O MEDO DA TRAGÉDIA: Começou a temporada de chuvas na cidade. Quem protegerá o Marotinho?

O MEDO DA TRAGÉDIA: Começou a temporada de chuvas na cidade. Quem protegerá o Marotinho?

Por Da Redação.

O MEDO DA TRAGÉDIA: Começou a temporada de chuvas na cidade. Quem protegerá o Marotinho?André Uzêda

Depois do fim de linha de Bom Juá, na região acidentada do Marotinho, todo mundo sabe quem é Dona Maria. Espécie de porta-voz da comunidade, é a ela que os moradores recorrem quando os problemas se acentuam. Após uma rápida procura, nossa reportagem a encontrou conversando com uma colega, justamente, sobre formas de evitar novos acidentes diante da temporada de chuvas que se aproxima na cidade.

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Aos 62 anos, Dona Maria foi a principal responsável pela implantação do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), na comunidade onde vive desde 1981. Junto com a coordenadora, Marineusa Machado, ela se dedica a fazer com que os moradores se envolvam no diálogo com o poder público, através de cursos, palestras e reuniões. O objetivo é criar soluções para os inevitáveis problemas vividos por eles, como os riscos de deslizamento de terra durante os meses chuvosos.

Em 27 de abril de 2015, o Marotinho foi palco da morte de quatro pessoas. Todos da mesma família — outros dois morreriam dias depois vítimas das sequelas dos soterramento. No mesmo dia, no Barro Branco, outras 11 pessoas também seriam vítimas do soterramento de terra em um dia fúnebre na história de Salvador.

 

A época de chuvas, que se abre com as águas do mês de março e se arrasta até meados de maio, representa sempre um período de receio para as casas do Marotinho. Desde aqueles dias os moradores sabem que a chuva significa medo.

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Dona Maria, sua comunidade e o poder público tiveram que se articular muito bem entre si para evitar novas catástrofes, desde aquele episódio sombrio. ?Ela e a Codesal [Comissão de Defesa Civil de Salvador] são unha e carne?, ilustra Marineusa, outra moradora. Ao citar de passagem o órgão da Defesa Civil responsável por monitorar as áreas de risco da capital baiana, com 38 pluviômetros instalados na cidade e com seu próprio centro de comando e controle, a coordenadora do CRAS ajuda a reportagem a lembrar as ações que o governo tem tomado para se prevenir de novas mortes por conta de deslizamentos de terra.

Dona Maria ensina a ler os cálculos feitos pelo pluviômetro, na sede do Centro de Referência da Assistência Social do Marotinho | Imagem: Aratu Online

?Antever o problema é o principal benefício para que o gestor possa tomar uma boa decisão?, explica o subcoordenador do centro de monitoramento e alerta e alarme da Codesal, Ricardo Souza Rodrigues. Em meio a vários telões e computadores, o metereorologista é um dos únicos autorizados a pressionar um botão capaz de soar sirenes distribuídas nas áreas de risco da cidade. Junto a ele, uma equipe de 14 pessoas — entre geólogos, técnicos e outros metereologistas — integram o centro, que busca prever e identificar o que está acontecendo nos morros e encostas da cidade. ?Não é gente o suficiente?, esclarece.

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Apesar disso, o trabalho de monitoramento é uma das principais formas encontradas pela cidade de lidar com o problema. A Operação Chuva, anunciada há duas semanas pela Prefeitura, vai investir um total de R$ 279 mil na prevenção de desastres como deslizamentos de terra. Uma parte do plano é implantar mais duas sirenes em bairros afetados, que avisam se a situação for crítica e se tonar necessário correr da região. ?É mais ou menos um ?sai daí, se não você vai morrer??, graceja Ricardo, num momento de inesperada espontaneidade. Até o momento, seis já funcionam.

Instalado para a Copa do Mundo de 2014, o Núcleo de Operação Assistidas é um dos centros de comando e controle que ajudam a Codesal a vigiar áreas de risco | Imagem: Reprodução/ Iano Andrade/ PR

Uma destas fica, justamente, no Marotinho, onde também está instalado um pluviômetro que mede a dimensão das chuvas, que podem ir de garoas fininhas a tempestades destruidoras. O aparelho fica na sede do CRAS, de onde Dona Maria o poder ler e analisar atentamente. É tudo o que a veterana do bairro pode fazer, além de intermediar a relação entre a comunidade e o poder público.

EXPLICAÇÕES

Se na localidade do Barro Branco, na San Martín, uma obra de contenção já foi finalizada, os moradores do Marotinho convivem com uma lona impermeável, preparando a encosta para uma intervenção ainda por vir. A demora é justificada pela Prefeitura pelo aguardo da liberação dos recursos federais. O Governo do Estado, no ano passado, investiu um total de R$ 236 milhões para a recuperação de 109 áreas de risco em Salvador e Candeias, mas a reportagem não encontrou o total dos investimentos do governo para este ano.

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