório de desenvolvimento humano e da biodiversidade no sul do estado, criado há oito anos. Ela chama o local de "escola viva" ou "útero", onde são ensinados os saberes dos povos originários.


"É uma escola viva que nasce da escuta e de uma percepção de mundo que tem a nossa ancestralidade como base. Precisamos escutar a Mãe Terra", falou à Folha, acrescentando que a proposta tem protagonismo feminino. "Temos uma parte institucionalizada, uma Organização Social Civil só de mulheres, dentro de um coletivo que tem mais de 60 pessoas."


O nome oficial do projeto da escola é Útero Amotara Zambelê, em homenagem à Amotara, líder do Levante Tupinambá, falecida em 2008. Ela também foi pioneira em reivindicar a devolução do Manto Tupinambá, então em posse do Museu Nacional da Dinamarca.


"Se hoje somos reconhecidos, é por causa dela. Amotara é a nossa mãe na contemporaneidade", afirma Yakuy. "Estamos reivindicando a regularização, uma luta de nós mulheres que começou no final da década de 1990", completa a anciã. O povo Tupinambá de Olivença foi oficialmente reconhecido em 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso.


Depois do estudo antropológico, com escuta dos mais velhos, além de escavações arqueológicas, começou o processo de demarcação. São nove fases, ao todo, restando agora a portaria declaratória e a homologação. "O que se escuta em Brasília é que só falta vontade política", declara Yakuy.


O ativismo da anciã baiana a levou ao Parlamento Europeu em 2008, e à 77ª Assembleia das Nações Unidas, a convite do Pacto Global da ONU, em 2022. ". "Fui a primeira ciberativista indígena. [...] Achei interessante o convite para participar de uma discussão de alto nível com líderes mundiais", comentou à Folha.


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