Graça Foster admite que encontrou ex-gerente, mas diz que não foi omissa
Graça Foster admite que encontrou ex-gerente, mas diz que não foi omissa
A presidente da Petrobras, Graça Foster, admitiu que encontrou pessoalmente “algumas poucas vezes” a funcionária Venina Velosa da Fonseca, que afirma ter feito denúncias de irregularidades na área de abastecimento da companhia, mas negou que tenha sido omissa na apuração de supostos desvios apontados pela ex-gerente.
A executiva afirmou ainda que a ex-gerente pediu para ir Cingapura ?onde tinha uma remuneração “muito maior” do que da própria presidente da empresa?, e que ela não foi “afastada” do país nem alvo de assédio.
Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, no domingo (21), Venina havia dito que as irregularidades eram de “vários tipos”, como pagamento de serviços não prestados, contratos “aparentemente superfaturados” e negociações nas quais eram pedidas “comissões” por empregados da companhia.
“Venina nunca fez nenhuma denúncia usando as palavras conluio, cartel, corrupção, fraude e lavagem de dinheiro. A Venina nunca fez nenhuma denúncia na diretoria sobre essas questões. Ela nunca falou nesses termos. Eram e-mails truncados, cifrados e muito misturados”, disse Graça, em entrevista à Folha e ao jornal “O Globo”.
A presidente da estatal disse ainda que Venina “não era explícita” em e-mails nos quais falava em irregularidades em licitações e que nos “poucos” encontros pessoais a ex-gerente nunca apresentou denúncias concretas.
A executiva nega omissão no caso. “Eu não fui omissa. Definitivamente, não fui omissa. Eu tenho feito mudanças sucessivas na companhia junto com diretores na busca de melhores controles.”
Segundo Graça, Venina nunca mencionou superfaturamento. “Ela nunca [Venina] disse para a diretoria da Petrobras: diretoria da Petrobras, vocês estão cometendo superfaturamento, vocês estão sendo corrompidos ou estão corrompendo.”
Segundo Graça, ao ir para Cingapura, a executiva manteve seu salário de gerente-executiva (um posto abaixo ao de diretor), de R$ 69 mil, e teve um adicional de R$ 54.400 por estar em Cingapura (para cada país há um valor diferenciado).
Além disso, poderia receber até o teto R$ 43.800 para cobrir despesas de aluguel e tinha 90% da escola das duas filhas custeados pela estatal. Ao todo, sua remuneração poderia chegar a R$ 167.342. “É muito mais do que eu ganho”, disse Foster.
A ex-gerente dissera que havia sido afastada do convívio de amigos e família e que foi pressionada a fazer “coisas fora do código de ética da empresa.”
PRIMEIRO ENCONTRO
O primeiro encontro entre as duas foi em 2009, segundo Foster. O motivo foi o resultado de investigação interna conduzida pela funcionária na área de comunicação da diretoria de Abastecimento, quando foram constatadas despesas de R$ 58 milhões sem justificativa.
Essa auditoria culminou com a demissão por justa causa do gerente da área, que só ocorreu no ano passado porque o funcionário estava em licença médica desde de 2009.
Venina procurou Graça para entregar documentos dessa investigação. “Olhei, folheei, e entreguei na mão do Paulo Roberto [Costa, ex-diretor de Abastecimento, que fez denúncias de corrupção em delação premiada]. E falei: Paulo, a Venina está muito triste, soube até que ela estaria indo para Cingapura [onde ficou num primeiro período de estudos, entre 2009 e 2010].”
Na ocasião, Graça disse ter visto a funcionária “entristecida”, preocupada com a questão da área de comunicação e com a ida para o país asiático por causa da adaptação de suas duas filhas pequenas ?na ocasião elas tinham 5 e 7 anos. Não houve, porém, relato de assédio moral, segundo a presidente. “Vi a Venina emocionada e muito triste. Havia uma ruptura entre ela e o Paulo Roberto.”
A presidente da Petrobras ressaltou que Venina trabalhava com Costa desde 1999. Afirmou que ela sempre “foi de muito trabalho” e “determinada”. Negou, porém, ser próxima a ela. Tampouco se definiu como sua amiga, embora tenham trabalhado juntas na área de gás e energia, ambas como gerentes.
Na entrevista à TV no domingo, Venina disse tinha “muito acesso” a Graça e que elas eram “‘próximas”.
Segundo Graça, em julho de 2012, o cargo de diretor do escritório de Cingapura ficou vago, e Venina pediu para ocupá-lo ao atual diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza. O executivo informou à presidente da estatal sobre a vontade da funcionaria e obteve sua concordância para nomeá-la.
“Ela ficou lá até o dia 19 do novembro de 2014, no comando geral do escritório. E, até onde chegou para mim, ela fez um bom trabalho, o que era esperado. Mas ela pediu [para assumir o posto, diferentemente do que afirma a funcionária].”
De acordo com Graça, Venina ficaria dois anos em “missão” no país asiático. Primeiro, pediu para permanecer mais um ano, após esse prazo. Graça concordou. Depois, diz, a ex-gerente mudou de ideia e quis regressar porque teria relatado problemas com uma das filhas.
Ela perdeu o cargo no dia 19 de novembro e voltou ao Brasil na semana passada. No dia 20, enviou e-mail à presidente da estatal. Só nesse comunicado, segundo Graça, é que foram feitas denúncias concretas.
Graça nega que a Petrobras tenha dificultado sua volta ?custeada pela companhia nas condições que a funcionária pediu, segundo a presidente da estatal. Com a perda do cargo de gerente, ela perdeu adicional estimado em 40% do salário, e hoje exerce a função de geóloga na área de Abastecimento, como técnica em comercialização de combustível para navio.
IRREGULARIDADES EM LICITAÇÕES
Antes de ir para Cingapura, Venina enviou um e-mail a Graça em outubro de 2011, no qual falava em irregularidades em licitações, que estavam sendo “esquartejadas” e eram ineficientes. Naquele momento, a presidente da estatal disse já saber que seria indicada ao cargo ?no primeiro ano do governo Dilma.
A informação já havia vazado na estatal e na imprensa. Foster disse não saber se esse fato influenciou na decisão de Venina relatar as supostas irregularidades.
Para Foster, as afirmações eram vagas e não deixavam claro supostos atos de corrupção ou outros crimes. “Esquartejamento e ineficiência não é indício de irregularidade. Mas os assuntos que ela tratava ali [licitações ineficientes] eram altamente discutidos na diretoria. Atrasos existem porque os preços são excessivos e vem acima do estimado e faz-se outra licitação.”
O objetivo de sua gestão, diz, foi combater combater atrasos, reduzir prazos e custos de projetos.
Logo após assumir a presidência em fevereiro de 2012, Graça relatou um novo encontro com Venina, a pedido da ex-gerente. Nesse contato, diz, a funcionária, mais uma vez, não falou de atos supostamente ilícitos nem irregularidades. Tratou apenas, segundo a presidente da Petrobras, do “futuro”, com sugestões de como melhorar processos, cortar custos, reduzir prazos e de uma maior participação dos técnicos nos projetos da estatal ?sugestões alinhadas como o que Graça desejava implementar na companhia.
“Nunca [foi dita] a palavra corrupção nem lavagem de dinheiro. Só escutei tudo isso da delação premiada [do Paulo Roberto Costa, que veio a público em outubro].”
Graça disse ainda não ver “incômodo” se for convocada para depor no Ministério Público Federal em razão das denúncias de Venina. Afirmou ainda que a empresa “precisa de mais controles” e “barreiras mais fortes”, dado o crescimento de suas contratações nos últimos anos.