Metade das crianças pobres não sabe ler ou escrever, diz pesquisa; analfabetismo infantil foi agravado pela pandemia
Dentre as crianças mais pobres, o percentual das que não sabiam ler e escrever aumentou de 33,6% para 51,0%, entre 2019 e 2021. Dentre as crianças mais ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%.
O número de crianças que não aprenderam a ler nem a escrever saltou de 1,4 milhão em 2019 para 2,4 milhões em 2021. Isso é o que aponta a nota técnica “Impactos da pandemia na alfabetização de crianças”, do Todos Pela Educação, divulgada na quarta-feira (8/2). A estimativa é que o aumento foi de 66,3%.
Quando precisou ficar em casa por conta do distanciamento social – imposto com mais força no início da pandemia –, a fisioterapeuta Marianna Carvalho, 31, teve que se colocar no lugar das professoras da filha, que estava no período de alfabetização, Anna Vitória, de seis anos, e cuidar para que ela não ficasse ainda mais prejudicada por conta da suspensão das aulas presenciais.
E graças à mãe, a pequena Anna, felizmente, não entrou nos dados que apontam um aumento de 1 milhão entre as crianças com idade semelhante à dela que não aprenderam a ler nem escrever durante a pandemia. Mesmo com auxílio da escola que mandava os exercícios, Marianna ainda sentia que era insuficiente. “Para mim ainda era pouco. Por isso, usei o recurso da internet para buscar alternativas para ela começar a desenvolver a escrita, a leitura e treinar as habilidades já conquistadas antes da pandemia”, conta.
DIFERENÇAS
Falta de equipamentos em casa como computadores, notebooks ou tablet, ou até mesmo de internet contribuíram para o afastamento de muitas crianças da escola. A nota técnica mostrou que dentre as crianças mais pobres, o percentual das que não sabiam ler e escrever aumentou de 33,6% para 51,0%, entre 2019 e 2021. Dentre as crianças mais ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%.
A pandemia também contribuiu para a disparidade de aprendizagem entre crianças brancas e crianças pretas e pardas. “Os percentuais de crianças pretas e pardas de 6 e 7 anos de idade que não sabiam ler e escrever passaram de 28,8% e 28,2% em 2019 para 47,4% e 44,5% em 2021, sendo que entre as crianças brancas o aumento foi de 20,3% para 35,1% no mesmo período”, diz o documento.
Em texto publicado no site do Todos Pela Educação, o líder de políticas educacionais da instituição, Gabriel Corrêa, explica que o aumento da disparidade fica ainda pior quando olhado pela perspectiva de que ele agrava problemas históricos da educação brasileira.
“A alfabetização na idade correta é etapa fundamental na trajetória escolar de uma criança, e por isso esse prejuízo nos preocupa tanto. E porque os danos podem ser permanentes, uma vez que a alfabetização é condição prévia para os demais aprendizados escolares. Precisamos urgentemente de políticas consistentes para a retomada das aulas, para que essas crianças tenham condições de serem alfabetizadas e sigam estudando. É inadmissível retrocedermos em níveis de alfabetização e escolaridade”, afirma.
Para chegar aos números reunidos na nota, o Todos Pela Educação utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), de 2012 a 2021, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que questionou durante a pesquisa aos pais e/ou responsáveis se suas crianças sabiam ou não ler e escrever.
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